quarta-feira, 26 de outubro de 2011

2 anos

O meu mais velho fez 2 anos na semana passada, e parece impossível pensar que sou mãe apenas há 2 anos.
2 anos de maternidade ensinaram-me:
  • a conviver com o sentimento de culpa. Estranho, mas de todas as coisas, esta é a que me vem à cabeça primeiro. Culpa, culpa, culpa. De estar presente, de não estar, de ler uma revista, de ir buscar mais tarde, de deixar de amamentar, de esquecer disto ou daquilo, de estar grávida enquanto ele aprendeu a andar, de ter outro bebé sendo o primeiro tão pequeno, culpa por tudo e por nada. Avisaram-me de muuuitas coisas antes de ser mãe, deste sentimento de culpa, ninguém me falou.
  • a transferir o epicentro da minha vida para eles - a minha vida gira em roda deles, e eu e o pai vimos sempre depois
  • a não julgar os outros pais. Pais de meninos que fazem birras, pais que ralham demais, pais severos, pais relaxados - não julgo ninguém. Sei que tenho também a minha parte de defeitos apesar de estar sempre a dar o meu melhor - imagino que os outros pais também estão a fazer o mesmo, e que alguma coisa no percurso os fez actuar assim.
  • na mesma linha do anterior, a não cuspir para o ar, pois as nossas convicções acabam por cair por terra, e se não o fazem é apenas por pura sorte. Podemos ter muitas intenções - não o vou adormecer ao colo, filho meu não janta em frente à tv, nem come doces antes dos 10, vou amamentar em exclusivo até aos 6 meses, you name it - se lhes der para ser do contra, tudo isto cai por terra e lá andamos nós a fazer o que jurámos não fazer.
  • a não me importar quando faço aquilo que jurei não fazer, porque faz parte.
  • que ser pai e mãe não é algo que depende só de nós - eu não sou apenas mãe, sou mãe apenas dos meus filhos,e se fosse mãe de outros quaisquer, seria diferente com certeza
  • que ser pai e mãe não se pode planear à distância, que vamos planeando à medida que nos deparamos com as coisas
  • que os filhos, uma vez paridos, não nos pertencem, pertencem ao mundo
  • que ser mãe pode ser muito difícil, mas também pode ser muito fácil
  • a planear, organizar, esquematizar, fazer listas, pensar sempre em tudo antes de sair de casa
  • a conviver com o medo. Medo de os perder, medo que lhes aconteça alguma coisa. A pegar nesse medo e embrulha-lo no fundo do meu ser, porque não posso ficar com eles debaixo da asa todo o tempo
  • a dormir pouco, a comer de pé, a tomar duche a correr, a interromper o que estou a fazer vezes sem fim, a mudar de planos à última hora
  • que vai sempre haver alguma coisa que falha, alguma coisa que se esquece, alguma coisa que falta

8 comentários:

  1. So, so true!
    Gostei muito!
    Beijinhos

    Cristina

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  2. Assino por baixo. É uma lufada de ar fresco ler uma mãe que diz a verdade sobre a maternidade. E, estranhamente ou não, também é o sentimento de culpa que me vem à cabeça quando me questiono o que muda/mudei depois de ser mãe.

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  3. Mary,

    Enquanto mulher-ainda-não-mãe, gostei muito de ler este post. Percebi tudo, mas sei que vou perceber muito melhor quando tiver filhos e passar pelas coisas na pele.

    Considero os seus pontos como sobreavisos.

    Muito obrigada :)

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  4. De todos os pontos da lista identifico-me mais com o medo que aconteça alguma coisa e também algum sentimento de culpa, mas não nessa quantidade avassaladora. Credo!

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  5. Mãe medrosa27/10/11, 03:38

    Estou com a Raquelinha neste ponto, para mim o medo vem primeiro que a culpa. E, claro, além do medo irracional de os perder (acompanhado da certeza de que não me pertencem) vem também o medo de não ser suficientemente boa para eles. Quando trouxe o meu 1º filho para casa, o meu pensamento foi Meeeeedo! Quem disse que eu vou ser capaz? Quem foi o irresponsável que me pôs esta criança nos braços? Eu não sei ser mãe! E esse medo acompanha-me porque eles vão crescendo e eu sei que não vou saber ser mãe de um adolescente. Portanto, concordo contigo que não se pode planear e que vamos aprendendo a ter jogo de cintura para ir fazendo o nosso melhor. Mas é tão bom ser mãe, é a melhor coisa do mundo! Agradeço a Deus todos os dias por me ter dado 3 filhos e esta vida que eu tenho (momento lamechas). Chuif.

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  6. Ora bem, da minha experiência de 23 dias posso dizer que... bem, não posso dizer grande coisa!
    MAs que acho que a L me pertence a mim e à mãe, pelo menos enquanto não sair de casa para conhecer o mundo, hehe.
    E concordo com o cuspir para o ar, há sempre que condicionar o discurso. O facto de estar profissionalmente preparado para ter todas as portas abertas ajuda-me a ter opiniões convictas que não chegam a ser escarretas!...

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  7. Concordo com tudo! E sei que me compreendes muito melhor desde há 2 anos... o que é otimo pois já não me fazes sentir ridicula porque tenho culpa, porque tenho medo, porque sim e porque não, porque eles não nos pertencem , porque acho não há melhor experiência no mundo! Mas tenho algo a acrescentar ao teu post! A certeza de que cada um deles é parecido mas ao mesmo tempo completamente diferente dos outros e que a experiência que ganhamos com um pode não nos servir de nada com os outros. Eu tinha esta desconfiança ao 3º, ao 4º fico com a certeza... e fico com a certeza que ao sermos pais descobrimos uma capacidade inimaginável para fazer o impossível e nos tornamos muito menos egoístas...

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  8. A questão da culpa surge em primeiro, não por sentir mais culpa do que medo, mas porque medo de os perder já eu esperava ter, mas a culpa, foi para mim uma novidade - e por isso, uma aprendizagem.
    Naish: quando o meu mais velho tinha 23 dias já eu tinha aprendido metade do que aqui está!

    Mais um ponto a acrescentar:
    - aprender a viver com as dúvidas, muitas dúvidas.

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