quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Trunfos

Grande parte da harmonia familiar desta casa deve-se ao profundo sentido de justiça com que encaramos a nossa relação. Um namoro/casamento constrói-se à base de cedências de ambas as partes - de pôr de parte a nossa própria vontade em função do outro.
Entre nós a coisa resolve-se à base de trunfos.
Aquele que cede fica em posse do trunfo, que pode usar como bem quiser.
Pode-se ter mais do que um trunfo ao mesmo tempo, mas os trunfos apenas podem estar na mão de um de cada vez. A situação ideal é quando ficamos quites.
O trunfo pode ser tudo e mais alguma coisa, e quem tem trunfo pode escolher como o usar como bem lhe apetecer.
Um trunfo pode significar um jantar pago, uma massagem nos pés, um copo de água, uma ida ao lixo, um serão a dobrar meias...

Desde o primeiro fim-de-semana de Novembro que o trunfo estava na minha posse: adquiri-o com uma ida ao Cascaishoping em pleno domingo à tarde, num dia de Verão, no nosso mini fim-de-semana em Portugal (numa estratégia familiar bastante bem montada há-que admitir...).
Ontem foi a vez dele.

Fui jantar a casa de uma amiga. Só lá tinha ido uma vez há um mês atrás numa festa.
Revi o caminho para sua casa na net e lá fui. Um agradável jantar, óptima conversa, e passava pouco das 23h quando resolvi regressar a casa (o T. acabava de chegar a casa do trabalho).
Lembro-me que quando foi da festa regressámos a casa por um caminho diferente do da ida.
Não sei dizer exactamente o que fiz mal e qual foi o meu erro. Sei que quando dei por mim estava num sítio completamente diferente, onde nunca tinha passado antes, sem ter a menor noção de onde estava. Resolvi ligar para casa de um cruzamento entre duas ruas para o T. me dar indicações. Se já estava confundida, pior fiquei... "Estás a ver uma praça?" (não!) "passaste por uma rua com galerias de lado?" (também não) "Segue em direcção ao centro!" Eu sabia lá onde fica o centro! "Vai na direcção oposta àquela de onde vinhas!" Mas como sabia ele em que direcção vinha eu?! O fundo do poço foi quando percebi que estava perto do Ring - uma espécie de autoestrada que delimita a cidade. Quase meia-noite, zero graus, chuva miudinha, e lá ia eu na minha bicicleta sabe-se lá para onde. As lágrimas caíam-me pela cara abaixo enquanto pedalava. Um desespero.
E dado o meu sentido de orientação e a capacidade dele como co-piloto à distância o desfecho não é difícil de prever. Regressei à estaca zero, fiquei na esquina entre a Admiraal de Ruitjerweg e a Bos en Lommerweg à espera que ele (acabado de chegar a casa, de banho tomado, pijama vestido e sentadinho no sofá à minha espera) me viesse buscar.
E isto meus senhores, vale trunfo.

ADENDA: o trunfo já foi pago.
O T. trocou-o por um lanche feito por mim - leia-se um copo de leite com chocolate e uma torrada com manteiga. Valia muito mais do que isso, mas o meu amor é um homem de gostos simples! Eh eh eh

5 comentários:

  1. Foi bem merecido o trunfo sim senhora!!! Mary, acho que devias começar a decorar alguns pontos de referência quando saires de casa sozinha ;)
    Bjs

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  2. Há uma coisa chamada GPS... diz que funciona...é de ir às lágrimas!

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  3. Claro que o teu homem vale ouro. Essa já eu sabia há muito tempo! (e é por te conhecer tão bem...)

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