Agora sim, parece que tudo é mais real.
Até aqui poderia ser apenas uma ideia, um projecto. Agora é mesmo a valer, não há volta a dar. Ponto sem retorno.
E foi difícil.
Hoje contei ao L. que nos vamos embora, e que não vou querer renovar o meu contrato.
O L. é aquilo que se pode chamar o protótipo do anti-chefe. Foi das primeiras pessoas que conheci quando fui à entrevista, lembro-me que levava o nome dele escrito num papel para não me esquecer (e esse dia aconteceu noutra vida...há tanto tempo). Imaginava-o o típico executivo de fato e gravata, e pasta a condizer. Apareceu-me um latino-americano de crista no cabelo, pêra, argola na orelha e ténis. Houve ali uma identificação imediata. Diz ele que escolhe as pessoas com quem trabalha nos primeiros 10 segundos depois de as conhecer. Eu lembro-me de sair da entrevista a pensar que tudo o que podia ter corrido bem tinha corrido bem. Depois acabei por não ficar com o lugar naquela altura, mas sei que não foi por acaso que passei mais dois ou três meses sem receber nenhuma resposta de trabalho. Estava destinado que eu pertencia àquela equipa. A sensação que tinha tido durante a entrevista não fora em vão.
Durante 1 ano trabalhamos juntos, e claro, chefe é chefe e também ele tem as suas pancadas, mas à medida que nos fomos conhecendo fomos sempre descobrindo pontos em comum. Em algumas coisas somos de facto muito parecidos.
Por tudo isto eu sabia que não ia ser fácil. Sei que para ele foi uma completa surpresa, mas tentei a todo o custo que ele soubesse que para mim também não vai ser fácil deixar tudo isto para trás, deixa-lo a ele e à nossa equipa nuclear (a primeira de todas, apesar de já não ser a actual). E dói-me pensar que havia projectos para mim, e que apesar de tudo, eu falhei as suas expectativas.
Não tenho de me sentir culpada por isso (e não sinto), porque sei (tenho a certeza absoluta) que estamos a tomar a decisão certa, mas não deixo de ter a sensação de estar a causar uma desilusão.
E hoje desiludi um amigo.
Esta experiência tem muito de Erasmus, mas não é um Erasmus.
Já não tenho a idade que tinha quando fiz o Erasmus. Estou cá também há tempo suficiente para de facto aprofundar as relações e criar laços. Nada disto tem a "leveza" (já pesada) do Erasmus. E também não tenho a inocência do Erasmus, de acreditar que vamos todos ficar amigos para sempre, e que nos vamos visitar e manter o contacto.
É muito difícil tomar estas decisões. É duro e triste.
Mas são todas estas experiências que nos enriquecem também.
E eu não trocava esta riqueza por nada.
Nada.
Não é fácil ser adulto (ou quase adulto), mas cruel, cruel é mesmo sentir que estamos a perder a inocência e a leveza da juventude.
ResponderEliminarMaria João dixit...
ResponderEliminarPois é... 15 são 15 mas.. já lá vão quase 30...! E a vida é assim mesmo, cheia de alegrias e tristezas... se assim não fosse era uma monotonia! Viver é isso mesmo.
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