sábado, 9 de fevereiro de 2008

Crónicas dos primeiros tempos - a chegada

Os nossos primeiros dias na Holanda foram no mínimo insólitos.
Aliás é assim para toda a gente, todos temos uma história para contar de quando cá chegámos. Esta é a nossa.

Chegámos a Rotterdam numa 5a feira à noite, sem sítio para ficar, apenas com umas folhas imprimidas da net com umas pousadas de juventude e afins.
Não podemos nunca obrigar ninguém a acolher-nos na sua casa, e a verdade é que a nós ninguém nos acolheu. E mais não digo.

Parámos em frente à Central Station para perguntar onde podíamos ficar e fomos parar à Witte de Withstraat ao Homehotel.
Nesse momento começou o stress do carro e das coisas que tínhamos trazido. Que fazer? Levar tudo para o quarto? Deixar o carro carregado? Optámos por um bocadinho das duas, e esvaziamos o carro até à metade, até conseguirmos fechar a tampa.



Estávamos na Holanda!
Era todo um mundo de possibilidades que se abria à nossa frente. Acontecesse o que acontecesse tínhamos conseguido pegar na nossa vida e fazer dela o que quiséssemos. E isso era o mais importante.

No dia seguinte pusemos pernas ao caminho e calcorreámos a cidade toda em busca de um hotel barato para ficar nos primeiros tempos.
Apanhámos uma chuvada descomunal, ficámos molhados até aos ossos e cheios de frio. Pode-se dizer que foi um dia bastante deprimente.
Comemos nesse dia os restos que sobraram da viagem, um resto de bola e panados que já tinham visto melhores dias, e leites com chocolate do Lidl, pois tudo o que víamos nos parecia caro e não tínhamos ideia de quanto dinheiro iríamos precisar no futuro.

De quanto dinheiro se precisa para começar uma vida nova? Ninguém sabe, e nós nessa altura (como agora!) não tínhamos a menor noção.

Andámos de pousada em pousada e nenhuma tinha quartos disponíveis ou adequados.
Lá conseguimos encontrar uma na Delfshaven, o bairro antigo de Rotterdam, com preços acessíveis, chamada Short Stay Acomodations (mais tarde íamos perceber a razão do nome) cujos donos eram do Suriname, e era super simpáticos e acolhedores. Lá fomos buscar o carro mais as 1000 tralhas (e se o arrependimento matasse tínhamos morrido mesmo ali) e lá subimos e descemos a escadaria íngreme vezes sem conta.

O quarto tinha um beliche e uma cama, com casa de banho (em separado como é típico cá, ou seja, WC para um lado e duche para o outro) ao fundo do corredor e cozinha. No nosso andar estavam também um hippie dos seus 60 anos cheio de tatuagens e dois inter railers. A higiene não era, digamos que, o forte do local, mas entre uma coisa e a outra lá nos amanhámos que também não somos muito esquisitos com essas coisas.


Nesse dia começou o frio. Um frio gélido, como nunca mais voltámos a apanhar cá.
E nesse dia apercebemo-nos que tudo ia correr bem, mas que se calhar não ia ser tão fácil como tínhamos imaginado.

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