segunda-feira, 23 de abril de 2012

Regresso a Amsterdam

Foi a primeira vez, e quem sabe a única em muito tempo, que fiquei tantos dias (5) longe da minha descendência.
Tal como previsto, nos dias anteriores quase morri com a perspectiva da separação.
Mais valia arrancarem-me o coração à colherada, que me teria custado menos.
Como o avião era cedo, dormiram nos avós logo na noite anterior (onde ficaram aliás toda a semana, só com os avós nessa noite, com o pai também nas que se seguiram), e eu fiz questão de os adormecer e de sair apenas e só depois de estarem ferrados.
Custou-me como só eu sei. Saí de lá de rastos.
Mas ao fechar a porta de casa pensei "se tem mesmo de ser, então ao menos vou aproveitar".
Não podia dizer que não ia, e ficar a morrer de amor não me levava a lado nenhum.
E depois, quem é a mãe que não deseja secretamente uma semana sem ter de pensar em jantares, dar banhos, tratar de roupas, com o tempo só para si?
Sei lá eu quando volto a ter uma oportunidade destas!

As últimas 3 vezes que fui a Amsterdam - Abril de 2009, Junho 2010, Outubro 2010 - estava ou grávida ou com um bebé nos braços - ou seja desde Setembro de 2008 que eu não ia lá sem ser no papel de mãe.
Foi, sem dúvida, o verdadeiro regresso da Mary-de-Amsterdam.
Com tudo o que tenho direito, para o bem e para o mal.
Para o bem: andei de bicicleta naquela cidade linda de morrer, saí do trabalho e fiz o que me apeteceu, jantei com amigos, tomei cervejas a por a conversa em dia, bebi café com outros amigos, fiz compras, fui às minhas lojas preferidas, bebi capuccinos da máquina do escritório, conheci os meus colegas novos, fiquei na conversa até altas horas da noite, li um livro e várias revistas, fiz o que me apeteceu (sim, outra vez).
Para o mal: andei de bicicleta contra o vento e à chuva (e só quem o fez antes de ir trabalhar sabe ao que me refiro), apanhei um frio do caraças com graus negativos e tudo, tive de trabalhar num escritório como toda a gente e não no conforto da minha casinha, apanhei comboios que invariavelmente se atrasam, assumi todos os meus comportamentos alimentares de quando lá vivi que inclui beber 5 ou 6 capuccinos (sendo que a máquina de café da altura era uma Senseo (acho) - paz à sua alma - e agora é uma Nespresso - viva o upgrade! - o que me fez andar acelerada todo o tempo), comer sandwiches e sumos do Albert Hein e outras coisas saudáveis tipo batatas fritas, chocolates e tudo o mais, que eu não engordei 8 kilos nos 2 anos que lá vivi por causa da água da torneira da Holanda.

E sim, claro que tive muitas saudades (chegava quase a doer mesmo), mas sim, também me soube muito bem.
Pela primeira vez (e quem sabe a única em muito tempo) pude regressar à vida despreocupada de solteira, a quando o tempo era o que eu fazia com ele, a quando não tinha ninguém à minha espera nem a precisar de mim.
Foi sem dúvida um salto no tempo, o verdadeiro regresso ao passado.
E foi mesmo giro.

Mas o melhor de tudo foi ver duas cabeças com cabelos aos caracóis à minha espera no aeroporto, e ver a alegria deles por me ter de regresso.
Impagável.
Quem quer ser a Mary-de-2007 quando pode ser a Mary-de-2012?

4 comentários:

  1. Que maravilha! Estive aqui a espremer o cérebro e não sei se isso alguma vez me aconteceu, talvez uns dias esporádicos em que os 3 filhos estão de férias no Alentejo e eu ainda em Lisboa a trabalhar, mas não me lembro de ter aproveitado tanto (se calhar por estar na mesma em casa)! Mas percebo tal e qual o teu sentimento! O nosso eu solteiro era tão cheio de si próprio e fazia tantas coisas interessantíssimas, que realmente nos deixam saudades, mas... o nosso eu que é mãe é milhões de vezes mais feliz ou por outra é feliz com mais sentido!

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  2. Que maravilha de cidade, Amsterdão! Visitei-a agora pela primeira vez e estou apaixonada :)

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  3. Estou ligeiramente invejosa.

    Já lá fui, há milhões de anos atrás. Adorei.

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