Não, não é um jogo para substituir o Verdade ou Consequência (se bem que até tem potencial), é uma dica aprendida no workshop da Magda, a que assisti na semana passada.
Já tinha ouvido teorias anti-castigo e anti-palmada, e claro, a reacção é sempre pensar que ah e tal isso funciona é com os filhos dos outros, isso com os meus não funciona de certeza (que é um bocadinho para justificar que damos a palmada mas com certeza qualquer pai faria o mesmo na mesma situação).
Ora, a diferença entre o castigo e a consequência é subtil, e no workshop até levantou algumas dúvidas.
Mas é uma diferença que pode fazer toda a diferença.
Dar uma palmada (sem magoar, obviamente) ou pôr de castigo não é nenhum drama, mas também... não funciona.
True story.
Um casal no workshop questionou a Magda a respeito da sua filha de 2 anos e meio que batia forte e feio na irmã e de seguida ia logo por-se a si mesma de castigo, sentada nos degraus. Já a minha sobrinha-afilhada com essa idade fazia asneirada e dava logo uma palmada na mão a si mesma a dizer "feia feia feia, tau tau", para ficar despachada (tinha taaaanta graça!).
Ora, estão a funcionar os castigos e as palmadas nestes casos? Não estão.
A consequência, ao contrário do castigo, é mais prática e relaciona-se directamente com a asneira/birra que estão a fazer. Em vez de os sentar no castigo ou chegar-lhes a roupa ao pêlo (adoro esta expressão) o truque será tirar/deixar de fazer qualquer coisa de que eles gostam.
O importante é que aprendam alguma coisa, que um comportamento leva a outro, que há consequências para os seus actos.
A grande diferença - a consequência, tal como o nome indica - é para levar até ao fim.
Ou seja, se dizemos "se atiras com os brinquedos para o chão ficas sem ele até saberes brincar", é mesmo para tirar caso eles o atirem ao chão outra vez. Não serve de nada dizer que se deita os brinquedos todos para o lixo, se depois não vamos mesmo cumprir.
A nossa capacidade de levar a consequência até ao fim é decisiva no sucesso da mesma. E isso é o mais difícil - quando os nervos acalmam e as coisas se recompõem, levar a nossa palavra até ao fim e aplicar a consequência. Não há cá "desta vez passa" - não pode passar! Todos sabemos disso, o pior é quando chega a altura de concretizar! A coisa complica-se quando eles têm o condão de nos olhar com ar meloso a pedir desculpa, ou quando até nos dava imenso jeito que eles ficassem quietos a ver os desenhos que tanto gostam...
Mas é assim a vida, queridos pais, educar é difícil mas também ninguém disse que iria ser fácil.
Exemplos de como apliquei a teoria cá em casa:
Andávamos há semanas (meses) a viver um drama na hora de ir dormir, até que o Tê se chateou e ameaçou que quem não adormece na sua cama sem refilar não tem presentes de Natal!
Um clássico que funcionou, claro.
O que está mal aqui? Como é óbvio, eles nunca vão ficar sem presentes de Natal, e é uma questão de tempo até eles perceberem isso. Agora "ameaçamos" com alguma coisa mais concreta, que conseguimos mesmo concretizar - caso seja preciso, não estamos a fazer bluf, e eles têm de saber isso.
Ontem tive mesmo de aplicar uma consequência cá em casa.
O mais velho tem a mania de fazer birras por causa da roupa que vai vestir - coisa que me enerva e tira do sério, mas pronto. Ontem, como sempre, embirrou que não queria calças e sim calções. Expliquei, falei calmamente, falei menos calmamente, berrei. E ele continuava no seu drama que queria calções, queria calções, queria calçõõõõeeeees. Avisei que se continuava a birra não iriamos ao parque antes do almoço (como estava combinado). Claramente não me levou a sério (lá está, está pouco habituado), e continuou na dele a despir-se no meio do corredor em berros de sofrimento. E pois que não fomos mesmo ao parque. OK, já estávamos um bocado apertados de tempo na mesma, mas isso ele não sabe - não fomos ao parque porque perdemos tempo com a birra e com o despe-veste e mai nada. Recompôs-se, mudou de assunto, fizemos as pazes antes de sair de casa. Perguntou-me se assim podíamos ir ao parque, mas eu disse-lhe, e expliquei, que não. E não fomos mesmo.
Agora vamos ver se o resultado a longo prazo também de verifica.
Que eles fazem tudo para nos enlouquecer a gente já sabe.
Eu vou só complicar-lhes um bocadinho a vida entretanto.
Não desistas mesmo!! Nunca te esqueças da velha história do teu sobrinho mais velho, o rei da birra cá em casa, ou a minha maior lição de vida. Nunca deslizar 1mm, por mais fofos e queridos que sejam! Aquela criança foi para mim um Doutoramento em Psicologia Educacional, nunca mais na vida tive dúvidas quanto ao modo como devia fazer para educar os outros. E onde falhei eu? Num ano bissexto, levantei o castigo de 1 mês sem playstation porque caí na conversa dele a 29 de Fevereiro:«Oh mãe, eu portei-me bem todo o mês de Fevereiro, não foi? (confirma-se.) E se fosse um ano normal já estávamos em Março, já não estava de castigo, pois não?» Pois não. Deixei-o jogar para uma semana depois, perante nova ameaça, o ouvir dizer, desdenhosamente (foi o que mais me custou!): «podes castigar-me à vontade, nem sequer sabes manter um castigo!...» Aprendi a liçãso e ele também. Eu nunca mais cedi 1mm, por mais suplicantes que aqueles enormes olhos verdes, redondos, lindos, fossem. E ele, paradoxalmente, passou a ter mais orgulho numa mãe que não cede, firme e hirta como uma barra de ferro!Ele há coisas muito estranhas, mas eles têm mais orgulho em nós quando veem que nos mantemos no caminho e não hesitamos no que é melhor para eles, custe o que custar!
ResponderEliminarEu levantei o castigo no dia 29 à tarde, quando este terminava a 1 de Março, portanto apenas umas horas. Acho que não ficou bem explícito o ridículo da situação...
ResponderEliminarA consequência que resulta cá em casa é "se continuares, não há história logo à noite." E não há mesmo.
ResponderEliminarQdo ameaço com essa, eles param. Mas só com essa.
Pois, têm mesmo de ser coisas concretas e que nós pais conseguimos mesmo pôr em prática. Eu por exemplo em casa dos avós ameaço que nos vamos embora, mas sei que não vamos, e eles lá de uma maneira qualquer sabem também. Tem de ser algo concreto e aplicável, em vez do tradicional ficar sentado no canto a pensar na vida.
ResponderEliminarCá em casa o que tem resultado melhor é cortar com o parque (foi o único que tive de levar até ao fim e a verdade é que ele hoje torceu o nariz à roupa mas nem abriu a boca, vamos lá a ver), cortar com a gelatina à sobremesa e com a tv (eles vêem só 10-15 minutos por dia antes de deitar, mas amam ver desenhos animados, pelo que tem funcionado bem).
Cartuxa, o teu mais velho foi uma lição para todos nós. Só para os leitores terem uma ideia, era um miúdo que levava as suas birras tão a sério, mas tão a sério, que conseguia vomitar quando queria. True story. Ameaçava e depois vomitava mesmo. Todo um espetáculo para quem quisesse ver. Hoje tem 16 anos e é porreiríssimo.
Eu neste post não tenho nada a dizer... os meus filhos mais velhos são educados por natureza. A mais nova é selvagem, mas quando nasceu, prematura e minúscula, eu avisei-a que não ia ser capaz de lhe dizer que não. E é verdade. Por isso não tenho cá lições para dar a ninguém!
ResponderEliminarOlá Mary, antes de mais obrigada pela visita. Gosto muito de te ler, e já o faço há muito. mas estupidamente não comento, pois sinto-me sempre uma intrusa (o que neste "meio" é estúpido. Em relação ao post, em outubro enviei um email para o mum'the boss, com o intuito de me inscrever na formação, mas infelizmente, e apesar de não ser caro, iria fazer moça no orçamento e acabei por não ir. Gostei de ler este, pois sempre que leio sobre o "não castigo" (e não falo na "não palmada" que não costumo mesmo aplicar)fico sempre muito confusa. Este castigo que referes é o aplicado cá em casa, ou seja, não o mando ir para o quarto meditar, nem ficar sentado, nada disso, o que faço é retirar-lhe aquilo que ele mais gosta. Se funciona? por vezes. O que falha? o que já foi aqui referido, se não cumprir com a ameaça, está tudo perdido, por isso é que ultimamente tenho tentado ser firme e hirta :) Um beijo
ResponderEliminarSim,neste meio não há intrusos ;)
ResponderEliminarDiz que em fevereiro há mais, ainda dá tempo de pedir ao pai natal ;)
Eu gostei mesmo muito, porque obviamente cada um vai retirar e aplicar o que aprende à sua realidade. E não é só meia dúzia de dicas, há toda uma explicação por trás em que por vezes fiquei a pensar "ah! Então é por isso que eles reagem assim!". Ao saber disso tb nos ajuda a desvalorizar e deixar de desesperar quando lá vem mais uma birra...
Outra dica que temos aplicado cá em casa - mais simples impossível - é dar-lhes tempo, dar-lhes do nosso tempo. Ajudou imenso com as birras na hora de deitar. Eu aproveitava os tais 10 minutos de tv antes de irem dormir para fazer outras coisas, e depois apanhava-os para levar para a cama, história e dormir - e eles num berreiro que queriam que eu ficasse lá, queriam vir para a sala ou queriam ir para a nossa cama. Todo um drama. Agora fico com eles a ver tv - com um no colo e outro debaixo da asa. Mas estou mesmo ali, a comentar a doutora brinquedos, a dar beijinhos e festinhas. Juro que a mudança foi de um dia para o outro. Parece que com isso enchem o saco de mim, e depois da história já não me pedem para ficar. Parece magia ;) Afinal era tão simples, e eu sozinha não teria chegado lá...
Hoje em dia fartamo-nos de rir com as fitas dele mas na altura... e foi preciso ir até ao fim! Um dia o meu sogro ficou impressionado, achou que eramos muito duros com a pobre criança...resultadO: almoço de Natal e à porta de casa dos meus sogros ele diz-me com ar triunfante: depois de receber os presentes todos vou fazer birra e a mãe não me pode dizer nada porque o avô acha que a mãe é muito dura comigo!E se a mãe me obrigar a comer, vomito tudo na sala! Moral da história: antes de desejar Feliz Natal! a toda a gente, a boa da Cartuxa teve de dizer ao pirralho que ele só ia receber os presentes ao fim da tarde, se se tivesse portado bem e comesse com juizo. Comentário dele: tens de ganhar sempre, é?! Claro que sim, filho! Pergunta à Mary QA...
ResponderEliminarQue belos relatos! O pirralho que hoje em dia tem quase 17 anos ainda vai ser meu colega, capacidade argumentativa desde tenra idade...
ResponderEliminarEste fds tive que aplicar uma consequência, mas ainda não sei se surtiu efeito.
De há uns dias para cá, a L tem a mania de não engolir a última colher de comida, seja o que for. Sábado fez isso num parque, teve 15 minutos 15! com um palmier mastigado na boca. Ao empurrá-la com mais velocidade no baloiço, enervou-se, abriu a boca e pimba, sobretudo todo cagado com bolo alimentar... a fúria!
À noite, percebendo como isso me estava a irritar, a mesma cena com manga. Não engoliu dois bocados porque não. 20 minutos de ameaças, berros, pedidos calmos, explicações pausadas, mas claramente ela já tinha topado que eu estava lixado com aquilo. Ameacei que ia para a cama, que não brincava mais, que não havia tv, tudo. Não engoliu até eu lhe estender a mão e ela cuspir.
Direita para a cama a chorar.
Passado 5 minutos dormia o sono dos justos... nem refletiu sobre o castigo! e eu desfeito, quase com a noite estragada, a sentir-me a besta fria... mas nestes 3 dias que passaram (lagarto, lagarto!) não voltou a repetir a graça...
Naish, na tua infância não havia cá parentalidade positiva, era sentado à porta da biblioteca a pensar na vida e mai nada! Sabes bem que ela tem a quem sair teimosinha, não sabes??
ResponderEliminarPois foi algo que me tramou desde sempre...excessos de personalidade há muito mais no nosso lado que do lado «inimigo». Ó Naish, vê lá se a princesa não anda a ter lições de etiqueta com alguém que lhe diz ser fino deixar a última porção... ou então reduz-lhe a dose, não vá a rapariga estar mesmo cheia... sabes que agora eles crescem menos, pelo que não precisam de tanto «comer»... Tadinha, k dó!
ResponderEliminarQue engraçado, os castigos q eu aplico são consequências...
ResponderEliminarmas eu sou péssima e grito com ele e sim, tb dou palmadas!!!
enfim...todos os dias me esforço por melhorar!
ah ah ah, muito bons relatos.
ResponderEliminarMaryQA, nós já aplicamos a consequência... e é sem duvida o melhor. Até porque futuramente ligam menos ao que tirámos. Começámos a castigar de não ver tv nem fazer puzzles no IPAD.
Hoje em dia já nem pede o IPAD e vê mto menos tv.
Mas continua a apanhar, às vezes tem mesmo de ser. Ou se tiver a chorar pô-lo no quarto.. e tem resultado.
Mas para bem da verdade o F. é um Santo e é raro não obdecer à 1ª, deve ser como os primeiros da mãe de 3... já o V. promete ser mais duro! (será que tem mesmo a benção do padrinho naish?)
Se a malta do outro lado mandar vir com o feitio dos meninos, há uma expressão óptima: "feitio Andrada"!
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