Foi no Brasil, em 2005.
Deitada com as amigas numa praia que já não me lembro qual, mas onde apareciam inúmeros vendedores de tudo e mais alguma coisa (queijo assado, fruta, bikinis, marisco, água de côco, bijuteria...), lá apareceu mais uma vendedora, desta feita com um ar bastante alucinado.
E o que vendia esta menina?
Gnomos. Ou como ela dizia, com o seu ar de quem vive num mundo só dela, "Guinomos".
E pois que os guinomos eram feitos de fimo ou coisa parecida, e cada um tinha um poder qualquer. E nós dizíamos que não, e ela insistia e tirava guinomos e mais guinomos de dentro do saco que espalhava em cima das nossas toalhas. E nós que não e ela que não arredava pé e continuava a falar das virtudes de cada um. E nós começamos com um ataque de riso. E rimos, rimos, rimos enquanto ela desenrolava um rol de guinomos e mais guinomos, cada qual da sua cor e com o seu poder especial.
A dada altura lá percebeu que ninguém lhe ia comprar nenhum guinomo, mas pediu encarecidamente que ao menos cada uma de nós retirasse de dentro de um saco uma pequena pedra. E que ela diria qual o significado dessa dita pedra (com o intuito de comprar o respectivo gnomo, bem entendido).
Cada uma tirou uma pedra, de uma determinada cor e a menina lá explicou o que significava cada uma.
Chegou a minha vez. Lá tirei uma pequena pedra cinzenta, e ela disse que era a Pedra dos Sonhos.
Pensei "yeah, right..." mas continuei a ouvir o que ela tinha para dizer. E a verdade é que nunca mais me esqueci do que ela disse.
A Pedra dos Sonhos não era a que iria realizar todos os meus sonhos. A Pedra dos Sonhos era a que me iria permitir perceber quais dos meus sonhos eu iria conseguir concretizar. Era a que iria fazer com que eu deixasse os castelos nas nuvens e passasse a ter sonhos concretizáveis. A pedra que iria permitir ajustar os meus sonhos à minha realidade, e por isso permitir que eu fosse mais feliz porque em vez de perder tempo a sonhar com o impossível, eu iria conseguir concretizar os meus sonhos.
Insistiu para que nós (que já não nos estávamos a rir) ficássemos cada uma com a sua pedra, apesar de ninguém lhe ter comprado guinomo nenhum.
Não me lembro nada do que saiu a nenhuma das minhas amigas, mas esta questão dos sonhos nunca mais me saiu da cabeça.
E a verdade é que durante anos andei sem saber onde tinha a pedrinha, mas nunca a perdi. Foi comigo para a Holanda, esteve uns tempos na gaveta dos talheres, andou de casa em casa, regressou a Portugal e mudou outras tantas vezes de casa connosco, e hoje só não foi para o lixo por um triz, porque estive a sacudir uma bolsa e quando dei por ela lá estava a pedrinha num cantinho da bolsa, sem cair.
Não faço ideia quem era aquela mulher e provavelmente nunca a voltarei a ver, mas é curioso que logo hoje, dia em que finalmente concretizo um sonho que me estava atravessado exactamente desde 2005, tenha dado de caras com a Pedra dos Sonhos, que nunca me abandonou.
Claramente ela merecia que eu lhe tivesse comprado um guinomo...
Muito bom!
ResponderEliminarEu tenho uma história parecida, mas através da minha sogra. Ela tem em casa uma imagem de uma santa que é supostamente propiciadora da maternidade. Quando casámos, pôs rapidamente a nossa fotografia debaixo da santa e os primeiros filhos não tardaram a aparecer. Mas como sabes, passada uma certa altura, não vinham mais e nós queríamos muito ir ao 3º. As tentativas somavam-se e nada. Até que a minha sogra vai ao Brasil e deve ter apanhado essa senhora algures pelas praias do Nordeste. Deve ter-lhe falado deste problema e a senhora impingiu-lhe um colar de contas cor-de-laranja que ela devia pôr no pescoço da santa (felizmente não no meu). O que é certo é que até hoje a imagem da santa do século XVIII ostenta o seu colar brasileiro com orgulho. E a nossa 3ª filha lá veio :-)