O Bisavô, de Maria João Lopo de Carvalho
Antes da crítica, algum contexto em relação a este livro. A autora é prima (afastada) do meu pai, e chegou a almoçar com ele para que pudessem colmatar alguns pormenores e fotografias onde os ramos da família se cruzam. Ele já não viveu para ver o livro lançado, ela muito faz-lhe um agradecimento muito simpático nas últimas páginas.
O meu exemplar autografado foi-me oferecido pela minha tia e madrinha, no entanto as quase 800 páginas não me entusiasmaram por aí além. Isso e uma certa ideia pré-concebida de que a autora era assim bastante "light", sendo que nunca tinha lido nada dela - ideia feita com base na imagem que tenho das fotografias da contracapa, e das poucas vezes que me terei cruzado com ela ao vivo em que não trocámos mais de três palavras - puro preconceito, sem pés nem cabeça (temos de estar atentos a estes vícios que persistem). Em suma, um dia iria ler o livro com toda a certeza, mas a vontade era pouca.
Foi preciso ouvir três opiniões favoráveis para me lançar a lê-lo. Isso e o confinamento, que um livro deste tamanho é melhor ler em casa mesmo.
Em boa hora o fiz. Foi uma agradável surpresa.
Capítulos curtos (o que para mim é essencial) e uma investigação minuciosa por trás de cada pormenor retratado (são páginas e páginas de notas de roda-pé), levam-nos numa viagem pela burguesia portuguesa desde finais do séc. XIX e inícios do XX, partindo da biografia do seu bisavô.
Sem tabus nem juizos de valor lá surgem as aventuras e desventuras, as viagens, as relações com os primos, o papel da mulher (das várias mulheres percorrendo toda a sociedade), as negociatas com os produtos vindos das colónias, a política, os locais, as diferenças entre cidade e campo, a medicina, os hábitos desta sociedade. Saber que os episódios caricatos aconteceram de facto dá uma piada especial ao livro.
Gostei muito, e penso que iria gostar mesmo que não estivesse lá uma parte da minha árvore genealógica - e que bom que foi entende-la por fim!
Dei 4 estrelas, e recomendo.
Bravo. Deste também gostei e nao acho que seja apenas porque o nosso trisavô seja o bisavô da autora.
ResponderEliminarP.S. *seja um bisvô, nao "o" bisavô, entenda-se
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