terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Natal - o rescaldo


Foi sem dúvida um Natal diferente. E no que toca ao Natal tudo o que é diferente acaba sempre por ter uma conotação negativa, porque o Natal é aquela época em que se repetem tradições e se tenta ao máximo mante-las vivas, e fazer exactamente as mesmas coisas, usar os mesmos objectos, repetir as mesas receitas ano após ano após ano. Não foi o caso.
Não digo que não me tenha custado um bocadinho, mas estava feliz por poder partilhar um Natal de que ouço falar há anos, no fundo o Natal que tem verdadeiro significado para o T. - será isto o verdadeiro casamento? partilhar tradições que não são nossas, um ano tu por mim um ano eu por ti? Diz que sim e assim seja.
Até à consoada (palavra mais que repetida nesses dias) não me senti verdadeiramente no Natal. O meu dia 23 de Dezembro costuma ser sempre na cozinha a fazer rabanadas com a minha mãe - é o famoso "rabanada day", em que juramos todos os anos fazer rabanadas sem ser no Natal e nunca cumprimos. O dia 24 é passado nos preparativos: pôr a mesa (que implica lavar pratos e copos que só se usam nessa noite), pôr a mesa das crianças médias (que somos nós os da casa dos 20 - para o ano teremos de alargar o limite da idade pois eu serei já trintona por altura do Natal), pôr a mesa das crianças pequenas (normalmente no meu ex-quarto - se a família continua a aumentar assim teremos de pôr mesa também na casa-de-banho), descascar batatas cozidas, desfiar bacalhau, cortar ananás, abanar o tacho de vez em quando para não agarrar.
Este ano o meu dia 24 começou com pão acabado de sair do forno de lenha, seguido de uma visita guiada ao próprio feita pela matriarca da família. Anos de experiência de uma arte que nos é completamente estranha. Saberes do campo, ligados à terra, onde tudo se aproveita e tudo se transforma, onde de facto tudo faz sentido.
Seguiu-se um dia de turismo - há quanto tempo não fazia eu turismo em Portugal? Há quanto tempo não passava um dia assim na aldeia, a sentir o cheiro das lareiras entre as casas de granito? Ouvir o silencio da paisagem, ver um pôr do sol daqueles que nos fazem sentir pequeninos, ver as estrelas, cumprir uma tradição secular, assobiar canções de Natal.
De regresso a casa da avó, reunir a família em volta da mesa. Foi um Natal intimista, feito de conversas cruzadas, fotos de família, e de histórias antigas contadas pela avó (esta foi a minha parte preferida da noite). Depois da troca de presentes, uma cartada que é também tradição todos os anos.
No dia seguinte, o regresso. Com o coração quentinho e cheio de boas recordações.

Foi bom. Muito bom.

1 comentário: