quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Natal


Este ano, não me perguntem porquê, mas sinto que estou com mais espírito natalício.

Nunca fui um exemplo de entusiasmo em relação ao Natal. Aquele entusiasmo das luzes nas ruas, de começar a ver as lojas decoradas, a pressa em fazer a árvore de Natal sempre resultou mais numa reacção tipo "Já? Outra vez?" do que uma do tipo "Ihaaa, já cheira a Natal". Em minha casa a árvore de Natal era montada já bem perto do Natal, às vezes até no dia 23 de Dezembro. Nunca tive aquela expectativa de pensar em decorar a casa e de esperar ansiosamente pelo dia 1 para o fazer.

A nossa árvore de Natal tem mais de 30 anos, são apenas uns paus verdes com muito poucas folhas, de cada vez que a montamos (um banco de madeira, um cesto dos papéis cheio de livros policiais, o pau da árvore equilibrado no meio dos livros, uma toalha castanha ou verde a tapar) pensamos que será a última vez devido à quantidade cada vez maior de fitinhas verdes que ficam no chão. Mas ela lá vai resistindo. Sempre decorada com bolas de várias cores e uns anjinhos feitos por mim em cartolina, mais tarde com decorações em madeira pintadas pelas manas, numa amálgama de estilos e mãos, e sempre sempre sempre com chocolates (árvore de Natal sem chocolates não é árvore que se apresente).


Este ano não sei o que me deu. Acho que é do frio. Ou talvez dos efeitos das luzes de Natal a dar nos canais (no ano passado as decorações em Rotterdam eram tão pobrezinhas), mas sabe-me bem ir fazer compras de Natal de bicicleta com o frio a bater na cara (às vezes até parece que cheira a neve), entrar nas lojas quentinhas, regressar a casa com os sacos já de noite.
Este fim de semana vou pôr esta casa com ar de Natal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Incrível como apesar de termos vivido em países diferentes há coisas que são iguais em todo o lado... e é bom descobrir estes pontos em comum do passado!

Ontem de manhã no escritório deu na rádio o What a Feeling. A R. e eu começamos logo a relembrar o filme - as roupas, os cabelos, as coreografias, os exercícios dela em casa, aqueles pormenores que marcaram a infância/pré adolescência.


Combinámos logo uma sessão nostalgia em casa da L. (outra italiana, que tem uma mega televisão em casa!)
Devo dizer que o Flashdance perdeu um pouco o encanto. De um modo geral, não é um filme bem feito (o que para mim foi uma total novidade). Eles são maus actores, ele é feio e há pormenores que não lembram a ninguém. Valem as coreografias e a banda sonora...essa banda sonora inesquecível que provocou inúmeras coreografias em frente ao espelho!

Conversa puxa conversa resolvemos fazer sessão dupla com outro grande clássico dos 80, que marcou também pela banda sonora e suscitou inúmeras coreografias e sonhos com o príncipe encantado...


Este devo dizer que não desiludiu... as músicas, ela que é tão gira e tão normal, ele que nunca me disse nada mas tem um corpinho que vale a pena rever, eles a dançar tão bem, ela a aprender, a cena da água, a entrada dele no último baile... tudo aquilo continua dar vontade de dançar assim!
Acho que é por isto que eu me considero quase adulta - enquanto eu continuar a gostar do Dirty Dancing é porque ainda não cresci tudo (o que provavelmente não vai acontecer!).

Na próxima sessão vamos ver o Footloose.

domingo, 25 de novembro de 2007

Fados

Ontem fomos ver este filme.

Pensávamos obviamente que das duas uma, o seríamos os únicos na sala de cinema, ou seríamos nós e mais meia dúzia de tugas vindos ali dos Lusitanos (que não ficam longe). Bem enganados que estávamos - a sala estava bem composta e tugas éramos mesmo só nós.

Não faço ideia o que pensaram os holandeses sobre o filme. É uma espécie de documentário apenas expositivo de vários tipos de fado e música portuguesa com raiz no fado mas também com outras influencias - o fado de cabo verde, o fado no hip hop, o fado nas mornas da Lura, o fado no flamenco.

Talvez um dia eu consiga descrever a sensação de estar longe de Portugal, num cinema em plena Amsterdam, a ouvir o Carlos do Carmo com imagens de Lisboa (cacilheiros no Tejo, pátios de Alfama, escadarias, roupa estendida nas janelas), ver imagens do 25 de Abril (Liberdade! Liberdade!) ao som do Zeca Afonso, ouvir o Caetano Veloso cantar no nosso português o Estranha forma de Vida, e acabar com a Mariza:

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi


Arrepiante.

Não é um filme perfeito, mas é nosso.
Tal como Portugal.

sábado, 24 de novembro de 2007

Desafio

Recebi este desafio do blog da Sofia (é o primeiro desafio que recebo!), que o passou à Mary de Amesterdão. Assim sendo vou escrever 10 coisas que ainda não escrevi aqui sobre a Mary de Amesterdão, e não sobre a Mary em geral:

1) A ideia inicial era ir para Londres, mas depois ficámos com medo de ser um salto demasiado no escuro. As histórias que ouvíamos de Londres eram sempre de vidas difíceis. Resolvemos vir para a Holanda porque pelo menos tínhamos cá alguém conhecido que nos podia dar uma mão.

2) viemos a primeira vez a Amsterdam em 1999 no inter rail, e quando cá cheguei identifiquei-me de imediato com a cidade, e lembro-me de pensar "gostava de criar os meus filhos aqui". 8 anos depois, com idade e possibilidade para ter filhos, não os quero ter aqui. No entanto, todos os dias passo por uma escola no meio do parque, com muitas bicicletas pequeninas estacionadas no gradeamento do recreio. As crianças devem mesmo ser felizes aqui.

3) as primeiras pessoas que nos vieram visitar foi a A. e o E. Posso viver 100 anos que nunca me vou esquecer da sensação de os ver em frente à florista na estação. Tivemos outros reencontros emocionantes, mas este foi o primeiro e foi muito especial.
A despedida que mais me custou foi a da minha maninha e sobrinhada. Depois de uma semana insólita em que tudo aconteceu (eu arranjei 2 empregos, fiz 28 anos, fomos à Holanda dos pequeninos, a Antuérpia e a Bruxelas, vieram inspectores ver a nossa casa e o Tony pôs a casa à venda), vê-los partir deixou-me um vazio imenso.

4) aqui tudo me parece volátil - nada tem uma base sólida (em sentido figurado e real também, que esta terra não tem mesmo uma base sólida). As amizades, as pessoas, as casas, os empregos tudo está constantemente a mudar. Tudo é de passagem. Sabemos que nada aqui é definitivo.

5) gosto dos mercados, dos parques, das bicicletas, das lojas, dos canais, das casas, dos museus, das pessoas que vivem e deixam viver, da multiculturalidade.

6) não gosto da chuva, do tempo sempre cinzento, das pessoas frias, da falta de sangue na guelra desta gente, da comida.

7) tenho saudades do sol, do mar, do bom tempo, da praia, do café, da comida. Da família, dos amigos, da vida em geral, do centro da Parede, do Chiado.

8) uma coisa que mudou em mim desde que chegámos (apesar de eu achar que se calhar ia acontecer quer tivéssemos vindo ou não) foi que comecei a gostar de cheirinhos (leia-se velas aromáticas, ambientadores, queimadores, até perfumes). Nunca gostei nada dessas coisas, mas quando mudámos para a nossa 1ª casa no sul de Rotterdam a presença dos anteriores inquilinos era ainda bastante evidente, pelo que comprámos umas velas aromáticas para dar cheiro à casa. Foi um novo mundo que se abriu. De cada vez que íamos ao Ikea era às dezenas de velas de alfazema, marinhas, morango, laranja (os copos são ainda os nossos copos da cozinha). Uma das vezes que fui a Portugal na casa da família P. tomei contacto com a realidade "queimadores" (não que não conhecesse mas estas coisas sempre me passaram ao lado), e não descansei enquanto não arranjei um para a sala e outro para a cozinha. Um fascínio. A última foi a re-descoberta dos perfumes. Em toda a minha vida tinha tido 2 perfumes - um oferecido pela minha mãe que eu usei no 1º ano da faculdade e que como foi um ano mau para mim lá ficou o perfume associado à desgraça; outro oferecido pelos amigos que eu usava apenas para sair à noite e que ainda deve andar lá por casa dos meus pais a meio do frasco. Eu sempre fui mais de água de colónia para bebé. Pois que de há um tempo para cá tive vontade de ter um perfume, e depois de muito procurar (eu e os free-shops no aeroporto é tu cá tu lá como sabeis) lá me resolvi não por uma mas por duas eau de toilette da Body Shop (perfumes a sério ainda acho muito fortes, mas lá chegaremos).

9) uma coisa que muita gente não sabe é que a ideia de sair de Portugal não foi minha, mas do T. Claro que sempre quisemos ir para fora, e falávamos nisso com frequência, mas parecia que nunca era a opção adequada. No fundo eu e o T. vivemos em timings diferentes, o que é normal dada a diferença de idades. Ou seja, quando eu queria, ele não quis. Eu praticamente desisti e avancei com a minha vida. Foi quando eu já nem pensava mais nisso que ele repescou a ideia. Eu por mim já nem fazia muita questão, mas sabia que se não saíssemos naquela altura não o faríamos mais.

10) o dia em que saímos de Portugal funciona para nós como o dia do nosso casamento - 18 de Janeiro (não sabemos se foi exactamente a 18 que saímos ou chegámos, não interessa). Foi estranho, porque foi um dia muito feliz para nós, em que estávamos a fazer aquilo que queríamos e a realizar o nosso sonho, mas ao mesmo tempo foi o dia em que causámos mais sofrimento à nossa volta. Se eu pudesse voltar atrás apagava esse dia da minha vida, e da vida dos que gostam de nós. Não posso.

E desafio quem ler estas 10 coisas a pensar também em 10 coisas sobre si mesmo.
Não é nada fácil!

8Kg

Desde que nos mudámos para a Holanda consegui acumular neste corpinho mais 8kg mais coisa menos coisa, a juntar àqueles que já trazia de casa e que já eram demais.

Esses kilos, como qualquer pessoa que sofre deste mal sabe, foram ganhos na sua maioria muito rapidamente durante os 5 meses que estive desempregada, e o resto foi sendo ganho aos poucos nos meses seguintes. Creio que cheguei ao auge há um ano atrás no Natal.

Desde então tenho tido mais cuidado com a alimentação, nada de radical que também não quero fazer disso o centro da minha vida. No entanto, verdade seja dita, já não tenho 20 anos e cada vez mais a velocidade com que se ganham kilos é inversamente proporcional à sua perda.

No entanto, todo o sacríficio dá frutos, mais tarde ou mais cedo... e hoje consegui finalmente vestir uns jeans que já não punha desde Junho 2006 (exactamente quando comecei a trabalhar)!
Haverá maneira melhor de começar o fim de semana do que vestir uns velhos jeans que já não nos serviam???

No entanto meus amigos, há ainda um longo caminho a percorrer, pois guardo religiosamente um outro par de jeans que comprei em 2003 (que não visto desde 2005) e que continuam sem apertar!
Tenho fé e motivação para ainda os vestir antes de regressar à pátria!
(caso contrário vieram à Holanda só mesmo passear de armário em armário, pois até agora ainda não saíram à rua!)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Viagem


Já temos bilhete para o Natal!
Exactamente um mês antes da partida lá conseguimos arranjar um voo por um preço vá, aceitável.

A saber:
21 Dez, 21h - partida de Amsterdam
22 Dez, 8h - chegada a Lisboa
(no entretanto passamos a noite em Munique - eu disse que o preço foi aceitável, correcto?)

Regresso a Amsterdam:
T.
29 Dez, 14h - partida de Lisboa

Eu
31 Dez, 9h - partida de Lisboa

E pois que serão assim 10 dias de férias, que bem estamos a precisar.
(férias férias seria se fôssemos 15 dias para a praia mas é o que se pode arranjar...)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

E ainda a propósito de meias...

Já foi aqui abordado o tema meias, que tanta dor de cabeça dão a todas as donas de casa que gostam de calçar meias iguais nos dois pés, e que se aborrecem de chegar ao fim do serão com umas quantas meias desirmanadas no fundo do cesto.
A propósito do tema teve a minha maninha mais velha uma excelente ideia ou não fosse ela professora (a criatividade a funcionar a todo o momento) e mãe de três (num total de 5 pessoas em casa - olha a quantidade de meias que isso perfaz).
Aqui fica a solução arranjada por ela (e passo a citar):

"Quanto às meias, amiga, padeço do mesmo mal a dobrar… já descobri que desaparecem porque os meus miúdos, como sabes, se descalçam com imbatível agilidade e elas fogem sorrateiras e sozinhas para os locais mais remotos… estilo topo do armário, forro do sofá ou mala do jipe, e até na revisteira…
Resultado: peguei nas que sobejavam ( esta palavra lembra-me as nossas avós) e propus aos meus alunos do 1º e 2º ano fazermos uns fantoches para porem na mão, tipo luva e assim criámos os «Billy», os meus interlocutores das aulas de Inglês. Sempre que treinamos oralidade ou cantamos, eles e eu enfiamos os nossos Billy , eles falam mais à vontade e eu despachei por conta uma data de meias solteironas!!!"


Olha o meu blog a dar dicas e a promover a troca de ideias!

Aqui fica então, caros leitores, a sugestão da semana!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

20/11/1996

Chegámos a casa bastante tarde. Já todos estavam a dormir. Passámos à porta do quarto dela, e ela acordou. Fizemos festinhas na sua barriga redonda como o mundo.
Eu fui-me deitar, e claro, apaguei.
Passado poucos minutos, uns passos a correr pelo corredor.
Chegou a hora. É agora.
Todos em stress. Todos...menos ela! Ligou ao pai, pediu-lhe que viesse devagar, tomou banho, arranjou-se com toda a calma como se soubesse que tinha muito tempo pela frente. A F. histérica, metia-lhe coisas para dentro do saco - o saco da maternidade, arranjado com toda a paciência, e pronto há várias semanas.
Lembro-me de se vir despedir de mim ao quarto, de me dizer "o D. está a chegar!".
Eu respondi-lhe... "leva o passe!" (toda a gente sabe que o passe é um documento essencial quando se vai para a maternidade ter um filho).
Sei que foi com os quase-avós para o Hospital de Santa Maria. Sei que quando chegaram à porta eram mais ou menos 6h da manhã. Sei que quando acabaram de estacionar começou uma música do Pedro Abrunhosa (tudo o que eu te dou, tu me dás a mim...) e ela pediu para ficarem até ao fim da música. E ali ficaram os três dentro do carro até a música acabar. Só depois entraram.
Eu entretanto dormia. Quando acordei não tinha a certeza se era verdade ou se tinha sido um sonho.
Nessa noite havia um evento muito importante, e eram necessárias lâmpadas. Fui com a F. comprar as ditas a um centro comercial. Quando demos por nós estávamos as duas dentro do Peugeout branco cheio de lâmpadas no banco de trás, com as lágrimas a correr pela cara abaixo... a situação era no mínimo insólita: a nossa mana prestes a ser mãe e nós a comprar dezenas de lâmpadas.
Fui ter ao hospital por volta das 15h. Ainda nada. E a tarde foi passada naquela sala de espera, com o pai a poder entrar e sair com notícias (dedos de dilatação, epidurais que não pegaram, tempos de contracções). Para nós foram largas horas de espera. Para ela foram provavelmente as horas mais longas da vida.
Eram já 3h da manhã quando finalmente ele nasceu.
A tia pediatra veio mostra-lo à família no vão das escadas, embrulhado em lençóis do hospital. Tão perfeitinho, e tão igual à mãe! Uma boca a chorar igual à da mãe!
Para nós foi uma sensação indescritível. Uma alegria imensa e maior que tudo!
No final o médico que a acompanhou virou-se para mim e disse:
"Você é que é a irmã? Então, quando for a sua vez, porte-se como ela!"

Ele só faz anos amanhã.
Hoje é o dia da sua mãe.

sábado, 17 de novembro de 2007

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Este fim de semana quero:

- começar a pensar nos presentes de Natal
- ir ao Albert Cuyp markt
- ir ao ginásio
- ir ao cinema ver este filme
- ir ao museu Van Gogh
- tomar café num cafézinho em frente ao Hard Rock onde apetece ficar a ler
- limpar a casa (sina...)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Trunfos

Grande parte da harmonia familiar desta casa deve-se ao profundo sentido de justiça com que encaramos a nossa relação. Um namoro/casamento constrói-se à base de cedências de ambas as partes - de pôr de parte a nossa própria vontade em função do outro.
Entre nós a coisa resolve-se à base de trunfos.
Aquele que cede fica em posse do trunfo, que pode usar como bem quiser.
Pode-se ter mais do que um trunfo ao mesmo tempo, mas os trunfos apenas podem estar na mão de um de cada vez. A situação ideal é quando ficamos quites.
O trunfo pode ser tudo e mais alguma coisa, e quem tem trunfo pode escolher como o usar como bem lhe apetecer.
Um trunfo pode significar um jantar pago, uma massagem nos pés, um copo de água, uma ida ao lixo, um serão a dobrar meias...

Desde o primeiro fim-de-semana de Novembro que o trunfo estava na minha posse: adquiri-o com uma ida ao Cascaishoping em pleno domingo à tarde, num dia de Verão, no nosso mini fim-de-semana em Portugal (numa estratégia familiar bastante bem montada há-que admitir...).
Ontem foi a vez dele.

Fui jantar a casa de uma amiga. Só lá tinha ido uma vez há um mês atrás numa festa.
Revi o caminho para sua casa na net e lá fui. Um agradável jantar, óptima conversa, e passava pouco das 23h quando resolvi regressar a casa (o T. acabava de chegar a casa do trabalho).
Lembro-me que quando foi da festa regressámos a casa por um caminho diferente do da ida.
Não sei dizer exactamente o que fiz mal e qual foi o meu erro. Sei que quando dei por mim estava num sítio completamente diferente, onde nunca tinha passado antes, sem ter a menor noção de onde estava. Resolvi ligar para casa de um cruzamento entre duas ruas para o T. me dar indicações. Se já estava confundida, pior fiquei... "Estás a ver uma praça?" (não!) "passaste por uma rua com galerias de lado?" (também não) "Segue em direcção ao centro!" Eu sabia lá onde fica o centro! "Vai na direcção oposta àquela de onde vinhas!" Mas como sabia ele em que direcção vinha eu?! O fundo do poço foi quando percebi que estava perto do Ring - uma espécie de autoestrada que delimita a cidade. Quase meia-noite, zero graus, chuva miudinha, e lá ia eu na minha bicicleta sabe-se lá para onde. As lágrimas caíam-me pela cara abaixo enquanto pedalava. Um desespero.
E dado o meu sentido de orientação e a capacidade dele como co-piloto à distância o desfecho não é difícil de prever. Regressei à estaca zero, fiquei na esquina entre a Admiraal de Ruitjerweg e a Bos en Lommerweg à espera que ele (acabado de chegar a casa, de banho tomado, pijama vestido e sentadinho no sofá à minha espera) me viesse buscar.
E isto meus senhores, vale trunfo.

ADENDA: o trunfo já foi pago.
O T. trocou-o por um lanche feito por mim - leia-se um copo de leite com chocolate e uma torrada com manteiga. Valia muito mais do que isso, mas o meu amor é um homem de gostos simples! Eh eh eh

Mestrado

A minha colega que estava grávida quando fizemos o 1º ano do mestrado vai apresentar a sua tese para a semana.
No convite colocou além do título da tese, uma fotografia da filha. Está tão grande!
Em dois anos a minha colega escreveu a sua tese e criou uma filha.
Nesses mesmos dois anos eu peguei nas minhas coisas e vim para aqui.
Seguimos caminhos completamente diferentes.
E de repente senti saudades desse 2005. Dos trabalhos de grupo pela noite dentro na casa dela (ela com um barrigão, cada uma no seu portátil e a cadela aos saltos a querer brincar às 4h da manhã)... das boleias ao sábado de manhã, dos almoços nas freiras no Chiado.
Dessa época em que quanto mais líamos mais tínhamos a sensação que nada sabíamos.
Foi bom.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Constatações

Não temos televisão por opção.
Não nos faz falta nenhuma e não tenho saudades.
Só sinto a falta da televisão num momento específico do dia. Quando me sento em frente ao portátil para ver o meu mail e blogs e escrever uma ou outra coisa, e o T. começa a pressionar para eu me despachar para
a) ele vir ver as coisas dele (portáteis a funcionar e sem 1 litro de chá no sistema temos só um cá em casa);
b) vermos os dois as séries do momento (Prision Break e 24).
Nesse momento seria bom ele pegar no comando e fazer um zapping durante um bocado para eu poder ver/fazer as minhas coisas sem pressões.
Acabado esse momento a TV que não existe já não faz mais falta.
Desconfio que não quero voltar a ter televisão. Quanto a ter dois portáteis já é outra questão...

PS. uma última constatação parva:dei-me conta ainda agora que cá em casa não há comandos à distância. Não há. Nem um.

domingo, 11 de novembro de 2007

Interior

Durante a adolescência nunca liguei nenhuma a lingerie.
Apesar de viver numa casa de mulheres houve certas facetas tipicamente femininas que sempre nos passaram ao lado, como perfumes, a maquilhagem, e também a lingerie.
Cuecas e soutiens lá em casa queriam-se práticos e básicos, o mais simples possível, e nem se perdia tempo a pensar nisso.
Em 2000 fui para Santiago e foi um novo mundo que se abriu para mim.
Lembro-me de me comentarem na altura que as espanholas eram as mulheres europeias que mais dinheiro gastam em lingerie... e como eu as compreendia...
Numa cidade tão pequena havia tantas lojas e com tudo tão apetecível, que não fosse na altura eu ser uma estudante sem recursos próprios teria ido à ruína!
Lembro-me especialmente de uma, perto da catedral, que tinha um manequim luminoso na montra (uma manobra de marketing infalível, ficava tudo lindo!) e uma outra que tinha uma promoção de conjuntos totalmente em lycra de todas as cores.
Regressada à pátria descobri os encantos da Women's Secrets e durante 6 anos não comprei noutro lado, e era também o delírio de cada vez que entrava na loja! O que vale são os saldos.
Emigrada para a Holanda deparo-me com a trágica notícia de que cá não há Women's Secrets... Apesar de o Hema ter algumas coisas, nunca me encheu as medidas, pelo que ainda cheguei a ir à Women's nas minhas visitas a Portugal.
Eis senão quando encontro esta loja.
Minhas senhoras é a verdadeira tentação.
Além de ser tudo LINDO (apetece de facto levar a loja para casa) têm uma estratégia de fidelização de clientes muito bem montada! Estão sempre com alguma coisa em promoção. Da primeira vez que lá fui era o aniversário da marca, e deram-me o cartão de cliente. Da segunda deram-me uns autocolantes com 20% e 10% de desconto, que eu posso colar em qualquer peça à minha escolha. E os preços não são excessivos.
Em resumo: um perigo!

Ouvir

Comentei ontem com o T. que não conhecia duas bandas e que estava com vontade de ouvir: Interpol e Editors.

Já cá tenho o último álbum de cada um.
Soam um bocado a David Fonseca (ou vice-versa) mas eu gosto.

sábado, 10 de novembro de 2007

Outono/Inverno

Por aqui o Outono está perto do fim, e já começa a chegar o Inverno.

As árvores que na semana passada estavam cheias de folhas amarelas agora começam a ficar completamente nuas. Da janela da sala já se conseguem ver alguns edifícios do outro lado do parque (antes não os víamos por causa das árvores).
No entanto ainda há muita folha por cair.
A árvore do pátio interior do nosso prédio ainda tem as folhas quase todas (e nós sabemos que ela fica totalmente despida, que mais parece um arbusto).

Se por um lado o tempo aqui é sempre cinzento, seja Inverno ou seja Verão, as árvores de cá não nos deixam esquecer em que estação do ano estamos.
E por aqui ainda há 4 estações.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mãezices

Hoje tive uma conversa bastante interessante com uma das grávidas do momento, que me pôs a pensar sobre o nosso sistema de saúde.

O seu médico de sempre agora já não dá consultas onde costumava dar. O preço das consultas aumentou consideravelmente, pelo que há que fazer contas à vida e equacionar a hipótese de ir ter consulta à Lourinhã (com o mesmo médico, por um preço aceitável).
Entre uma coisa e a outra a médica substituta manda fazer uma ecografia do final do 1º trimestre que custa mais de 100 euros.
Meus senhores, se vamos dar 100 euros por cada eco chegamos ao fim da gravidez sem ter o que comer (ou quase).
No entanto, a dúvida instala-se.
Um ecografista, no fundo como um mecânico ou canalizador, tem uma profissão específica, que não pode ser feita por qualquer um.
Até aqui tudo bem.
Se um mecânico nos aconselha um óleo mais caro, ou o canalizador uma torneira a acender e apagar nós podemos tomar uma decisão - ou vamos pelo mais caro e melhor ou arriscamos o mais barato e logo se vê.
No entanto, jogar este jogo com uma grávida é sair a ganhar desde o início.
Podemos sempre perguntar "mas não posso fazer a ecografia neste sitio mais em conta??" e o médico responde que sim senhora, mas que ele preferia que fosse na Clinica X onde a ecografia também é de certeza a acender e apagar, onde se pode ver com super nitidez tudo e mais alguma coisa quem sabe até a cor dos olhos, a avaliar pelo preço...
E neste momento temos a grávida com a pulga atrás da orelha... se acontece alguma coisa que pudesse ter sido evitada pela tal ecografia é um peso que ninguém quer acartar. No jogo da saúde dos filhos ninguém paga para ver.
O que pode levar uma ecografia custar mais de 100 euros? Quem pode de facto apontar o dedo ao médico e dizer que está a proteger o amigo/primo/sócio-ecografista, e quem pode acusa-lo de receber uma comissão? Ninguém. Porque ninguém paga para ver.
E isto parece-me bastante injusto. Explorar as pessoas através do seu ponto mais fraco. Uma grávida dá o que tem e o que não tem para saber que está tudo bem.
No fundo todos nós nascemos sem as nossas mães fazerem nenhuma ecografia. Há 10 anos as ecografias eram todas desfocadas, e era preciso muita imaginação para ver um bebé no meio das riscas pretas e brancas. No entanto, perante a questão a dúvida nem se chega a colocar... e por isso podem pedir o preço que quiserem, que em cada grávida há uma mãe preocupada que mesmo que lhe custe vai pagar o que for preciso e fazer o que estiver ao alcance para que corra tudo bem.
E enquanto assim for, vai haver muita gente a viver bem à conta delas...

Liberdades

Um mega temporal lá fora, vento, frio e chuva a cair em todas as direcções.
Um capuccino e um chocolate quente num café simpático perto da Central Station.
Uma boa conversa com uma nova amiga que parece que conheço há anos... partilhar histórias do passado, fases, empregos, decisões...

Aqui posso ser quem eu quiser.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

In Rainbows

As minhas preferidas são All I Need e House of Cards.

Entre cá e lá

Aquilo que vim fazer quando saí de Portugal já fiz.
(uma versão do chegar, ver e vencer de trazer por casa)
No entanto as razões que me levaram a sair permanecem.
Ouço os planos de quem quer sair de Portugal, o entusiasmo, os ouvidos atentos a beber as nossas palavras, a absorver as nossas experiências ávidos de viver o mesmo, e identifico-me com essa vontade mas já não me reconheço nela.
Há uns anos uma amiga da minha irmã regressou a Portugal após alguns anos passados em Itália. Eu achei a coisa mais estranha do mundo ela voltar e perguntei "porquê?"
Ela respondeu-me:
"Estava farta de viver um Erasmus eterno"
Hoje compreendo o que ela quis dizer (na altura a perspectiva de um Erasmus eterno pareceu-me bastante bem devo dizer).
Nada disto é estável, por muito contrato de trabalho e casa comprada, mas pensar em assentar também me dá um frio na barriga...

Enfim...hoje é daqueles dias...

Dilema

Com uma pequena constipação (isto de passar do Verão para o Inverno assim é no que dá), mais uma grande pedrada de sono que ainda não recuperei do fim de semana, mais uma certa moleza devido à vacina da gripe, ou seja neste limbo entre a saúde e a doença, entre o acordado e a dormir eis que se me dá para me pôr a pensar que sinto muito a falta de fazer aquilo que gosto.
O mais engraçado é que quando fazia o que gostava queria ter exactamente aquilo que tenho agora (ordenado suficiente para não ter de pensar no assunto, contrato, segurança, benefícios).
No entanto sinto uma falta imensa daquele entusiasmo e satisfação que se tira do trabalho.
Drama...

Desafio - responder sff

Quem faz aquilo que gosta e ganha o suficiente ponha o dedo no ar!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Eu sei - mas o meu sub-consciente não quer acreditar

Eu sei que 25 graus em Novembro não é normal, e que em breve o Inverno vai chegar.
Eu sei que não há festas todos os fins de semana, que não fazemos comboios de primos com frequência, que há 5 anos que não dançávamos assim em todos juntos em família.
Eu sei que nem todos os domingos há lanches de bolo de chocolate.
Eu sei que vocês não tomam o pequeno almoço na esplanada nem almoçam nos Santinhos assim sem mais nem menos.
Eu sei que sempre que nós vamos se passam coisas excepcionais que não têm lugar no vosso dia-a-dia.

Eu sei de tudo isso, mas desta vez custou-me muito regressar à normalidade.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tudo é amor

"Alles is liefde" (a frase que encabeçou o meu blog durante uma semana) significa, isto para quem não sabe, que eu bem sei que há certas e determinadas pessoas que visitam o meu blog que não falam holandês, significa dizia eu "tudo é amor".

Esta frase, pirosada à parte, podia muito bem ser a legenda deste fim de semana, recheado todo ele das mais diversas manifestações de amor.

O amor dos que se casaram.
O amor-próprio e a força de quem acaba de perder aquele que poderia ser o grande amor.
O amor dos que se amam há mais de um ano mas só agora começam a criar o seu quotidiano e a construir um dia-a-dia em conjunto.
O amor das futuras mães, lindas e resplandecentes com as suas barriguinhas ainda em miniatura.
O amor da mais recente mãe-coragem, que estas coisas da maternidade nem sempre são rosas mas com amor tudo se consegue.

Alles is liefde. Acreditem.

O Rei morreu. Viva o Rei!

Que é como quem diz "Rei morto, Rei posto".

O Vaio morreu, viva o Toshiba!
(que é azul metalizado com teclado prateado que inclui C de cedilha, til e acento circunflexo... tão giro!)

PS. o títuto de carácter monárquico é uma influência dos livros que andei a papar nesta semana desligada do mundo, sem internet, televisão, telefone ou rádio - 2 volumes e meio da colecção Os Reis Malditos)

A morte do Vaio

Saiu sem tomar pequeno almoço (versão dele "não havia nada em casa", minha versão "havia pão, queijo, fiambre, leite"...anyway, adiante).
Ficou com fome e comprou umas bolachas de chocolate.
Ficou mal disposto, chegou a casa e vomitou.
Resolveu fazer uma chá e veio para a sala.

E foi assim que o meu Vaio morreu afogado.
(e que ninguém diga que tinha falta de chá)