Recebi este desafio do
blog da Sofia (é o primeiro desafio que recebo!), que o passou à Mary de Amesterdão. Assim sendo vou escrever 10 coisas que ainda não escrevi aqui sobre a Mary de Amesterdão, e não sobre a Mary em geral:
1) A ideia inicial era ir para Londres, mas depois ficámos com medo de ser um salto demasiado no escuro. As histórias que ouvíamos de Londres eram sempre de vidas difíceis. Resolvemos vir para a Holanda porque pelo menos tínhamos cá alguém conhecido que nos podia dar uma mão.
2) viemos a primeira vez a Amsterdam em 1999 no inter rail, e quando cá cheguei identifiquei-me de imediato com a cidade, e lembro-me de pensar "gostava de criar os meus filhos aqui". 8 anos depois, com idade e possibilidade para ter filhos, não os quero ter aqui. No entanto, todos os dias passo por uma escola no meio do parque, com muitas bicicletas pequeninas estacionadas no gradeamento do recreio. As crianças devem mesmo ser felizes aqui.
3) as primeiras pessoas que nos vieram visitar foi a A. e o E. Posso viver 100 anos que nunca me vou esquecer da sensação de os ver em frente à florista na estação. Tivemos outros reencontros emocionantes, mas este foi o primeiro e foi muito especial.
A despedida que mais me custou foi a da minha maninha e sobrinhada. Depois de uma semana insólita em que tudo aconteceu (eu arranjei 2 empregos, fiz 28 anos, fomos à Holanda dos pequeninos, a Antuérpia e a Bruxelas, vieram inspectores ver a nossa casa e o Tony pôs a casa à venda), vê-los partir deixou-me um vazio imenso.
4) aqui tudo me parece volátil - nada tem uma base sólida (em sentido figurado e real também, que esta terra não tem mesmo uma base sólida). As amizades, as pessoas, as casas, os empregos tudo está constantemente a mudar. Tudo é de passagem. Sabemos que nada aqui é definitivo.
5) gosto dos mercados, dos parques, das bicicletas, das lojas, dos canais, das casas, dos museus, das pessoas que vivem e deixam viver, da multiculturalidade.
6) não gosto da chuva, do tempo sempre cinzento, das pessoas frias, da falta de sangue na guelra desta gente, da comida.
7) tenho saudades do sol, do mar, do bom tempo, da praia, do café, da comida. Da família, dos amigos, da vida em geral, do centro da Parede, do Chiado.
8) uma coisa que mudou em mim desde que chegámos (apesar de eu achar que se calhar ia acontecer quer tivéssemos vindo ou não) foi que comecei a gostar de cheirinhos (leia-se velas aromáticas, ambientadores, queimadores, até perfumes). Nunca gostei nada dessas coisas, mas quando mudámos para a nossa 1ª casa no sul de Rotterdam a presença dos anteriores inquilinos era ainda bastante evidente, pelo que comprámos umas velas aromáticas para dar cheiro à casa. Foi um novo mundo que se abriu. De cada vez que íamos ao Ikea era às dezenas de velas de alfazema, marinhas, morango, laranja (os copos são ainda os nossos copos da cozinha). Uma das vezes que fui a Portugal na casa da família P. tomei contacto com a realidade "queimadores" (não que não conhecesse mas estas coisas sempre me passaram ao lado), e não descansei enquanto não arranjei um para a sala e outro para a cozinha. Um fascínio. A última foi a re-descoberta dos perfumes. Em toda a minha vida tinha tido 2 perfumes - um oferecido pela minha mãe que eu usei no 1º ano da faculdade e que como foi um ano mau para mim lá ficou o perfume associado à desgraça; outro oferecido pelos amigos que eu usava apenas para sair à noite e que ainda deve andar lá por casa dos meus pais a meio do frasco. Eu sempre fui mais de água de colónia para bebé. Pois que de há um tempo para cá tive vontade de ter um perfume, e depois de muito procurar (eu e os free-shops no aeroporto é tu cá tu lá como sabeis) lá me resolvi não por uma mas por duas eau de toilette da Body Shop (perfumes a sério ainda acho muito fortes, mas lá chegaremos).
9) uma coisa que muita gente não sabe é que a ideia de sair de Portugal não foi minha, mas do T. Claro que sempre quisemos ir para fora, e falávamos nisso com frequência, mas parecia que nunca era a opção adequada. No fundo eu e o T. vivemos em timings diferentes, o que é normal dada a diferença de idades. Ou seja, quando eu queria, ele não quis. Eu praticamente desisti e avancei com a minha vida. Foi quando eu já nem pensava mais nisso que ele repescou a ideia. Eu por mim já nem fazia muita questão, mas sabia que se não saíssemos naquela altura não o faríamos mais.
10) o dia em que saímos de Portugal funciona para nós como o dia do nosso casamento - 18 de Janeiro (não sabemos se foi exactamente a 18 que saímos ou chegámos, não interessa). Foi estranho, porque foi um dia muito feliz para nós, em que estávamos a fazer aquilo que queríamos e a realizar o nosso sonho, mas ao mesmo tempo foi o dia em que causámos mais sofrimento à nossa volta. Se eu pudesse voltar atrás apagava esse dia da minha vida, e da vida dos que gostam de nós. Não posso.
E desafio quem ler estas 10 coisas a pensar também em 10 coisas sobre si mesmo.
Não é nada fácil!