Quarentena começa a ser pouco para aquilo que estamos a viver, já estamos mais perto da cinquentena e sabemos lá até quando é que isto dura, e o que se vai seguir...
Noto que estamos todos basicamente a ficar um pouco loucos, a alternar entre o alto e o baixo, entre o aproveitar o bom que há nisto tudo e o fartos que estamos todos desta porcaria.
Por cá continuo, desde o dia 1, a sentir falta dos meus momentos. Não me consigo ouvir, não consigo seguir uma linha de pensamento, ler um artigo, ler notícias, ou o que quer que seja sem ser interrompida. Mil vezes.
Mal comparado, sinto-me como me senti quando tinha dois bebés e só conseguia (mal!) ser mãe, mãe, mãe - onde andava eu, Mary, no meio das fraldas e babetes? Por aí perdida.
Agora igual. Há menos fraldas (mas ainda há), mas há escola nos portáteis e na televisão, TPC para supervisionar, e entre comidas e roupas e limpezas e o raio, ando eu meia perdida.
(para escrever estes 3 parágrafos tive de interromper nem sei quantas vezes, mandar separar outras tantas. Há uma tenda na sala à minha espera. Não consigo ter nem dois minutos para escrever)
Isto às tantas pode ser muito sufocante.
É isso que sinto.
quarta-feira, 29 de abril de 2020
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Sobre o ensino doméstico
Sempre foi coisa que me fez a maior espécie.
Nem tanto pela minha incapacidade de me dedicar exclusivamente aos meus filhos, mas porque para mim a escola é, com todos os seus defeitos, muito mais do que as aulas.
A escola é amizade, companheirismo, é responsabilidade, é estar longe dos papás e dos irmãos, é permitir que as crianças cresçam de facto e sejam quem quiserem.
Tantas e tantas vezes acontece que os miúdos são uns em casa e outros na escola, e isso é tão importante.
E claro que há coisas más, péssimas mesmo - os miúdos são gozados, há enxertos de porrada pelos miúdos mais velhos, há casa de banho sem condições nenhumas, há comida de fraca qualidade (e estou a falar da escola dos meus mesmo) - mas tudo isso faz parte, tudo isso é experiência, tudo isso é escola.
Penso nas minhas memórias dos tempos da escola e quase nada acontece dentro da sala de aula, ou o que acontece tem pouco a ver com a matéria e com os professores.
Isto tudo para dizer que tenho a maior pena destes miúdos, deste confinamento, das aulas online, da tele-escola - com tudo de bom que está a correr, porque dentro do estilo não podia estar a correr melhor.
Mas caraças pá, escola sem colegas e sem recreio serve para quê mesmo?
Nem tanto pela minha incapacidade de me dedicar exclusivamente aos meus filhos, mas porque para mim a escola é, com todos os seus defeitos, muito mais do que as aulas.
A escola é amizade, companheirismo, é responsabilidade, é estar longe dos papás e dos irmãos, é permitir que as crianças cresçam de facto e sejam quem quiserem.
Tantas e tantas vezes acontece que os miúdos são uns em casa e outros na escola, e isso é tão importante.
E claro que há coisas más, péssimas mesmo - os miúdos são gozados, há enxertos de porrada pelos miúdos mais velhos, há casa de banho sem condições nenhumas, há comida de fraca qualidade (e estou a falar da escola dos meus mesmo) - mas tudo isso faz parte, tudo isso é experiência, tudo isso é escola.
Penso nas minhas memórias dos tempos da escola e quase nada acontece dentro da sala de aula, ou o que acontece tem pouco a ver com a matéria e com os professores.
Isto tudo para dizer que tenho a maior pena destes miúdos, deste confinamento, das aulas online, da tele-escola - com tudo de bom que está a correr, porque dentro do estilo não podia estar a correr melhor.
Mas caraças pá, escola sem colegas e sem recreio serve para quê mesmo?
quarta-feira, 22 de abril de 2020
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Quarentena must do
Também já temos a nossa despensa devidamente organizada e limpa, e muito arrumadinha.
Tínhamos feito isso há pouco tempo, achava eu, mas pelas contas das coisas fora de prazo há de ter sido ali em 2015 ou 2016.
A coisa mais fora de prazo de todas faz-nos regressar aos idos anos de 2011/2012 em que eu queria ficar em forma mas não estava bem a perceber como: um chá para emagrecer com prazo a acabar em 2013.
Foi uma operação que demorou poucas horas, e foi maioritariamente feita pelo Tê, mas que ainda assim pode entrar na minha lista de feitos na quarentena.
sábado, 18 de abril de 2020
Ao 37o dia de quarentena
Passei (por motivos de força maior*) quase 12 horas fora de casa.
Estou para lá de cansada...
(* fui fechar-me noutra casa a fazer arrumações)
terça-feira, 14 de abril de 2020
First world problems
Os meus dramas de consumo nesta quarentena:
- anda tudo doido a fazer pão em casa, e o stock de fermento de padeiro esgotou
- o meu creme para acne em peles maduras (que é diferente do acne da adolescência, ficam a saber) só se compra nas farmácias. E agora, fico na fila de máscara e luvas para pedir um creme? Não me parece...
- no meu dia a dia normal compro coisas específicas em supermercados específicos - vou a um ou outro consoante o que estou a precisar, e claro, há sempre aquela vez que passo no hipermercado grandão, que tem imensa escolha. Agora vamos a um supermercado de vez em quando, nem pensar em andar a passarinhar, e pronto, chego sempre a casa a faltar alguma coisa
- tenho feito uma alimentação específica nos últimos anos, e agora é o drama... a massa da marca sem glúten que eu gosto (italiana) já esgotou em quase todo o lado, e a farinha de espelta biológica também está difícil de encontrar
- uma pessoa até vai ali à mercearia do bairro com todo o gosto - tem óptimos frescos (não todos, mas muitos sim) e são - isso sim - óptimas pessoas, sempre prontos a ajudar de sorriso na cara e a dizer piadas, mas caraças, às tantas é frustrante a quantidade de coisas que não há: iogurtes naturais (só de aroma), corn flakes simples, fio dentário e por aí fora...
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Sobre a Páscoa
Já tive algumas Páscoas diferentes, inclusivamente Páscoas que me passaram completamente ao lado, mas uma Páscoa a 5 em casa foi - como para todos vós, calculo - a primeira vez.
Custou-me, confesso.
Depois de um Natal difícil e diferente, um ano novo que nem comento, ora bolas que acho que merecíamos uma Páscoa como deve ser. Se calhar não, não sei.
Foi talvez o dia que mais me custou não estar com a família alargada.
Há um ano passámos a Páscoa em casa do meu pai, e tirámos a fotografia que temos até hoje no nosso grupo de whatsapp.
Era inimaginável que um ano depois estaríamos assim - sem pai presente, sem casa comum onde nos reunirmos, cada um em seu concelho e com proibição à séria de nos encontrarmos.
Custou-me também porque este ano os planos eram de irmos para Norte, festejar a Páscoa mais tradicional este ano ainda mais porque a avó do Tê fez anos no domingo - os planos eram de festejar duplamente e à séria.
Quis o destino que os festejos ficassem adiados.
No entanto, fiz pela primeira vez folar que foi todo ao pequeno almoço. Demos um passeio a pé e fomos dizer adeus à janela dos avós (e trazer o almoço) e tios.
Comemos muito, e muito bem!
À tarde demos outra volta, e acabamos o dia com uma caça aos ovos na sala. Descobrimos que a mais nova, do alto dos seus 3 anos, é excelente a encontrar chocolate!
Foi bom, claro que foi.
Mas se for possível, não vamos repetir.
Custou-me, confesso.
Depois de um Natal difícil e diferente, um ano novo que nem comento, ora bolas que acho que merecíamos uma Páscoa como deve ser. Se calhar não, não sei.
Foi talvez o dia que mais me custou não estar com a família alargada.
Há um ano passámos a Páscoa em casa do meu pai, e tirámos a fotografia que temos até hoje no nosso grupo de whatsapp.
Era inimaginável que um ano depois estaríamos assim - sem pai presente, sem casa comum onde nos reunirmos, cada um em seu concelho e com proibição à séria de nos encontrarmos.
Custou-me também porque este ano os planos eram de irmos para Norte, festejar a Páscoa mais tradicional este ano ainda mais porque a avó do Tê fez anos no domingo - os planos eram de festejar duplamente e à séria.
Quis o destino que os festejos ficassem adiados.
No entanto, fiz pela primeira vez folar que foi todo ao pequeno almoço. Demos um passeio a pé e fomos dizer adeus à janela dos avós (e trazer o almoço) e tios.
Comemos muito, e muito bem!
À tarde demos outra volta, e acabamos o dia com uma caça aos ovos na sala. Descobrimos que a mais nova, do alto dos seus 3 anos, é excelente a encontrar chocolate!
Foi bom, claro que foi.
Mas se for possível, não vamos repetir.
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Livro 11/53
A solidão dos números primos, de Paolo Giordano
Perturbador.
Os primeiros capítulos são de arrepiar, mas impossíveis de parar de ler, depois o ritmo abranda, as personagens crescem e a voracidade da leitura perde o vigor.
Gostei muito do início, e fui deixando de gostar tanto à medida que se aproximava o fim.
Muito bem escrito.
Dei 4 estrelas e recomendo.
(à procura de imagens para ilustrar percebo que já se fez um filme também)
Consideração sobre os meus filhos mais velhos
Façam o que façam, acabam sempre à porrada.
Sem-pre.
Eu não lhes faço nada. Juro.
E não me meto porque sei que não interessa e não vale a pena.
Também tento não me desgastar com isso, e no geral consigo - é que de outra forma nem sobrevivia, tinham de me internar na ala de psiquiatria, não havia outra hipótese.
Dito isto, ao fim do dia estou capaz de os rifar.
Não. Estou capaz de pagar para que mos levem.
F.....-se.
Sem-pre.
Eu não lhes faço nada. Juro.
E não me meto porque sei que não interessa e não vale a pena.
Também tento não me desgastar com isso, e no geral consigo - é que de outra forma nem sobrevivia, tinham de me internar na ala de psiquiatria, não havia outra hipótese.
Dito isto, ao fim do dia estou capaz de os rifar.
Não. Estou capaz de pagar para que mos levem.
F.....-se.
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A minha do meio,
O meu mais velho,
Quarentena 2020
quarta-feira, 8 de abril de 2020
Mais dias de quarentena
Como em tudo, na quarentena também vamos passando por diferentes fases - ainda para mais que já andamos nisto há quase um mês.
Eu adoro os meus ricos filhos, e toda a gente sabe disso, mas caramba às tantas já não os posso ouvir.
Preciso de silêncio, preciso que eles se calem e me deslarguem da mão, caraças.
Se podia ser pior, claro que podia, foge, se podia, mas todos temos aqui um ponto de ruptura e cá para mim a hora do silêncio já se podia estender para o dia do silêncio. Ou dias, vá.
Percebi outra coisa (parva) que faz (muito) parte do meu dia a dia e de que sinto a falta: andar de carro a ouvir música, a cantar e a organizar as ideias.
Resolvi muitas coisas da minha cabeça ao volante. Ir a conduzir estrada fora com as lágrimas a correr, é uma terapia.
Dizem que depois de perdermos alguém não há nada como um regresso às rotinas, à normalidade dos dias, para o luto se ir fazendo. Preencher o nosso vazio com as coisas que nos fazem felizes. Assim fica difícil...
Tenho milhares e milhares de razões para ser feliz dentro de casa - e sou, sou muito! - mas ele há dias em que uma pessoa só lhe apetece pegar no carro e sair daqui para fora.
Dei uma volta de carro aqui na zona ontem e o cenário é de filme de terror: filas e filas à porta dos supermercados, as pessoas na rua com medo, nervosas.
É tudo muito deprimente. Nem aqueles 5 minutos sozinha ao volante me souberam bem.
Fala-se agora da questão do "vai ficar tudo bem", se não podemos indignar-nos contra este optimismo, se não temos direito a achar que vai ficar tudo mal.
Podemos.
Mas não vai ficar tudo mal, malta.
Também não sei se vai ficar tudo bem.
Vai ficar (e acreditem em mim) como tiver de ficar, e depois nós (cada um de nós) vai sentir que está tudo bem ou não, conforme a nossa força interior.
E é com esta pérola da psicologia barata (mas verdadeira), que vos deixo hoje.
Amanhã será melhor.
Eu adoro os meus ricos filhos, e toda a gente sabe disso, mas caramba às tantas já não os posso ouvir.
Preciso de silêncio, preciso que eles se calem e me deslarguem da mão, caraças.
Se podia ser pior, claro que podia, foge, se podia, mas todos temos aqui um ponto de ruptura e cá para mim a hora do silêncio já se podia estender para o dia do silêncio. Ou dias, vá.
Percebi outra coisa (parva) que faz (muito) parte do meu dia a dia e de que sinto a falta: andar de carro a ouvir música, a cantar e a organizar as ideias.
Resolvi muitas coisas da minha cabeça ao volante. Ir a conduzir estrada fora com as lágrimas a correr, é uma terapia.
Dizem que depois de perdermos alguém não há nada como um regresso às rotinas, à normalidade dos dias, para o luto se ir fazendo. Preencher o nosso vazio com as coisas que nos fazem felizes. Assim fica difícil...
Tenho milhares e milhares de razões para ser feliz dentro de casa - e sou, sou muito! - mas ele há dias em que uma pessoa só lhe apetece pegar no carro e sair daqui para fora.
Dei uma volta de carro aqui na zona ontem e o cenário é de filme de terror: filas e filas à porta dos supermercados, as pessoas na rua com medo, nervosas.
É tudo muito deprimente. Nem aqueles 5 minutos sozinha ao volante me souberam bem.
Fala-se agora da questão do "vai ficar tudo bem", se não podemos indignar-nos contra este optimismo, se não temos direito a achar que vai ficar tudo mal.
Podemos.
Mas não vai ficar tudo mal, malta.
Também não sei se vai ficar tudo bem.
Vai ficar (e acreditem em mim) como tiver de ficar, e depois nós (cada um de nós) vai sentir que está tudo bem ou não, conforme a nossa força interior.
E é com esta pérola da psicologia barata (mas verdadeira), que vos deixo hoje.
Amanhã será melhor.
terça-feira, 7 de abril de 2020
Só uma palavrinha sobre a situação actual
Estou farta desta merda toda. To-da.
(pronto, já desabafei, podem ir à vossa vida)
(pronto, já desabafei, podem ir à vossa vida)
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Coisas do Mundo,
Coisas minhas,
Quarentena 2020
domingo, 5 de abril de 2020
Dias de quarentena
Nunca pensei, nunca mesmo, que viéssemos a passar por isto em 2020.
Muito frequentemente, muito mesmo, durante as minhas visitas refiro epidemias anteriores - a de cólera que matou o D.Pedro V e alguns dos seus irmãos no séc. XIX, a de "gripe espanhola" que matou o Amadeo em 1918 - mas sinceramente nunca imaginei que fossemos passar por isto.
Fez ontem 3 meses que o meu pai partiu, e garanto-vos que parece que foi há 3 anos.
Penso naqueles dias no hospital em que ali estivemos junto dele até ao último suspiro, penso nos dias que se seguiram, nos velórios, missas e funeral, e nos abraços que recebemos - centenas, milhares! - que nos encheram a alma.
Que arrepio pensar nos que morrem agora, no quanto o mundo mudou - todos mudámos - desde então.
Já lá vão mais de 20 dias de confinamento, e aos poucos vamos percebendo que afinal, como em tudo, aguentamos mais do que imaginamos. Aguentamos tudo, deixem que vos diga, e isso é também deveras assustador.
Já lá vão mais de 20 dias, mas digamos que o tempo até passou bastante rápido. Muitos planos e coisas que tenho para fazer ainda permanecem iguais - o quarto das miúdas por destralhar, principalmente.
Considero-me uma pessoa bastante caótica, e descontraída, mas depois vejo que não. Sou obstinada com os horários, faz-me confusão que os miúdos saiam da rotina, e estou passada com esta história da mudança de horário porque ando a acordar mais tarde e isso - mesmo tendo zero compromissos - faz-me espécie.
Faço a minha caminhada matinal, faço ginástica na minha app (que uso há meses), visto-me normalmente (e não de fato de treino!), só não uso maquilhagem (mas ainda assim nos primeiros dias ainda usei!). Obrigo os miúdos a vestir, pentear e tudo e tudo nem que seja para depois se sentarem no sofá, detesto vê-los de pijama depois do pequeno-almoço.
Estou farta de cozinhar, principalmente de fazer sopa, mas não consigo abdicar de a fazer. Sopa, salada, fruta, tudo dentro da normalidade
Acho que os anos a trabalhar em casa me deram as ferramentas para saber sobreviver a isto de forma relativamente tranquila, mas isso implica ser rigorosa nas regras - e sou um bocado obcecada com isso, confesso.
No meu dia a dia normal passo muitas horas sozinha.
Acontece muitas vezes ir trabalhar e não me cruzar com colegas (por diferenças de horários) e normalmente almoço sozinha, muitas vezes até em casa (mas sozinha). E sim, sinto falta desse silêncio, de estar sozinha sem dar atenção a ninguém.
Do lado oposto sinto, sentimos todos, falta dos primos, tios e avós, que fazem parte do nosso dia a dia, tanto à semana como ao fim de semana, além dos amigos, claro. Os miúdos estão com umas saudades enormes de estar com outros miúdos além deles próprios - mas eu até acho que lhes faz bem serem obrigados a entenderem-se.
Penso muito no que vai acontecer depois de tudo acabar.
Tudo isto vai revolucionar a nossa maneira de viver, e infelizmente nem tudo é cor de rosa nos tempos que se aproximam.
Eu estou sem trabalho até sei lá quando, uma quantidade de empresas não vão sobreviver, vamos todos penar durante uns anos por causa disto - e logo agora que começávamos timidamente a sair dos efeitos da crise de 2008.
Até lá, cada um faz a sua parte e fica em casa o melhor que pode.
Já não falta tudo!
Muito frequentemente, muito mesmo, durante as minhas visitas refiro epidemias anteriores - a de cólera que matou o D.Pedro V e alguns dos seus irmãos no séc. XIX, a de "gripe espanhola" que matou o Amadeo em 1918 - mas sinceramente nunca imaginei que fossemos passar por isto.
Fez ontem 3 meses que o meu pai partiu, e garanto-vos que parece que foi há 3 anos.
Penso naqueles dias no hospital em que ali estivemos junto dele até ao último suspiro, penso nos dias que se seguiram, nos velórios, missas e funeral, e nos abraços que recebemos - centenas, milhares! - que nos encheram a alma.
Que arrepio pensar nos que morrem agora, no quanto o mundo mudou - todos mudámos - desde então.
Já lá vão mais de 20 dias de confinamento, e aos poucos vamos percebendo que afinal, como em tudo, aguentamos mais do que imaginamos. Aguentamos tudo, deixem que vos diga, e isso é também deveras assustador.
Já lá vão mais de 20 dias, mas digamos que o tempo até passou bastante rápido. Muitos planos e coisas que tenho para fazer ainda permanecem iguais - o quarto das miúdas por destralhar, principalmente.
Considero-me uma pessoa bastante caótica, e descontraída, mas depois vejo que não. Sou obstinada com os horários, faz-me confusão que os miúdos saiam da rotina, e estou passada com esta história da mudança de horário porque ando a acordar mais tarde e isso - mesmo tendo zero compromissos - faz-me espécie.
Faço a minha caminhada matinal, faço ginástica na minha app (que uso há meses), visto-me normalmente (e não de fato de treino!), só não uso maquilhagem (mas ainda assim nos primeiros dias ainda usei!). Obrigo os miúdos a vestir, pentear e tudo e tudo nem que seja para depois se sentarem no sofá, detesto vê-los de pijama depois do pequeno-almoço.
Estou farta de cozinhar, principalmente de fazer sopa, mas não consigo abdicar de a fazer. Sopa, salada, fruta, tudo dentro da normalidade
Acho que os anos a trabalhar em casa me deram as ferramentas para saber sobreviver a isto de forma relativamente tranquila, mas isso implica ser rigorosa nas regras - e sou um bocado obcecada com isso, confesso.
No meu dia a dia normal passo muitas horas sozinha.
Acontece muitas vezes ir trabalhar e não me cruzar com colegas (por diferenças de horários) e normalmente almoço sozinha, muitas vezes até em casa (mas sozinha). E sim, sinto falta desse silêncio, de estar sozinha sem dar atenção a ninguém.
Do lado oposto sinto, sentimos todos, falta dos primos, tios e avós, que fazem parte do nosso dia a dia, tanto à semana como ao fim de semana, além dos amigos, claro. Os miúdos estão com umas saudades enormes de estar com outros miúdos além deles próprios - mas eu até acho que lhes faz bem serem obrigados a entenderem-se.
Penso muito no que vai acontecer depois de tudo acabar.
Tudo isto vai revolucionar a nossa maneira de viver, e infelizmente nem tudo é cor de rosa nos tempos que se aproximam.
Eu estou sem trabalho até sei lá quando, uma quantidade de empresas não vão sobreviver, vamos todos penar durante uns anos por causa disto - e logo agora que começávamos timidamente a sair dos efeitos da crise de 2008.
Até lá, cada um faz a sua parte e fica em casa o melhor que pode.
Já não falta tudo!
quinta-feira, 2 de abril de 2020
Livro 10/53
Os Despojos do Dia, de Kazuo Ishiguro
Mais um da biblioteca do meu pai, e deste lembro-me de ter falado com ele (num dia qualquer em que andei lá a ver o que trazia a seguir) e sei que gostou.
Eu também gostei.
Não sendo aquele livro que se devora em um dia, que estamos naquela impaciência para termos tempo de o ler porque queremos muito continuar, é um livro que nos transmite uma grande serenidade e, usando as palavras do autor, dignidade.
Não vi o filme, mas é inevitável não ter a imagem do Anthony Hopkins como Mr. Stevens, o clássico mordomo inglês que atravessa o século XX, inicia a carreira na I Guerra e acompanha de perto os acontecimentos que vão desembocar na II Guerra e depois disso até aos anos 50, o momento presente do livro.
Há momentos muito bem descritos, apesar da simplicidade, em que quase sentimos o cheiro de Darlington Hall, desde o chão encerado, às pratas polidas, às flores no jardim, tudo tão bem definido. Tão inglês e tão japonês ao mesmo tempo, como o autor.
Fiquei com vontade de ver o filme.
Dei 4 estrelas e recomendo.
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