segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Sobre não saber lidar

Com esta guerra, a primeira na idade adulta que presencio.
Tudo ganha outra dimensão. 
As famílias refugiadas no metro (o que se leva nestas ocasiões?), as casas destruídas (quem é que vai pagar?), as filas e filas a tentar sair do país (como se deixa uma vida para trás?).
O que dizer aos pré-adolescentes para lhes explicar como se chega até aqui?
Há explicação?
Em 2022 como é que se chegou até aqui mesmo?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Coisas que me ocorrem

Como terá sido ser mãe sem o desafio dos telemóveis e jogos online?

Livro 6/2022

 

Almoço de Domingo, de José Luís Peixoto
Trazido da biblioteca por impulso, por estar nos destaques e por me lembrar vagamente de ter tido boas notas no Goodreads (que confirmei depois).
Haverá muitas maneiras de escrever uma biografia de uma pessoa que se destaca, mas nenhuma igual a esta seguramente, ainda para mais estando o biografado vivo - que bom que deve ser ler assim a nossa vida escrita desta maneira.
Já li um outro livro deste autor - O Cemitério de Pianos - na altura gostei imenso, e há passagens e personagens que me acompanham desde que o li (em 2007 ou 2008, nem sei).
Desde então no entanto deixou de me apetecer este tipo de escrita, esta prosa poética, esta enchurrada de imagens, cheiros, sons e texturas em cada frase, de que ele é mestre. Acho que fez escola com outros autores portugueses, mas nenhum usa as figuras de estilo como ele, os outros acabam por não lhe chegar aos calcanhares. Por muito bonito que seja, nem sempre estamos para aí virados, e tudo o que é demais enjoa.
Aqui não chega a enjoar, está tudo na medida certa, os episódios saltitam entre as páginas desde as recordações da infância, o início dos negócios, os festejos dos seus 90 anos. Um livro bonito, uma história bonita também (ou pelo menos os episódios relatados), até o papel escolhido para as páginas é bonito (tem corpo e presença) - foi um prazer lê-lo até ao fim.
Dei 4 estrelas (porque apesar de tudo não estive sempre naquela ânsia de o ler), mas recomendo muito.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Livro 5/2022

 

O Gigante Enterrado, de Kazuo Ishiguro
Sobre aquelas idas para fora de pé, tentativas de ler alguma coisa muito fora da minha zona de conforto. Logo na contracapa deu para perceber que tinha tudo para dar errado - duendes, ogres, dragões - mas confiei no autor e foi aquele impulso de trazer uma coisa completamente diferente da biblioteca.
O tema que me chamou a atenção - e que é no fundo a parte mais interessante da história - é a memória. A forma como a falta de memória nos afeta, nos traz dissabores mas nos poupa também de outros tantos. Não ter memórias nem felizes nem infelizes é, a meu ver, viver no vazio. E sendo eu de História, para quem memória é tudo, achei curiosa esta visão de uma aldeia remota mergulhada numa névoa de amnésia.
O interesse começa e acaba aí mesmo...
Um casal de anciãos resolve abandonar a sua aldeia/comunidade para ir em busca do filho, a quem perderam o rasto. Pelo caminho encontram diversas personagens, boas e más e as duas coisas, e percebem o que realmente se passou para o filho estar desaparecido.
Muitos capítulos não acrescentam nada, muitas personagens e episódios também não. Ainda ia no início e vejo no Goodreads que a Tella lhe deu 1 estrela e desistiu sem chegar à metade- talvez isso me tenha espicaçado para conseguir ir mais longe! Passado o meio já foi um bocado teimosia e curiosidade, vá, de saber onde é que o livro ia dar, mas com alguma dose de paciência.
Dei 3 estrelas, porque apesar de tudo fui sempre continuando a ter interesse, mas não recomendo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

A espuma dos dias

 O ratinho na roda e a roda do ratinho, e cá estamos a tentar dar conta de tudo, mil pratos no ar a ver se não caem todos, porque um ou dois vão caindo, isso é garantido.

Esta pós-pandemia, ou pós confinamento geral de 2020 em que tudo parou, trouxe-me mais trabalho por muito menos dinheiro. Sinto que trabalho o dobro do tempo e recebo metade. Estamos naquela fase de tentar aceitar tudo porque há pouco, e o pouco que há não é garantido, e andamos a sacrificar os dias, a família, o tempo de descanso, por meia dúzia de trocos. Até quando?

Os isolamentos também trouxeram amargos de boca, os miúdos meio perdidos quanto às matérias, os trabalhos por entregar, o final do semestre. Entre eles próprios isolados e os professores que também vêm e vão, está o caos instalado.

Os filhos crescidos trazem desafios crescidos também, e entre dramas de como ocupar tempos livres, dramas de como limitar a exposição aos ecrãs, mais as amizades que nem sempre são as mais saudáveis e os trabalhos da escola que ficam por fazer vamos tentando amparar os golpes. Ainda assim prefiro esta fase aos biberons e fraldas - até agora tem mesmo sido sempre a melhorar.

Estou fisicamente a precisar de chuva. Este tempo seco fora da época enerva-me tanto como a chuva em pleno verão. O sol de inverno tem graça por ser raro - semanas a fio de sol em pleno inverno é contra-natura.

Ontem foi domingo e eu trabalhei todo o dia, tal como no sábado aliás. Saí às 18h e apanhei uma grande chuvada a caminho da estação. Os comboios ao domingo ao fim do dia são uma terra de ninguém, e fazem-me sempre pensar que o que me pagam não vale o sacrifício.

Pelo caminho, casos e casos de Covid nas turmas, grupos de pais no Whatsapp ao rubro, sms de códigos que não irei usar nos próximos tempos.

Que tempos estes, hã?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Livro 4/2022

 

Se isto é um homem, de Primo Levi

Daqueles clássicos que era quase uma vergonha nunca ter lido, trazido da biblioteca mais uma vez por estar nos destaques.
Nunca tinha lido nada deste autor, e também nunca tinha lido um relato do Holocausto contado na primeira pessoa. E de repente percebemos de onde vêm as ideias que vamos vendo em livros e filmes, mas da perspetiva de quem lá esteve mesmo, e sobreviveu para contar.
À parte todas as atrocidades que de uma maneira ou de outra não são novidade, impressionou-me profundamente o próprio conceito do livro - um retrato sobre a natureza humana, sobre o que faz de nós de facto humanos, o que resta de nós quando tudo o que conhecemos nos é retirado - a casa, as coisas, a família, o cabelo, a capacidade de decidir seja o que for.
Fiquei a pensar na forma como cada um reage a essa situação, e no modo como aquilo que somos em sociedade desde a pré- História se repete uma e outra vez.
Dois exemplos.
O autor descreve alguns companheiros que o marcaram de uma forma ou de outra, e há um que todos os dias fazia questão de se "lavar" (com água suja e fria, sem sabão, com o perigo de ter as suas "coisas" roubadas ou de ficar doente) por dizer que era a única réstia de humanidade que lhe sobrava - toda a vida este senhor tinha lavado o rosto todas as manhãs como forma de começar o dia, e ali fazia questão de fazer o mesmo, de não se abandonar.
Eu identifiquei-me com este senhor no sentido da tentativa de organizar o caos, de tentar que alguma coisa faça sentido. Mal comparado assim o fiz nos confinamentos, todos os dias houve uma rotina definida, houve higiene feita de manhã e à noite, houve roupa vestida e cabelos penteados mesmo que fosse para ir do quarto para a sala e vice-versa - foi a minha forma de não me deixar levar pela insanidade, e não é melhor nem pior do que todas as outras! E também ali no campo de concentração não houve certos nem errados, houve formas de lidar com a situação diferentes - umas terão contribuído para a sobrevivência, outras não.
O outro exemplo tem a ver como mesmo sem possuir nada de nada, a relação comercial entre as pessoas prevalece. Um pedaço de guita, uma colher, uma taça, botões, tudo eram verdadeiras preciosidades que valiam mais do que o ouro, e que tal como na vida, alguns estão dispostos a tudo para adquirir. A troca e a negociação são intrínsecas à nossa condição humana. O preço era atribuído em porções da ração de pão, tinha variações consoante a situação em que se encontravam - na enfermaria, por exemplo, os "preços" estavam inflacionados.
Até quando os alemães abandonam o campo e antes da chegada dos russos 10 dias depois, a forma como os que ficaram para trás se organizam para subsistir nos mostra tanto do que é a natureza humana, do que é um homem afinal.
O livro termina no dia da libertação de Auschwitz - 27 de Janeiro 1945 - e eu por total coincidência terminei-o no mesmo dia, exatamente 77 anos depois.
Dei 5 estrelas e acho que é de leitura obrigatória.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

4 down, 1 more to go

 E estamos oficialmente livres de isolamentos nos próximos tempos!
A do meio, quando já quase acreditávamos que não ia acontecer, lá recebeu positiva no teste - e o estado de exaustão e loucura é de tal ordem que ela até festejou, acreditem...
Mais uma sem sintomas, praticamente, e claro, estava já farta de estar em casa sem saber quando é teria de voltar a ficar fechada, na cabeça dela era mais fácil apanhar de uma vez e ficar livre do assunto.
E sim, está muita gente a pensar desta forma, eu compreendo, ainda para mais quando vemos pessoas como nós a passar por isto com uma perna às costas, mas não nos esqueçamos da quantidade de gente que já morreu por conta deste vírus, e da incógnita que é para todos os efeitos da infeção a longo prazo...
É tentar não pensar muito no assunto, e acreditar que "vai ficar tudo bem", como se dizia em 2020.
(e ficar atentos a sintomas de fadiga, falta de ar, apatia, febre, nas próximas semanas, que ainda podem aparecer)

7 dias para um e 7 dias para outro e hoje já estão de regresso à escola, prontos para enfrentar os desafios do 2º semestre.
Ficamos só com uma ponta solta cá em casa, que é o pai. A pessoa menos sujeita a ter contacto com o vírus (a trabalhar em casa desde 2020, sem transportes, sem escritório, sem nenhuma atividade que não seja ao ar livre), foi também aquele que conviveu com o dito dentro de casa por 4 vezes, e passou sempre entre os pingos da chuva.
Sorte? Super-imunidade? Negação? Teimosia?
Um dia alguém explicará...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

3 down, 2 more to go

 Mais um na lista de infetados cá em casa, desta vez o mais velho e mais uma vez sem sintomas.
Cá em casa, ao que parece, vamos a conta gotas, um de cada vez.
E com isto a do meio já vai na 3ª semana confinada por conta de outrem, e ao que tudo indica ainda não é desta (aguardamos o resultado do PCR).

E agora, querem que vos diga que tal as aulas online?
Eu cá já ignoro, porque sinceramente já me cansei de mandar mails e refilar.

Não faço ideia se no fim da linha (lá à frente daqui a 5 ou 6 anos) isto se vai notar, mas caramba as diferenças entre o privado - em que os miúdos estão em casa a assistir às aulas todas no horário normal, com tarefas e trabalhos e tudo e tudo - e o público (aulas online inexistentes, envio de uma só tarefa por dia ou menos, professores que nem sequer aparecem na classroom e nunca chegam a aparecer).
Depois digam que há igualdade e democratização... Não há!

Menos mal que há férias intercalares de final de semestre, e com isto só perderam 3 dias de aulas, em vez de 6.
Agora vamos ver quando é que a do meio se decide a positivar, para tirarmos os isolamentos da equação de uma vez!