sexta-feira, 29 de outubro de 2021

1º dia de outono

Sempre assisti à minha mãe a ficar deprimida com o fim do verão. Falava muito nisso a partir do fim de setembro, com os dias mais curtos, e então com a mudança da hora pior um pouco - era uma "neura", usando a sua expressão.

Como temos tendência para ficar parecidas com as nossas mães, ou então no seu oposto, depois de uma adolescência e juventude a mal dizer o fim do verão e a chuva e a noite às cinco da tarde, pois que cada vez mais aprecio o que cada estação tem para nos oferecer.
E não, não tenho neura nenhuma por ter acabado o verão, muito menos com a mudança da hora - que tanto me ajuda a conseguir acordar cedo de manhã e ter manhãs mais tranquilas, e deitar mais cedo também indo para a cama a horas decentes (é só seguir o relógio biológico e tudo acontece uma hora mais cedo - e guess what, a hora que "perdemos" à noite ganhamos num momento muito mais rentável, que é a manhã).

Este ano consegui a proeza - sem esforço nenhum! - de nem sequer sentir aquela nostalgia do último mergulho, tive um setembro tão cheio de novidades, e com uma viagem pelo meio, nem me ocorreu que de facto a época balnear estava a terminar (é a minha preferida, que isso fique bem claro).

E assim foi com um sorriso que vi na previsão que os primeiros dias de outono de facto chegavam esta semana - é época disso mesmo, de castanhas e folhas laranja no chão, das abóboras e dióspiros, de trocar as sandálias pelas botas fechadas e viver o que de melhor cada estação tem para nos oferecer.
O que aí vem é lindo e maravilhoso? Claro que não - tanto que eu nem acho assim grande graça ao Natal, no entanto é este o tempo - e como diz a célebre passagem da Bíblia "tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu".
Há tempo para tudo e tudo tem o seu tempo.

Vamos lá abraçar esta passagem do tempo como a dádiva que ela de facto é, pois já se sabe que num abrir e fechar de olhos já estamos a mudar os relógios outra vez.



quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Eu, culpada também

 Disto.

Não nego que o desafio de leitura me motivou a ler mais - ler livros mesmo, e não artigos ou notícias no telemóvel. E isso não deixa de ser positivo, antes livros que outra coisa qualquer - mas não deixa de ser um motivo extrínseco à própria leitura, o querer superar um desafio.

No entanto é curiosa esta questão, em que nunca tivemos tanto acesso à informação e se calhar nunca fomos tão ignorantes. Ou a ignorância é a mesma, o que mudou foi a hipótese de acabar com ela mais facilmente.

Faz-me falta uma certa profundidade. Ficamos sempre um bocado pela rama, e há tanta e tanta coisa por ler, ver, saber que parece que o tempo de pensar, trocar ideias, discutir, escasseia.

Comemos muito e digerimos pouco, é o que é.


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O Fazedor de Nadas

 Ou a primeira ida ao teatro pós-pandemia.
Mesmo antes já ia tão pouco, e é das coisas que me custa, quero mesmo mudar este paradigma este ano!

Tenho uma prima atriz, e acabo por ir apenas e só às suas peças - o que é de lamentar porque sei bem que tantas vezes ela representa para salas vazias, e tantos outros farão o mesmo todos os dias em muitas salas pela cidade fora.
Por isso mesmo ela está de partida para fora do país, e a sua intenção é mesmo não voltar. (e o triste que é ver as pessoas da cultura nesta situação...)

Fui pela primeira vez ao Teatro Taborda, um espaço incrível com um café e esplanada com uma das melhores vistas de Lisboa. A sala de espetáculos é pequena e cheia de encanto.

A peça era indecifrável, daquelas que nos faz pensar se nos está a escapar alguma coisa, das que cada um interpreta à sua maneira, tão longe da realidade e de tudo o que conhecemos como de facto a arte deve ser.
Adorei!


Horário de Inverno

 Serei a única a ver o lado positivo do horário de Inverno?

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

12 anos passaram

 ...desde este post.

Reparei que nos posts de instagram do dia dos anos dele uso muito a palavra "desafio", e confirmo - ele foi sem dúvida o nosso maior desafio.
E de certa forma, ainda é - se bem que muito rapidamente (mesmo!) percebemos que temos é de ajustar a expectativa e por os pés no chão, e pelo qual o desafio vai sendo menor.

Este rapaz nasceu para nos dar uma grande lição de humildade, de ignorância, de capacidade para gerir a perda de controlo.
Nasceu e logo nos apercebemos que é do mundo, que até pode ter raizes mas que o que tem maior são as asas.
Nasceu para nos confrontar com os nossos maiores defeitos, é dos três o mais parecido connosco em tanta coisa - caótico, desorganizado, desarrumado, independente, não nos conta nada, sempre pronto para seguir caminho longe de nós (e eu sinto cá dentro do meu coração que na primeira oportunidade ele sai de casa e vai viver para outro país - e onde é que eu já vi isto, mesmo?).

Também é um miúdo fixe, dos que se enturmam rapidamente, sem levantar ondas, sempre pronto para tirar o melhor partido de cada momento - seja um mergulho no mar, um jogo de futebol, uma bola de berlim com Nutella.

Há 12 anos o desafio foi receber nos braços um bebé que em nada correspondeu à expectativa.
12 anos depois, expecativa ajustada, o desafio continua.
O nosso bebé do mundo sai para o mundo, não tarda nada.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Sobre o regresso à rotina

 Setembro foi um mês muito atípico, e daqueles em que coube muita coisa: férias na costa vicentina, a preparação para uma formação que vou dar, um novo trabalho num sítio novo, uma exposição que nunca tinha feito, uma viagem a Roma - passou a voar.

No meio da correria nem dei por falta de uma coisa que normalmente marca o meu Setembro que são as despedidas da época balnear. Há sempre um desejo de aproveitar a praia até à última, há sempre uma tentativa de aproveitar os últimos cartuchos e uma nostalgia associada ao fim do verão.
Este ano (também ele tão atípico!) nada disso aconteceu. Entre o fresco que se fez sentir aos fins de semana e o trabalho, não pus os pés na praia durante o mês todo (só nas férias), o que não é nada normal.

Depois de Roma ainda tivemos um fim de semana nas vindimas, e como bem sabeis ou podeis imaginar numa casa com 3 filhos, o caos ficou instalado - roupa suja acumulada, congelador vazio, cenas por arrumar. Passamos o feriado a tentar por a casa em ordem, a organizar quartos e garantir que pelo menos cuecas e meias (e tshirts para a educação física!) não faltam nas gavetas.

E assim aos poucos vamos regressando à rotina, ao mesmo tempo que o país regressa à normalidade - em ambos os casos um pouco diferente do que era antes.
Falta decidir a atividade desportiva da do meio (é uma saltitona e em cada ano quer mudar) e a ocupação das tardes livres dos dois mais velhos, mas já há sopa feita no frigorífico - e uma despensa que consegue safar uma refeição. 

Os sábados já são pontuados pelos jogos do mais velho, mas ontem deu para ir despedir da praia e dar o (talvez) último mergulho.
Agora sim, parece que chegou Setembro cá em casa - bom regresso à rotina a todos!

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Livro 20/35 2021

 

A Cor do Hibisco, de Chimamanda Ngozi Adichie

Uma aquisição (de duas) da Feira do Livro 2021. Não há na biblioteca, e já o queria ler há imenso tempo.
É o primeiro livro desta autora, e lançou-a e bem na sua carreira de escritora. No entanto, e apesar de estar muito bem escrito, já li outro livro dela de que gostei muito mais.
Gostei muito, mas a expectativa estava muito alta, e também houve ali pormenores na protagonista que me começaram a enervar - e por isso dei 4 estrelas.
Recomendo, e empresto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Livro 19/35

 


Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg
Já aqui referi o efeito que produz em mim a estante dos destaques da biblioteca (já agora, acho mesmo que iria gostar de trabalhar numa biblioteca - foi o 1º emprego da minha mãe! - todo aquele ambiente me fascina, mas adiante!). Alguém na biblioteca tema a função de colocar determinadas obras em destaque, e eu mesmo que vá com uma ideia fixa do que quero trazer acabo sempre por dar uma vista de olhos e trazer qualquer coisa, qual vítima de uma manobra de marketing. Ou é uma capa apelativa, ou é um autor de que se fala naquela semana, livros mais de verão, livros mais de rentrée, enfim, julgo muito um livro pela capa e sou seduzida pelos destaques tipo guloseima na zona da fila do supermercado. Normalmente o que acontece é ir verificar as notas do livro no Goodreads, e ver se as minhas pessoas de referência (que são quem atualiza o Goodreads com frequência - as minhas irmãs e a Tella e pouco mais) o leram ou não.
Da última vez lá estava este, cujo nome do livro e da autora eram super familiares. Procurei e não encontrei nenhuma referência, não sei de onde tinha ouvido falar neste livro e nesta autora (que é muito conhecida, mas de quem nunca tinha lido nada).

É um livro muito enternecedor, que não pode ser mais fiel ao título - o tema geral são aquelas palavras, frases e histórias que fazem parte de uma família, e que todos nós temos também.
São palavras, frases e histórias que permitiriam à autora reconhecer os irmãos no meio de uma multidão e às escuras - aquelas frases-chave que só que viveu naquela casa pode saber, reconhecer e interpretar.
À medida que vai contando esses episódios e memórias, vai desfiando a história da sua família na Itália fascista do séc. XX.
Dá a sensação de estarmos sentados à mesa com uma tia-avó que é uma excelente contadora de histórias, e só queremos ouvir mais uma, e mais uma e mais uma.

Ao mesmo tempo recordamos o nosso próprio léxico familiar, aquelas expressões que de tão repetidas me permitiriam também reconhecer as minhas irmãs e pais onde quer que fosse: "estar triste no tapete"; "xixi na mão e deita fora"; "beber a sopa à tio Paulo"; "chapeleira da avó Branca" e por aí fora.

Dei 4 estrelas, que são 4,5, e recomendo.

(só dou 5 estrelas quando o livro me agarra tanto que não o consigo largar!)