- manager doente, eu a substituir
- aprender a trabalhar com o programa de supervisor de call center para poder abrir/fechar linhas telefónicas, mudar/acrescentar/excluir agentes e esse tipo de coisas
- ver as pessoas novas a olhar para mim como uma verdadeira supervisor
- ter os membros da equipa a contar comigo para tomar decisões e dar autorizações (eu?!)
- entrevistar novos candidatos porque a HR também está doente
- ver a equipa a ficar doente, um por um
- ter uma equipa de 12 reduzida a 4 gatas pingadas
- receber chamada atrás de chamada, de chamada , de chamada
- ir ao gabinete do big chefe e dizer-lhe o que penso (e até me saiu uma frase tipo "eu bem avisei" - e é verdade...)
- ver o big chefe enterrar-se nos seus próprios erros e tomar medidas que disse que não tomaria
- mandar mails directamente ao big chefe e voltar a dizer tudo o que penso (ah, a doce liberdade de não ter medo de perder o emprego)
E ainda faltam dois dias...
Tem sido uma semana completamente atípica, mas tenho aprendido muito também... acho que para a semana me vou sentir aliviada, mas um pouco vazia porque estes dias têm sido bem cheios!
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Conversas à vinda do Bas
O Bas é o supermercado tipo Lidl, que em Rotterdam se chama Bas e aqui se chama Dirk mas para nós ficou Bas por força do hábito.
Quando vamos ao supermercado há sempre dois temas de conversa no regresso. Normalmente é de noite, cada um em sua bicicleta, eu sempre com o mega saco do Netto (que é outro supermercado, este no sul de Rotterdam, e o saco foi oferecido às meninas em Abril 2006 e ainda cá anda - muito útil, toda a semana vai à rua e regressa na minha grade de trás), ele com sacos do Albert Hein pendurados no guiador (e faz-nos falta o terceiro elemento, que insistia em vir mais carregado que todos, com a mochila a rebentar e o papel higiénico debaixo do braço - que saudades!)
Anyway, no regresso do Bas há sempre dois temas de conversa que não nos escapam:
1) "O Mafaldo está vazio/fechado/a olhar para o boneco"
O Mafaldo é um pronto a comer com comida mediterrânica que nos chamou a atenção pelo nome original: Mafaldo. Ora, o Mafaldo, desgraçadamente está sempre sempre sempre vazio, mas houve uma vez que lá passámos (uma vez!) e o Mafaldo estava cheio de gente! Era gente de pé à espera da sua vez, gente ao balcão, gente por todos os lados. Como é fácil de imaginar até hoje continuamos a fazer filmes acerca da noite em que o Mafaldo estava cheio - quem eram as pessoas? era o aniversário do Mafaldo? era a família? estavam a dar comida? era um grupo de amigos grande? era um grupo de colegas que ficou a trabalhar até tarde e foram ali todos jantar? A imaginação não tem limites, e claro, sempre que lá passamos o Mafaldo continua vazio, e nós continuamos a tecer teorias sobre o que se terá passado naquela noite.
2) "Aquele candeeiro é mesmo giro"
Há uma casa que tem um candeeiro mesmo giro. É igual ao nosso da sala (quem conhece fica a saber) mas em tamanho gigante. Não há vez que passemos por ali que não haja referencia ao candeeiro giro. Normalmente vimos no caminho ainda a comentar o Mafaldo e o assunto acaba quando passamos na casa do candeeiro giro. Talvez por isso nunca tenhamos chegado a nenhuma conclusão.
Já que estou aqui a falar do supermercado aqui ficam dois pormenores curiosos em relação aos meus companheiros desta vida (eu provavelmente também tenho os meus pontos fracos, mas guess what? o blog é meu, e quem quer que deixe comentários - hihihihi)
O G. cedo descobriu o meu mau feitio e esta minha mania de estar sempre em "dieta" e não comprar porcarias, pelo que desenvolveu estratégias infalíveis no supermercado para esconder os doces no carrinho de modo a eu apenas os ver quando já estavam pagos. Na hora de pôr as compras nos sacos surgiam Nutelas e bolachas de chocolate atrás do leite e da alface - o pior é que muitas vezes fui eu que os comi, e não ele... Hoje quando estávamos a pôr as compras no saco, o T. comentou - "Não trazemos guloseimas!" - e aposto que sentiu a falta de quando éramos três!
Um clássico dos clássicos nas idas ao Bas é o T., na hora de pôr as coisas na passadeira, dizer: "acho que exagerámos, não vamos conseguir levar isto tudo" e "isto não vai caber tudo, acho melhor comprar outro saco!" - até agora nunca foi preciso, mas ele não se convence.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Crónicas dos primeiros tempos - bater no fundo
Na primeira semana que passámos na Holanda houve dois momentos a que chamámos "bater no fundo", ou seja, quando vimos a coisa tão grave que pusemos em causa tudo e mais alguma coisa. O que valeu é que tivemos esses momentos em diferido, e não os dois ao mesmo tempo, pelo que deu para nos aguentarmos e não desistir.
Quando o T. bateu no fundo
Foi logo 2 dias depois de chegar.
Combinámos com a N. encontrarmo-nos na manhã de sábado - ainda não tínhamos estado com ela. Como é típico da N. resolveu combinar um café com a sua melhor amiga de cá nessa mesma manhã. Lá fomos. A amiga era inglesa, muito simpática à primeira vista, super despachada e cómica. Conversa puxa conversa e claro, o inevitável assunto (que nos persegue desde então) do "então porque é que vieram?" surgiu à baila. Lá explicámos um pouco o porquê da nossa decisão. Depois foi o descalabro. Ela resolveu não só dar a sua opinião sobre o país, mas também se pôs a desenrolar um sem número de dificuldades que iríamos enfrentar e de erros que já estávamos a cometer. E o pior de tudo é que a N. lhe fazia coro e dizia que sim.
Que nunca iríamos falar o idioma de modo perfeito, que sem falar holandês íamos ter graves problemas ("the language will definitly be an issue" - parece que a estou a ouvir), que as casas são caras, que os holandeses são frios e antipáticos e não ajudam ninguém, que foi uma estupidez termos trazido o carro, que os parquímetros são caros e que assaltam os carros estrangeiros. À medida que iam saindo palavras daquela boca eu e o T. íamo-nos sentindo cada vez mais pequenos, cada vez a diminuir mais de tamanho tipo Alice não no país das Maravilhas, mas no país dos Horrores. No fundo ela estava cá porque o namorado, agora marido, é holandês, e não compreendia como podíamos nós vir para cá por opção. Até aqui eu até compreendo, mas aquilo que eu não esqueço foi a atitude da N., a concordar com tudo o que ela dizia - quando muitas das decisões que tomámos foi baseados na opinião dela nas semanas anteriores.
Apesar de toda esta negatividade, eu pessoalmente não fiquei muito abalada pois estava confiante na nossa sorte, e tentei não dar importância à coisa. Depois do café a amiga foi embora e nós fomos almoçar. O T. nem conseguiu comer...
Quanto à amiga, o mais estranho é que nunca mais a vimos. Nunca mais houve ocasião de voltar a tomar café com ela, apesar de ela ter muito contacto com a N. e nós na altura também. Sei que casou e que agora vive em N.Y. Era bem feita que alguém lhe fizesse o mesmo que ela nos fez a nós!
Quando eu bati no fundo
O meu bater no fundo ocorreu uns dias depois.
Depois de tratarmos das primeiras burocracias - So-Fi nummer, registar no consulado português, registar na Câmara Municipal - chegou a altura de procurar casa. Sabíamos que muitas agências de emprego só aceitavam quem tivesse morada na Holanda. Fomos então em busca de agências para alugar casa, e chegámos à conclusão que só podíamos alugar casa se tivéssemos contrato de trabalho.
É uma das situações típicas da burocracia deste país, que é o preso por ter cão e preso por não ter. Não temos casa porque não temos trabalho e não temos trabalho porque não temos casa.
Lá com opiniões de inglesas snob, ou dificuldades em tratar do carro podia eu. Mas nesse dia senti que me tiravam o tapete de debaixo dos pés.
Estávamos ainda na pensão dos surinameses (que para nós ficou "O Suriname") a pagar dia a dia, pois sabíamos que não podíamos ficar muito mais tempo.
Há uns anos atrás houve uma inspecção geral em toda a Holanda para deportar imigrantes ilegais - muitos deles viviam em pensões como esta e os donos receberam pesadas multas. Por isso a pensão se chamava Short Stay Accomodations, não fosse alguém pensar em ficar por lá 6 meses ou coisa que o valha. Resultado, chegámos à pensão e tivemos de ir falar com os donos, explicar que de momento estávamos sem casa e que teríamos de ficar pelo menos mais uns dias. Foi o descalabro II. Basicamente desfizeram a réstia de esperança que eu ainda tinha. Disseram literalmente que o melhor era ir embora da Holanda, que não vínhamos em boa altura, que trabalho só mesmo nas limpezas e que só lá para Março ou Abril. Disseram que não podíamos ficar, por muito que nos quisessem ajudar.
Ficámos os dois de boca aberta a olhar para eles, mas dissemos que pelo menos mais uns dias tínhamos de ficar - é que nem tínhamos outra hipótese.
O dono resolveu então ir falar com um português que estava também hospedado - o Sr. Rui, electricista - a ver se nos podia ajudar. Ora o Sr. Rui devia estar a fumar a sua erva no quarto quando fomos lá bater. Apareceu com uma grande moca naquela cabeça, e praticamente sem dizer coisa com coisa.
Quando demos por ela estávamos os dois numa cozinha minúscula, com o Sr. Rui pedrado a olhar para o mapa de Rotterdam à procura da Beurs - que é o centro, ou seja, mais fácil de encontrar impossível -para nos explicar onde era o Café Lisboa. Era ele em silencio a olhar e com o dedo à procura e os minutos a passar - só visto. Eu, do nervoso, comecei com um ataque de riso valente, sem conseguir parar. Era insólito demais. Ele continuava à procura da Beurs, o T. de vez em quando ia dizendo "deixe estar, nós depois procuramos". Não foi uma grande ajuda, mas ficou a intenção.
Foi a minha vez de pôr tudo em causa. Ali estávamos no meio da Delfshaven, em pleno Suriname, sem casa, sem trabalho, com 1000 tralhas e um carro à porta. Teria valido a pena?
Nessa noite ligámos à N. e dissemos que não podíamos arranjar casa através de uma agência, e pedimos que ela nos desse um contacto de alguém para alugarmos uma casa. Umas horas mais tarde ela ligou-nos com o telefone de um senhor chamado Tony, que alugava clandestinamente meia Rotterdam.
E depois de bater no fundo, o caminho só pode ser para cima.
Quando o T. bateu no fundo
Foi logo 2 dias depois de chegar.
Combinámos com a N. encontrarmo-nos na manhã de sábado - ainda não tínhamos estado com ela. Como é típico da N. resolveu combinar um café com a sua melhor amiga de cá nessa mesma manhã. Lá fomos. A amiga era inglesa, muito simpática à primeira vista, super despachada e cómica. Conversa puxa conversa e claro, o inevitável assunto (que nos persegue desde então) do "então porque é que vieram?" surgiu à baila. Lá explicámos um pouco o porquê da nossa decisão. Depois foi o descalabro. Ela resolveu não só dar a sua opinião sobre o país, mas também se pôs a desenrolar um sem número de dificuldades que iríamos enfrentar e de erros que já estávamos a cometer. E o pior de tudo é que a N. lhe fazia coro e dizia que sim.
Que nunca iríamos falar o idioma de modo perfeito, que sem falar holandês íamos ter graves problemas ("the language will definitly be an issue" - parece que a estou a ouvir), que as casas são caras, que os holandeses são frios e antipáticos e não ajudam ninguém, que foi uma estupidez termos trazido o carro, que os parquímetros são caros e que assaltam os carros estrangeiros. À medida que iam saindo palavras daquela boca eu e o T. íamo-nos sentindo cada vez mais pequenos, cada vez a diminuir mais de tamanho tipo Alice não no país das Maravilhas, mas no país dos Horrores. No fundo ela estava cá porque o namorado, agora marido, é holandês, e não compreendia como podíamos nós vir para cá por opção. Até aqui eu até compreendo, mas aquilo que eu não esqueço foi a atitude da N., a concordar com tudo o que ela dizia - quando muitas das decisões que tomámos foi baseados na opinião dela nas semanas anteriores.
Apesar de toda esta negatividade, eu pessoalmente não fiquei muito abalada pois estava confiante na nossa sorte, e tentei não dar importância à coisa. Depois do café a amiga foi embora e nós fomos almoçar. O T. nem conseguiu comer...
Quanto à amiga, o mais estranho é que nunca mais a vimos. Nunca mais houve ocasião de voltar a tomar café com ela, apesar de ela ter muito contacto com a N. e nós na altura também. Sei que casou e que agora vive em N.Y. Era bem feita que alguém lhe fizesse o mesmo que ela nos fez a nós!
Quando eu bati no fundo
O meu bater no fundo ocorreu uns dias depois.
Depois de tratarmos das primeiras burocracias - So-Fi nummer, registar no consulado português, registar na Câmara Municipal - chegou a altura de procurar casa. Sabíamos que muitas agências de emprego só aceitavam quem tivesse morada na Holanda. Fomos então em busca de agências para alugar casa, e chegámos à conclusão que só podíamos alugar casa se tivéssemos contrato de trabalho.
É uma das situações típicas da burocracia deste país, que é o preso por ter cão e preso por não ter. Não temos casa porque não temos trabalho e não temos trabalho porque não temos casa.
Lá com opiniões de inglesas snob, ou dificuldades em tratar do carro podia eu. Mas nesse dia senti que me tiravam o tapete de debaixo dos pés.
Estávamos ainda na pensão dos surinameses (que para nós ficou "O Suriname") a pagar dia a dia, pois sabíamos que não podíamos ficar muito mais tempo.
Há uns anos atrás houve uma inspecção geral em toda a Holanda para deportar imigrantes ilegais - muitos deles viviam em pensões como esta e os donos receberam pesadas multas. Por isso a pensão se chamava Short Stay Accomodations, não fosse alguém pensar em ficar por lá 6 meses ou coisa que o valha. Resultado, chegámos à pensão e tivemos de ir falar com os donos, explicar que de momento estávamos sem casa e que teríamos de ficar pelo menos mais uns dias. Foi o descalabro II. Basicamente desfizeram a réstia de esperança que eu ainda tinha. Disseram literalmente que o melhor era ir embora da Holanda, que não vínhamos em boa altura, que trabalho só mesmo nas limpezas e que só lá para Março ou Abril. Disseram que não podíamos ficar, por muito que nos quisessem ajudar.
Ficámos os dois de boca aberta a olhar para eles, mas dissemos que pelo menos mais uns dias tínhamos de ficar - é que nem tínhamos outra hipótese.
O dono resolveu então ir falar com um português que estava também hospedado - o Sr. Rui, electricista - a ver se nos podia ajudar. Ora o Sr. Rui devia estar a fumar a sua erva no quarto quando fomos lá bater. Apareceu com uma grande moca naquela cabeça, e praticamente sem dizer coisa com coisa.
Quando demos por ela estávamos os dois numa cozinha minúscula, com o Sr. Rui pedrado a olhar para o mapa de Rotterdam à procura da Beurs - que é o centro, ou seja, mais fácil de encontrar impossível -para nos explicar onde era o Café Lisboa. Era ele em silencio a olhar e com o dedo à procura e os minutos a passar - só visto. Eu, do nervoso, comecei com um ataque de riso valente, sem conseguir parar. Era insólito demais. Ele continuava à procura da Beurs, o T. de vez em quando ia dizendo "deixe estar, nós depois procuramos". Não foi uma grande ajuda, mas ficou a intenção.
Foi a minha vez de pôr tudo em causa. Ali estávamos no meio da Delfshaven, em pleno Suriname, sem casa, sem trabalho, com 1000 tralhas e um carro à porta. Teria valido a pena?
Nessa noite ligámos à N. e dissemos que não podíamos arranjar casa através de uma agência, e pedimos que ela nos desse um contacto de alguém para alugarmos uma casa. Umas horas mais tarde ela ligou-nos com o telefone de um senhor chamado Tony, que alugava clandestinamente meia Rotterdam.
E depois de bater no fundo, o caminho só pode ser para cima.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Almost Grown
Uma coisa que nunca comentei aqui foi de onde surgiu o nome deste blog.
Lembrei-me hoje de o fazer porque estivemos aqui a relembrar séries antigas.
Lá em casa viu-se entre muitas outras uma série de que ninguém se lembra e que deu origem ao nome do meu blog - Almost Grown.
Contava a história de um casal divorciado com dois filhos adolescentes, e de vez em quando fazia flashbacks para o seu passado nos anos 60 e 70 - eram as minhas partes preferidas: lembro-me de uma cena dela grávida na piscina (e toda a gente com aqueles bikinis de flores e toucas lindas de morrer), e de outras cenas deles em festas e no liceu.
Os poucos registos que encontrei foi esta descrição, e o genérico neste conjunto de genéricos de 1988 (que começa com o McGyver, esse clássico):
Não sei porquê mas a série ficou-me na memória, tinha assim um certo encanto a questão do antes e do depois, da comparação nas roupas, nas casas, no estilo de vida entre a época em que os protagonistas se conheceram e o momento presente (que era 1988, ou seja deixa lá ver, há coisa de...20 anos!).
A série marcou-me e o nome encaixa perfeitamente nesta fase da minha vida.
Emigração
Comentou o Sr. Rebelo quando veio cá buscar as coisas que há muita gente a regressar a Portugal. Gente da nossa geração, apressou-se em acrescentar.
Se compararmos a nossa geração de emigrantes com a do Sr. Rebelo vemos que são realidades completamente diferentes.
Quando saímos tínhamos outras opções, não viemos por ser esta a última saída. A maioria de nós estudou. Viemos viver uma experiência, à procura de novas vivências e aventuras a que não teríamos acesso em Portugal. Acabada a novidade regressamos a casa.
E regressamos a um Portugal felizmente muito diferente do Portugal deixado pelo Sr. Rebelo, que está cá há mais de 30 anos.
Viemos realizar um sonho, procurar uma vida melhor, procurar aquela abertura de mentalidade que não encontramos em Portugal, mas ninguém em Portugal depende de nós.
Apesar disso também trabalhamos nas fábricas e nas limpezas, e fazemos os trabalhos que os outros não querem fazer, mas basicamente nada nos prende, temos mais opções, vivemos num mundo mais pequeno, em que tudo está mais próximo e tudo parece mais fácil.
Principalmente acho que nós somos uma geração de "filhos da mamã" ao contrário da geração que abandonou Portugal nos anos 60 e 70.
O Sr. Rebelo, como os nossos pais, quando tinham a nossa idade eram bem mais crescidos do que nós somos agora.
Somos a geração do viver fácil, pois sabemos que temos os nossos pais que nos protegem se tudo correr mal - se ficarmos sem emprego e sem casa, havemos sempre de ter um tecto, uma cama e comida (da boa!) na mesa em casa dos pais. Há 30 anos foram os filhos a sustentar os pais, com o dinheiro enviado ao fim do mês - os filhos emigrados a viver com o básico para poder mandar o dinheiro para a família.
Visto desta perspectiva não deixo de achar que somos uma geração de emigrantes assim um bocado cobardolas.
Se compararmos a nossa geração de emigrantes com a do Sr. Rebelo vemos que são realidades completamente diferentes.
Quando saímos tínhamos outras opções, não viemos por ser esta a última saída. A maioria de nós estudou. Viemos viver uma experiência, à procura de novas vivências e aventuras a que não teríamos acesso em Portugal. Acabada a novidade regressamos a casa.
E regressamos a um Portugal felizmente muito diferente do Portugal deixado pelo Sr. Rebelo, que está cá há mais de 30 anos.
Viemos realizar um sonho, procurar uma vida melhor, procurar aquela abertura de mentalidade que não encontramos em Portugal, mas ninguém em Portugal depende de nós.
Apesar disso também trabalhamos nas fábricas e nas limpezas, e fazemos os trabalhos que os outros não querem fazer, mas basicamente nada nos prende, temos mais opções, vivemos num mundo mais pequeno, em que tudo está mais próximo e tudo parece mais fácil.
Principalmente acho que nós somos uma geração de "filhos da mamã" ao contrário da geração que abandonou Portugal nos anos 60 e 70.
O Sr. Rebelo, como os nossos pais, quando tinham a nossa idade eram bem mais crescidos do que nós somos agora.
Somos a geração do viver fácil, pois sabemos que temos os nossos pais que nos protegem se tudo correr mal - se ficarmos sem emprego e sem casa, havemos sempre de ter um tecto, uma cama e comida (da boa!) na mesa em casa dos pais. Há 30 anos foram os filhos a sustentar os pais, com o dinheiro enviado ao fim do mês - os filhos emigrados a viver com o básico para poder mandar o dinheiro para a família.
Visto desta perspectiva não deixo de achar que somos uma geração de emigrantes assim um bocado cobardolas.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
E aí vão cem para os trinta
E a 100 dias de fazer 30 não tenho a menor ideia de como vai estar a minha vida nessa data:
casa? trabalho? dinheiro?
(mais um bocado e pareço um horóscopo)
Sei que desses 100 pelo menos 30 vão ser passados cá e de férias. (esfrega as mãos de contente!)
Depois são mais uns quantos de incógnita.
casa? trabalho? dinheiro?
(mais um bocado e pareço um horóscopo)
Sei que desses 100 pelo menos 30 vão ser passados cá e de férias. (esfrega as mãos de contente!)
Depois são mais uns quantos de incógnita.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
O meu próprio comentário ao post anterior
Tenho a mania que sou esperta e que ando de um lado para o outro com uma perna às costas mas não ando.
Mudar de casa, de emprego, de país e de vida é cansativo e custa dinheiro e dá muito trabalho e preocupação. Além de que às vezes é uma grande seca.
Que fique aqui isto escrito com a minha própria mão, para se algum dia esta ideia me passar pela cabeça outra vez.
(às vezes não há paciência para me aturar)
Mudar de casa, de emprego, de país e de vida é cansativo e custa dinheiro e dá muito trabalho e preocupação. Além de que às vezes é uma grande seca.
Que fique aqui isto escrito com a minha própria mão, para se algum dia esta ideia me passar pela cabeça outra vez.
(às vezes não há paciência para me aturar)
Em véspera da vinda dos Transportes Rebelo
Mas porquê? Porque é que cada vez que dou por ela já estou envolta em caixotes e malas a empacotar tudo de um lado para o outro??
Sei que ainda falta muito, tanto que nem lhe vejo o fim. E sei que ainda tenho muita caixa, muita carrinha atolada de coisas, muito jornal a embrulhar o que se parte, à minha frente e isso dá-me uma preguiça...
Quando é que eu vou ter uma casinha minha, mesmo minha, onde eu possa pintar as paredes da cor que eu quiser e deitar fora de vez os caixotes de mudanças (que me perseguem)?
Quando é que eu vou deixar de ter as minhas coisas encafuadas dentro de armários, debaixo de camas que já não são minhas? Quando é que vou poder ter as minhas coisas todas juntas debaixo do mesmo tecto?
Estou mesmo farta desta vida de cigana. Não tenho jeitinho nenhum para andar com a casa às costas (sempre achei que sim) nem espírito aventureiro de andar sempre em mudança (que também sempre achei que tinha).
Se calhar já tive, mas acabou.
Pois, deve ter sido isso.
Sei que ainda falta muito, tanto que nem lhe vejo o fim. E sei que ainda tenho muita caixa, muita carrinha atolada de coisas, muito jornal a embrulhar o que se parte, à minha frente e isso dá-me uma preguiça...
Quando é que eu vou ter uma casinha minha, mesmo minha, onde eu possa pintar as paredes da cor que eu quiser e deitar fora de vez os caixotes de mudanças (que me perseguem)?
Quando é que eu vou deixar de ter as minhas coisas encafuadas dentro de armários, debaixo de camas que já não são minhas? Quando é que vou poder ter as minhas coisas todas juntas debaixo do mesmo tecto?
Estou mesmo farta desta vida de cigana. Não tenho jeitinho nenhum para andar com a casa às costas (sempre achei que sim) nem espírito aventureiro de andar sempre em mudança (que também sempre achei que tinha).
Se calhar já tive, mas acabou.
Pois, deve ter sido isso.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
A visita da R.
Agora que ela regressou e que já fez o seu resumo da estadia, já posso dar eu a minha impressão da sua vinda.
Parecia que tinha cá estado ontem. Basicamente para mim ela faz parte da mobília quando cá está e não destoa.
É engraçado ouvi-la dizer vezes sem conta "Pessoal, é que eu estou em Amesterdão!" - porque nós também estamos, mas não damos conta.
É estranho e giro ver as coisas pelo seu entusiasmo, a querer ver tudo e aproveitar todo o milésimo de segundo.
E foi muito pouco tempo que estivemos juntas, mas foi suficiente para ir ao Vondel, ao centro e à Waterlooplein de bicicleta (ela no seu lugar de sempre, na grade da bicicleta do T. com a sua toalha branca a fazer de almofada), fazer compras com as coleguitas, jantar, ver fotos, descobrir rádios pela internet, ter conversas sobre diferenças culturais no tram, conhecer os meus companheiros de comboio (um francês e uma alemã) e até tirar uma foto na paragem dos táxis de Hoofddorp (quantas pessoas conhecem vocês que tenham ido a Hoofddorp?!)
Foi pouco mas foi bom. E foi bom principalmente por poder partilhar pequenos detalhes da minha vida de cá.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
A lei do mais forte
Ora aqui está uma diferença cultural que continua a fazer confusão.
O sistema nacional de saúde deste país, que eu (bate na madeira) ainda não tive o prazer de contactar, defende a lei da selva, que é como quem diz da sobrevivência dos mais fortes.
Quem vai ao hospital é melhor que entre pelas portas das urgências à beira da morte, caso contrário arrisca-se a uma experiência no mínimo insólita.
Sangue, fracturas expostas, braços partidos é favor esperar a sua vez na sala de espera - e ninguém reclama. Se não está entre a vida e a morte pode esperar duas ou três horas à vontade. E como eles são calmos e educados aguentam estoicamente a dor sentados no seu canto e caladinhos - porque sabem que só os mais fortes sobrevivem.
Anestesia, analgésicos - para quê? Se partiu é normal que doa, e essas coisas custam dinheiro ao estado.
Olhos vermelhos, dores de cabeça ou de barriga e a resposta é "Vamos ver se a dor se mantém durante 3 semanas. Depois volte cá." Ora em três semanas pode ter a pessoa morrido de ataque cardíaco. Pois, é a lei do mais forte, se era para morrer de qualquer modo então mais vale não gastar recursos.
Grávida? Fazer a vida normal, frequentar o ginásio, andar de bicicleta, saltar à corda se for caso disso, que neste país querem-se embriões fortes e se for para serem fraquinhos é melhor que não vinguem mesmo. Ficar na cama para aguentar uma gravidez até ao fim - no way! Se for possível ter os filhos em casa, melhor, mas se forem ao hospital também não esperem por uma epidural - ah, e duas horas depois de parir toca a ir para casa.
Antes de ir ao médico há que ir ao médico de família, que então decide mandar ao especialista ou não.
Fazer um check up é para eles incompreensível.
Todos os que tomam contacto com o sistema nacional de saúde têm uma história para contar, mas para mim a mais hilariante é a do marido de uma colega (holandês de gema - não vá pensarem que isto só acontece aos estranjas). Estava com dores fortes na barriga, sem apetite entre outros sintomas mais aparatosos há vários dias. Resolve ir ao médico, sob o fantasma de uma ulcera nervosa, ou mesmo algo pior. A médica apalpa-lhe a barriga e diz-lhe que não é nada - "vamos ver como corre nas próximas semanas". Ele perguntou se não seria melhor fazer exames, análises, algo mais exaustivo, ao que ela (que, sublinho, é médica!) responde:
"Não vale a pena, é que sabe, na zona do estômago e dos intestinos há muitos mistérios por resolver..."
Ficamos assim, então.
O sistema nacional de saúde deste país, que eu (bate na madeira) ainda não tive o prazer de contactar, defende a lei da selva, que é como quem diz da sobrevivência dos mais fortes.
Quem vai ao hospital é melhor que entre pelas portas das urgências à beira da morte, caso contrário arrisca-se a uma experiência no mínimo insólita.
Sangue, fracturas expostas, braços partidos é favor esperar a sua vez na sala de espera - e ninguém reclama. Se não está entre a vida e a morte pode esperar duas ou três horas à vontade. E como eles são calmos e educados aguentam estoicamente a dor sentados no seu canto e caladinhos - porque sabem que só os mais fortes sobrevivem.
Anestesia, analgésicos - para quê? Se partiu é normal que doa, e essas coisas custam dinheiro ao estado.
Olhos vermelhos, dores de cabeça ou de barriga e a resposta é "Vamos ver se a dor se mantém durante 3 semanas. Depois volte cá." Ora em três semanas pode ter a pessoa morrido de ataque cardíaco. Pois, é a lei do mais forte, se era para morrer de qualquer modo então mais vale não gastar recursos.
Grávida? Fazer a vida normal, frequentar o ginásio, andar de bicicleta, saltar à corda se for caso disso, que neste país querem-se embriões fortes e se for para serem fraquinhos é melhor que não vinguem mesmo. Ficar na cama para aguentar uma gravidez até ao fim - no way! Se for possível ter os filhos em casa, melhor, mas se forem ao hospital também não esperem por uma epidural - ah, e duas horas depois de parir toca a ir para casa.
Antes de ir ao médico há que ir ao médico de família, que então decide mandar ao especialista ou não.
Fazer um check up é para eles incompreensível.
Todos os que tomam contacto com o sistema nacional de saúde têm uma história para contar, mas para mim a mais hilariante é a do marido de uma colega (holandês de gema - não vá pensarem que isto só acontece aos estranjas). Estava com dores fortes na barriga, sem apetite entre outros sintomas mais aparatosos há vários dias. Resolve ir ao médico, sob o fantasma de uma ulcera nervosa, ou mesmo algo pior. A médica apalpa-lhe a barriga e diz-lhe que não é nada - "vamos ver como corre nas próximas semanas". Ele perguntou se não seria melhor fazer exames, análises, algo mais exaustivo, ao que ela (que, sublinho, é médica!) responde:
"Não vale a pena, é que sabe, na zona do estômago e dos intestinos há muitos mistérios por resolver..."
Ficamos assim, então.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Ideias
Num dos primeiros livros que li este ano, "It's not how good you are, it's how good you want to be" de Paul Arden, comprado no aeroporto antes de ir para Lisboa no Natal , li uma frase/pensamento que pelos vistos me ficou a matutar e só agora o consegui digerir.
Ideas are open knowledge. Don't claim ownership.
Nestes últimos dias tenho andado dedicada ao tal projecto que falei aqui, e foi mais do que evidente a minha tendência herdada da minha formação em História - sempre a pôr citações, nomes das fontes, a tentar manter a ideia mas mudar a frase sempre com o fantasma do plágio a pairar sobre a minha cabeça, e também como o projecto não foi começado por mim, a tentar manter a autoria de uma parte e da outra para não ficar com louros alheios. Parei para pensar.
Não interessa.
As ideias, como dizia o Paul Arden mais à frente, não nos pertencem. Pairam no ar à procura de uma cabeça que as receba, ou então são geradas por outras ideias e outras e outras. A Isabel Allende também disse um dia que os livros dela já existiam por aí, e que ela se limitava a escreve-los. Têm vida própria, não são de ninguém.
Num trabalho académico há regras a cumprir que não têm necessariamente que se aplicar ao trabalho e à vida do dia a dia.
Chego à conclusão que passei demasiado tempo da minha vida a tentar deixar claro quem teve qual ideia, esta foi minha esta foi tua, e - o que é pior - a tentar não copiar a ideia de ninguém (se a ideia foi de X eu não vou fazer igual).
Se uma ideia for boa, tem mais é de ser aproveitada por toda a gente sem medo de estar a roubar. Uma coisa é manter uma ideia em segredo a bem do negócio, outra é reclamar a sua autoria, e tentar catalogar as ideias de acordo com quem as teve.
A um mês e meio de regressar a Portugal, e com a perspectiva de me dedicar àquilo que mais gosto de fazer, vou fazer o exercício de não reivindicar a autoria das ideias.
Com o tempo, depois de o conseguir fazer comigo, começarei também a deixar de atribuir a sublinhar a autoria das ideias que não são minhas.
Elas andam aí, e são de todos.
Dito isto, aqui há actualizações.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Things I'll miss
Receber na caixa do correio uma revista com uma carta do meu pai, à sexta à tarde ou sábado de manhã.
O meu pai é a única pessoa que conheço que mantém viva a tradição de escrever cartas à mão. Uma por semana.
Adoro.
O meu pai é a única pessoa que conheço que mantém viva a tradição de escrever cartas à mão. Uma por semana.
Adoro.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Hoje vai um post curtinho porque tivemos a visita da R.
Num resumo resumido fomos dar uma volta de bicicleta os três e ela, que estava com a pica toda por estar em Amsterdam (vá se lá perceber, mas pronto) e queria ver tudo e passear por todo o lado e tirar fotografias no Vondel e nos canais e na loja de cinema etc etc, passado uma hora estava feita cubo de gelo e a pedir para voltar para casa...
Num resumo resumido fomos dar uma volta de bicicleta os três e ela, que estava com a pica toda por estar em Amsterdam (vá se lá perceber, mas pronto) e queria ver tudo e passear por todo o lado e tirar fotografias no Vondel e nos canais e na loja de cinema etc etc, passado uma hora estava feita cubo de gelo e a pedir para voltar para casa...
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Eu quero uma wake-up light!!!
É costume o director geral da empresa (a nível mundial) oferecer um presente a cada empregado no Natal (para além de um postal personalizado, que ele deve passar o ano inteiro a escrever tendo em conta que é uma multinacional com escritórios por todo o mundo - adiante). Para dar uma ideia posso dizer que há três anos receberam um Ipod, há dois anos um auricular Bluetooth para o telemóvel e para o Ipod, e no ano passado recebemos um leitor de DVD portátil.
Eis senão quando este ano, umas semanas antes do Natal, começam a surgir os rumores do que seria o presente este ano.
Os mais optimistas acreditaram que seria um brinquedo destes:
Outros diziam que o presente seria uma Wake-up light da Philips:
O tal despertador que vai gradualmente aumentando a intensidade da luz recriando o efeito do nascer do sol, permitindo um acordar natural, calmo e sem o apito irritante do telemóvel. Ora, sabe quem me conhece bem que o momento de acordar não é digamos que o meu melhor momento. Pode mesmo dizer-se que eu, enfim, não tenho assim um acordar bem disposto e de bem com a vida. Diz quem acorda ao meu lado que eu basicamente sou insuportável e impossível de aturar e que só apetece bater-me. A verdade é que eu detesto acordar e sou muito sensível nesse momento do dia, pelo menos até tomar um duche. Lamento.
Como devem calcular já andava a esfregar as mãos de contente com a perspectiva de um acordar assim - ainda para mais em pleno Dezembro, que é aquela altura do ano em que não vemos a luz do dia (é de noite quando saímos de casa e quando chegamos também) nem a do sol (que não aparece nem em Agosto quanto mais em Dezembro).
Um dia recebmos um mail a falar de um artista chinês que tinha contribuido para o presente. Hmmm. Cheirou a esturro, mas a esperança é a última a morrer.
Eis que é chegado o dia de recebermos o presente. Vimos cá fora os caixotes que os transportaram e lemos no rótulo "Little Swans". OK. Cheirou a esturro ainda mais.
Quando entrámos na sala vimos pela caixa que coisa boa não devia ser:
A tonalidade azul celeste e as letras desenhadas não enganavam ninguém.
No entanto havia também uma pequena e misteriosa caixa branca, onde depositámos todas as nossas esperanças! Seria o Iphone? Ou vá, uma Playstation portátil? Um auricular último modelo???
Aguardámos até ao final da reunião trimestral, com toda a paciencia até saber o que de facto estava dentro da caixa azul:
É um prato de porcelana com bailarinas pintadas.
Estão a ver a sequência lógica Ipod - auricular topo de gama - DVD portatil - prato com bailarinas???
Mas quem teve a ideia, quem se lembrou "eh pá este ano não vamos oferecer um gadget, que esta malta não sabe apreciar, eh pá vamos dar mas é um prato, é isso, um prato com bailarinas!"
É de mim, ou isto não cabe na cabeça de ninguém??
No entanto a desilusão suprema foi quando se abriu o ultimo reduto da nossa esperança, a última luz ao fundo do túnel à qual nos agarrávamos com quantas forças tínhamos - as caixas brancas empilhadas à parte, que podiam conter o nosso brinquedo favorito para este Natal, continham afinal nem mais nem menos do que... o suporte para expor o prato!!!
O efeito final é este, e vai assim em maiorzinho para verem bem. Até tem um rebordo dourado e tudo. Enfim...uma beleza...
E assim ficou destruído o meu sonho de ter uma Wake-up light, e lá continuei eu a acordar no meio da escuridão e do ruído ensurdecedor do despertador.
Há um mês atrás no blog do Nuno Markl surgiu a oportunidade de ganhar 3 destes objectos que vão mudar os meus acordares e os meus humores o resto da vida!
Tínhamos de mandar um vídeo sob o tema "O Pior Acordar do Mundo". Lá mandámos um vídeo com um acordar bem mauzito, mas pelos vistos segundo o júri do concurso não mau o suficiente como para merecer um prémio. Temos pena...
E portanto, vou ter de continuar à murraça ao telemóvel logo de manhã por mais uns tempos, que isto agora já não estamos em época de luxos que as vacas magras já se avizinham...
Só assim como quem não quer a coisa, eu faço anos daqui a quantos dias marca ali o marcador do lado, ok?
Eis senão quando este ano, umas semanas antes do Natal, começam a surgir os rumores do que seria o presente este ano.
Os mais optimistas acreditaram que seria um brinquedo destes:
Outros diziam que o presente seria uma Wake-up light da Philips:
O tal despertador que vai gradualmente aumentando a intensidade da luz recriando o efeito do nascer do sol, permitindo um acordar natural, calmo e sem o apito irritante do telemóvel. Ora, sabe quem me conhece bem que o momento de acordar não é digamos que o meu melhor momento. Pode mesmo dizer-se que eu, enfim, não tenho assim um acordar bem disposto e de bem com a vida. Diz quem acorda ao meu lado que eu basicamente sou insuportável e impossível de aturar e que só apetece bater-me. A verdade é que eu detesto acordar e sou muito sensível nesse momento do dia, pelo menos até tomar um duche. Lamento.
Como devem calcular já andava a esfregar as mãos de contente com a perspectiva de um acordar assim - ainda para mais em pleno Dezembro, que é aquela altura do ano em que não vemos a luz do dia (é de noite quando saímos de casa e quando chegamos também) nem a do sol (que não aparece nem em Agosto quanto mais em Dezembro).
Um dia recebmos um mail a falar de um artista chinês que tinha contribuido para o presente. Hmmm. Cheirou a esturro, mas a esperança é a última a morrer.
Eis que é chegado o dia de recebermos o presente. Vimos cá fora os caixotes que os transportaram e lemos no rótulo "Little Swans". OK. Cheirou a esturro ainda mais.
Quando entrámos na sala vimos pela caixa que coisa boa não devia ser:
A tonalidade azul celeste e as letras desenhadas não enganavam ninguém.
No entanto havia também uma pequena e misteriosa caixa branca, onde depositámos todas as nossas esperanças! Seria o Iphone? Ou vá, uma Playstation portátil? Um auricular último modelo???
Aguardámos até ao final da reunião trimestral, com toda a paciencia até saber o que de facto estava dentro da caixa azul:
É um prato de porcelana com bailarinas pintadas.
Estão a ver a sequência lógica Ipod - auricular topo de gama - DVD portatil - prato com bailarinas???
Mas quem teve a ideia, quem se lembrou "eh pá este ano não vamos oferecer um gadget, que esta malta não sabe apreciar, eh pá vamos dar mas é um prato, é isso, um prato com bailarinas!"
É de mim, ou isto não cabe na cabeça de ninguém??
No entanto a desilusão suprema foi quando se abriu o ultimo reduto da nossa esperança, a última luz ao fundo do túnel à qual nos agarrávamos com quantas forças tínhamos - as caixas brancas empilhadas à parte, que podiam conter o nosso brinquedo favorito para este Natal, continham afinal nem mais nem menos do que... o suporte para expor o prato!!!
O efeito final é este, e vai assim em maiorzinho para verem bem. Até tem um rebordo dourado e tudo. Enfim...uma beleza...
E assim ficou destruído o meu sonho de ter uma Wake-up light, e lá continuei eu a acordar no meio da escuridão e do ruído ensurdecedor do despertador.
Há um mês atrás no blog do Nuno Markl surgiu a oportunidade de ganhar 3 destes objectos que vão mudar os meus acordares e os meus humores o resto da vida!
Tínhamos de mandar um vídeo sob o tema "O Pior Acordar do Mundo". Lá mandámos um vídeo com um acordar bem mauzito, mas pelos vistos segundo o júri do concurso não mau o suficiente como para merecer um prémio. Temos pena...
E portanto, vou ter de continuar à murraça ao telemóvel logo de manhã por mais uns tempos, que isto agora já não estamos em época de luxos que as vacas magras já se avizinham...
Só assim como quem não quer a coisa, eu faço anos daqui a quantos dias marca ali o marcador do lado, ok?
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Tal como previsto...
...a cidade ontem encontrava-se num estado de histeria colectiva insuportável.
Resolvi, como todos os habitantes de Amsterdam e arredores, apanhar um pouco de sol no Vondel Park e não havia um lugar ao sol. Era gente por todos os lados, crianças nas bicicletas, crianças de bicicleta, gente de patins, cães por todo o lado, grupos de turistas nas suas bicicletas amarelas. Resolvi passar na Leidseplein, já que precisava de comprar umas coisas e normalmente nestes dias as lojas costumam estar mais vazias. Erro. Em plena praça havia uma banda a tocar, o homem que dá toques de bola, um que joga ténis sozinho e uma pequena multidão de Free Hugs (por aí também há disso?), e gente gente gente e mais gente! Não havia lugar para as bicicletas, não havia lugar para mim em lado nenhum!
Resolvi vir para casa apanhar sol no jardim aqui em frente, de onde aliás nunca devia ter saído. Nestes dias adoro viver longe do centro!
Resolvi, como todos os habitantes de Amsterdam e arredores, apanhar um pouco de sol no Vondel Park e não havia um lugar ao sol. Era gente por todos os lados, crianças nas bicicletas, crianças de bicicleta, gente de patins, cães por todo o lado, grupos de turistas nas suas bicicletas amarelas. Resolvi passar na Leidseplein, já que precisava de comprar umas coisas e normalmente nestes dias as lojas costumam estar mais vazias. Erro. Em plena praça havia uma banda a tocar, o homem que dá toques de bola, um que joga ténis sozinho e uma pequena multidão de Free Hugs (por aí também há disso?), e gente gente gente e mais gente! Não havia lugar para as bicicletas, não havia lugar para mim em lado nenhum!
Resolvi vir para casa apanhar sol no jardim aqui em frente, de onde aliás nunca devia ter saído. Nestes dias adoro viver longe do centro!
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Crónicas dos primeiros tempos - a chegada
Os nossos primeiros dias na Holanda foram no mínimo insólitos.
Aliás é assim para toda a gente, todos temos uma história para contar de quando cá chegámos. Esta é a nossa.
Chegámos a Rotterdam numa 5a feira à noite, sem sítio para ficar, apenas com umas folhas imprimidas da net com umas pousadas de juventude e afins.
Não podemos nunca obrigar ninguém a acolher-nos na sua casa, e a verdade é que a nós ninguém nos acolheu. E mais não digo.
Parámos em frente à Central Station para perguntar onde podíamos ficar e fomos parar à Witte de Withstraat ao Homehotel.
Nesse momento começou o stress do carro e das coisas que tínhamos trazido. Que fazer? Levar tudo para o quarto? Deixar o carro carregado? Optámos por um bocadinho das duas, e esvaziamos o carro até à metade, até conseguirmos fechar a tampa.
Estávamos na Holanda!
Era todo um mundo de possibilidades que se abria à nossa frente. Acontecesse o que acontecesse tínhamos conseguido pegar na nossa vida e fazer dela o que quiséssemos. E isso era o mais importante.
No dia seguinte pusemos pernas ao caminho e calcorreámos a cidade toda em busca de um hotel barato para ficar nos primeiros tempos.
Apanhámos uma chuvada descomunal, ficámos molhados até aos ossos e cheios de frio. Pode-se dizer que foi um dia bastante deprimente.
Comemos nesse dia os restos que sobraram da viagem, um resto de bola e panados que já tinham visto melhores dias, e leites com chocolate do Lidl, pois tudo o que víamos nos parecia caro e não tínhamos ideia de quanto dinheiro iríamos precisar no futuro.
De quanto dinheiro se precisa para começar uma vida nova? Ninguém sabe, e nós nessa altura (como agora!) não tínhamos a menor noção.
Andámos de pousada em pousada e nenhuma tinha quartos disponíveis ou adequados.
Lá conseguimos encontrar uma na Delfshaven, o bairro antigo de Rotterdam, com preços acessíveis, chamada Short Stay Acomodations (mais tarde íamos perceber a razão do nome) cujos donos eram do Suriname, e era super simpáticos e acolhedores. Lá fomos buscar o carro mais as 1000 tralhas (e se o arrependimento matasse tínhamos morrido mesmo ali) e lá subimos e descemos a escadaria íngreme vezes sem conta.
O quarto tinha um beliche e uma cama, com casa de banho (em separado como é típico cá, ou seja, WC para um lado e duche para o outro) ao fundo do corredor e cozinha. No nosso andar estavam também um hippie dos seus 60 anos cheio de tatuagens e dois inter railers. A higiene não era, digamos que, o forte do local, mas entre uma coisa e a outra lá nos amanhámos que também não somos muito esquisitos com essas coisas.
Nesse dia começou o frio. Um frio gélido, como nunca mais voltámos a apanhar cá.
E nesse dia apercebemo-nos que tudo ia correr bem, mas que se calhar não ia ser tão fácil como tínhamos imaginado.
Aliás é assim para toda a gente, todos temos uma história para contar de quando cá chegámos. Esta é a nossa.
Chegámos a Rotterdam numa 5a feira à noite, sem sítio para ficar, apenas com umas folhas imprimidas da net com umas pousadas de juventude e afins.
Não podemos nunca obrigar ninguém a acolher-nos na sua casa, e a verdade é que a nós ninguém nos acolheu. E mais não digo.
Parámos em frente à Central Station para perguntar onde podíamos ficar e fomos parar à Witte de Withstraat ao Homehotel.
Nesse momento começou o stress do carro e das coisas que tínhamos trazido. Que fazer? Levar tudo para o quarto? Deixar o carro carregado? Optámos por um bocadinho das duas, e esvaziamos o carro até à metade, até conseguirmos fechar a tampa.
Estávamos na Holanda!
Era todo um mundo de possibilidades que se abria à nossa frente. Acontecesse o que acontecesse tínhamos conseguido pegar na nossa vida e fazer dela o que quiséssemos. E isso era o mais importante.
No dia seguinte pusemos pernas ao caminho e calcorreámos a cidade toda em busca de um hotel barato para ficar nos primeiros tempos.
Apanhámos uma chuvada descomunal, ficámos molhados até aos ossos e cheios de frio. Pode-se dizer que foi um dia bastante deprimente.
Comemos nesse dia os restos que sobraram da viagem, um resto de bola e panados que já tinham visto melhores dias, e leites com chocolate do Lidl, pois tudo o que víamos nos parecia caro e não tínhamos ideia de quanto dinheiro iríamos precisar no futuro.
De quanto dinheiro se precisa para começar uma vida nova? Ninguém sabe, e nós nessa altura (como agora!) não tínhamos a menor noção.
Andámos de pousada em pousada e nenhuma tinha quartos disponíveis ou adequados.
Lá conseguimos encontrar uma na Delfshaven, o bairro antigo de Rotterdam, com preços acessíveis, chamada Short Stay Acomodations (mais tarde íamos perceber a razão do nome) cujos donos eram do Suriname, e era super simpáticos e acolhedores. Lá fomos buscar o carro mais as 1000 tralhas (e se o arrependimento matasse tínhamos morrido mesmo ali) e lá subimos e descemos a escadaria íngreme vezes sem conta.
O quarto tinha um beliche e uma cama, com casa de banho (em separado como é típico cá, ou seja, WC para um lado e duche para o outro) ao fundo do corredor e cozinha. No nosso andar estavam também um hippie dos seus 60 anos cheio de tatuagens e dois inter railers. A higiene não era, digamos que, o forte do local, mas entre uma coisa e a outra lá nos amanhámos que também não somos muito esquisitos com essas coisas.
Nesse dia começou o frio. Um frio gélido, como nunca mais voltámos a apanhar cá.
E nesse dia apercebemo-nos que tudo ia correr bem, mas que se calhar não ia ser tão fácil como tínhamos imaginado.
Into the Wild
Ontem vimos este filme. Muito bom.
Banda sonora excelente. Imagens lindas. Muito introspectivo.
Gostei muito. Mesmo.
"Happiness is only real when shared"
Banda sonora excelente. Imagens lindas. Muito introspectivo.
Gostei muito. Mesmo.
"Happiness is only real when shared"
Things I won't miss
Esta urgência em fazer qualquer coisa quando está sol, esta loucura colectiva do vale tudo menos ficar em casa só porque está bom tempo. Esta sensação do agora ou nunca, de saber exactamente que o bom tempo dura menos que nada e que é preciso aproveitar mesmo que nesse dia até nem apeteça.
Things I'll miss
Dias raros como hoje, em que o sol brilha tanto e o céu é tão azul, que apetece respirar fundo!
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Mais um passo II
A nossa estadia tem literalmente os dias contados.
E são 51 para ser mais precisa.
Dia 31 de Março, por volta das 19h30. Lá estaremos.
E são 51 para ser mais precisa.
Dia 31 de Março, por volta das 19h30. Lá estaremos.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Things I'll miss
(aqui vai a primeira)
Depois de uma jantarada com amigos, regressar a casa sozinha de bicicleta a pensar na vida - passar em frente à Museumplein e sentir-me em casa.
Depois de uma jantarada com amigos, regressar a casa sozinha de bicicleta a pensar na vida - passar em frente à Museumplein e sentir-me em casa.
Rubricas
A partir de hoje começarei a escrever duas novas rubricas neste blog:
1) Things I'll miss/Things I won't miss
(não gosto de pôr títulos em inglês, mas foi assim que a coisa me ocorreu, pois após algumas horas a falar sempre em inglês ou espanhol é normal pensar nessas línguas também durante um bocado - e assim foi quando surgiu a ideia de fazer estes posts à medida que me for lembrando)
2) Crónicas dos primeiros tempos
(relatos das nossas aventuras e desventuras quando cá chegámos)
São no fundo posts tipo livro de memórias para que fique registado.
1) Things I'll miss/Things I won't miss
(não gosto de pôr títulos em inglês, mas foi assim que a coisa me ocorreu, pois após algumas horas a falar sempre em inglês ou espanhol é normal pensar nessas línguas também durante um bocado - e assim foi quando surgiu a ideia de fazer estes posts à medida que me for lembrando)
2) Crónicas dos primeiros tempos
(relatos das nossas aventuras e desventuras quando cá chegámos)
São no fundo posts tipo livro de memórias para que fique registado.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
O insólito
...ter 6 dias de férias e aproveitar apenas 1!
Depois de 1 ano a queixar-me de falta de férias, eis-me a negar dias de férias!!!
Nota: esses dias vão-me ser pagos, coisa que dá sempre jeito; e além disso vou ficar por aí 1 mês inteiro de férias em Março.
Está explicado - não vá pensarem que eu enlouqueci, ou que no fundo me andei a queixar para nada!
Depois de 1 ano a queixar-me de falta de férias, eis-me a negar dias de férias!!!
Nota: esses dias vão-me ser pagos, coisa que dá sempre jeito; e além disso vou ficar por aí 1 mês inteiro de férias em Março.
Está explicado - não vá pensarem que eu enlouqueci, ou que no fundo me andei a queixar para nada!
Flight of the Conchords
Andamos a ver esta série.
A história de uma banda neozelandesa a tentar vingar nos Estados Unidos.
Um humor tão simples mas tão parvo, tão parvo, que é genial!
Adoro!
A história de uma banda neozelandesa a tentar vingar nos Estados Unidos.
Um humor tão simples mas tão parvo, tão parvo, que é genial!
Adoro!
Nacionalidade Oculta
De boca fechada ninguém sabe de que país venho.
Quem está fora do país, ou mesmo quem cá vem de visita, consegue num só olhar descobrir portugueses no meio da multidão. Há aquele ar de família que é comum à maioria - baixos, cabelos e olhos castanhos, mulheres de madeixas e homem de bigode- a par de um gosto de vestir inconfundível - sapatos de vela, casacos ensebados, e claro está, pouca produção, pouco acessório, pouca maquilhagem.
Ora, se por um lado consigo eu distinguir um grupo de tugas à légua, já o contrário não acontece. Os cabelos claros e pele branca são o meu disfarce perfeito, e se estiver a ler um livro em inglês então não se fala! Ninguém nunca imagina que aquela bifa da mesa do canto é tuga e está a topar toda a conversa.
Há um prazer escondido em não revelar a minha nacionalidade.
Nunca em dois anos de Holanda eu voluntariamente me apresentei ou identifiquei a alguém que esteja a falar português ao meu lado numa loja ou no supermercado. Ouço e calo-me, e observo de longe.
E, claro, já desenvolvi técnicas infalíveis para não dar cana e não dar a entender que percebo o que se diz. Não me rio das piadas, não reajo aos comentários, não sorrio sequer.
E a verdade é que uma pessoa se desabitua de perceber as conversas que se passam ao nosso lado. Quando estou no comboio ou num café normalmente não pesco nada do que se passa à minha volta, e por isso vou concentrada nos meus pensamentos. Ora quando percebo, é impossível não concentrar toda a atenção nessa conversa, por muito desinteressante que seja.
Uma vez dois mexicanos ao meu lado no comboio falavam sobre sei lá o quê, e eu devo ter feito um olhar de quem percebe ou ri-me de uma piada. Um vira-se para o outro e diz:
"Esa que está a tu lado habla español"
E diz o outro:
"No. No puede"
E diz o primeiro:
"Te lo juro que nos entiende. Mírala, mírala!"
(Eu com um ar inocente olho pela janela a conter o riso)
E diz o segundo:
"Esa chica seguro no habla español, y si te estaba mirando es porque quiere tu telefono!"
Estive prestes a, no último minuto antes de sair do comboio, lhes dizer qualquer coisa para mostrar que de facto percebi tudo o que eles disseram, mas resolvi não dizer nada e não revelar a minha verdadeira nacionalidade. Eles nunca iriam adivinhar.
E enquanto me mantiver de boca calada, posso ser quem eu quiser!
Quem está fora do país, ou mesmo quem cá vem de visita, consegue num só olhar descobrir portugueses no meio da multidão. Há aquele ar de família que é comum à maioria - baixos, cabelos e olhos castanhos, mulheres de madeixas e homem de bigode- a par de um gosto de vestir inconfundível - sapatos de vela, casacos ensebados, e claro está, pouca produção, pouco acessório, pouca maquilhagem.
Ora, se por um lado consigo eu distinguir um grupo de tugas à légua, já o contrário não acontece. Os cabelos claros e pele branca são o meu disfarce perfeito, e se estiver a ler um livro em inglês então não se fala! Ninguém nunca imagina que aquela bifa da mesa do canto é tuga e está a topar toda a conversa.
Há um prazer escondido em não revelar a minha nacionalidade.
Nunca em dois anos de Holanda eu voluntariamente me apresentei ou identifiquei a alguém que esteja a falar português ao meu lado numa loja ou no supermercado. Ouço e calo-me, e observo de longe.
E, claro, já desenvolvi técnicas infalíveis para não dar cana e não dar a entender que percebo o que se diz. Não me rio das piadas, não reajo aos comentários, não sorrio sequer.
E a verdade é que uma pessoa se desabitua de perceber as conversas que se passam ao nosso lado. Quando estou no comboio ou num café normalmente não pesco nada do que se passa à minha volta, e por isso vou concentrada nos meus pensamentos. Ora quando percebo, é impossível não concentrar toda a atenção nessa conversa, por muito desinteressante que seja.
Uma vez dois mexicanos ao meu lado no comboio falavam sobre sei lá o quê, e eu devo ter feito um olhar de quem percebe ou ri-me de uma piada. Um vira-se para o outro e diz:
"Esa que está a tu lado habla español"
E diz o outro:
"No. No puede"
E diz o primeiro:
"Te lo juro que nos entiende. Mírala, mírala!"
(Eu com um ar inocente olho pela janela a conter o riso)
E diz o segundo:
"Esa chica seguro no habla español, y si te estaba mirando es porque quiere tu telefono!"
Estive prestes a, no último minuto antes de sair do comboio, lhes dizer qualquer coisa para mostrar que de facto percebi tudo o que eles disseram, mas resolvi não dizer nada e não revelar a minha verdadeira nacionalidade. Eles nunca iriam adivinhar.
E enquanto me mantiver de boca calada, posso ser quem eu quiser!
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Sábado à tarde...
...lancho sempre no Max Café, em frente ao Hard Rock, à espera do T.
Aproveito para pôr alguma leitura em dia.
Aproveito para pôr alguma leitura em dia.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Viva a rede!
Ontem vivemos um episódio hilariante, que teve como palco o blog das copines Devaneios Singelos. A C. lançou um desafio, ou melhor, uma pergunta simples e o cenário estava montado! Seguiram-se posts, comentários, filmes, invenções e mais um bocadinho e a vida da C. dava uma volta sem ela dar por isso. Foi super cómico, porque vos imagino no excitex (igual ao meu) a tentar perceber a resposta e a rever os posts antigos de Maio e Junho e a comentar a 1000 à hora. E no final a resposta era tão simples... mas a pergunta ganhou vida própria.
E este episódio, como outros, faz-me pensar que a net, a blogoesfera, todos estes novos meios de comunicação são uma invenção fantástica.
A verdade é que foi preciso vir para Amsterdam para acompanhar e de certa forma participar também na vida de algumas pessoas.
Acho que já escrevi aqui que esta vida faz tudo para nos separar.
Quando damos por ela estamos embrenhados no trabalho, na casa, nos problemas, e vamos perdendo o contacto com pessoas importantes para nós.
Por outro lado, se há coisa que eu aprendi é que é difícil viver longe da família e dos amigos, perder aqueles momentos em que estamos todos em volta da mesa a falar ao mesmo tempo, aqueles momentos de pura vivência, puro convívio.
Por tudo isto, espero que quando eu regresse a Portugal esta vontade de estar fisicamente presente não passe, que pelo facto de estar ali perto não fique mais longe.
Espero que estas amizades que criei ou estreitei à distância não se percam no ritmo do dia-a-dia.