sexta-feira, 29 de abril de 2011

Revolução - por um mercado de trabalho mais flexível

Em resposta ao apelo lançado aqui, com um dia de atraso, aqui fica o meu testemunho.

Quando terminei o curso de História de Arte, tive a sorte de poder começar a trabalhar uns meses depois no serviço educativo de um dos maiores museus do país, de uma fundação privada (uma das maiores do país também, não vou dizer nomes mas acho que
e fácil perceber qual!).
Na altura trabalhávamos (eu e o resto da equipa) a recibos verdes. Fomos logo avisadas que as pessoas que lá estavam antes tinham sido mandadas embora ao fim dos 3 anos a recibos verdes, e que nunca teríamos hipótese de ficar nos quadros.
Não tínhamos ordenado fixo, recebíamos consoante o número de visitas guiadas ou actividades que fazíamos. E não recebíamos nada mal - se bem que havia meses com mais e meses com menos, e meses sem nada, claro.
O trabalho em si era apaixonante, e sei que é essa a minha vocação, mas com o tempo a insegurança de estar a recibos verdes começou a mexer-me no nervo, principalmente porque não era por falta de dinheiro.
Infelizmente, todas as propostas que fizemos, todas as mostras que demos de estar a fazer um excelente trabalho (que estávamos) saíram furadas, e percebemos que a nossa situação ali não ia mudar nunca. Tanto é que tudo isto se passou entre 2002 e 2005, e as pessoas que lá estão agora continuam, infelizmente, na mesma situação, a recibos verdes.
Em 2006 resolvi, com o Tê, partir para a Holanda.
Alguns meses depois de lá estar entrei para a empresa, onde ainda hoje trabalho. Tive pela primeira vez um contrato de trabalho, férias pagas, seguro de saúde e transporte pagos, todas as regalias.
Quando decidimos voltar para Portugal estava na altura de me darem um contrato permanente, que iam dar se eu tivesse ficado.
Já cá estávamos em Portugal quando me contactaram da empresa a perguntar se eu não queria voltar a trabalhar com eles, a partir de casa.
Falamos de uma empresa no ramo da tecnologia, que defende exactamente que com o equipamento adequado toda a gente pode trabalhar em todo o lado, que o estar 8h no escritório é obsoleto, e acharam que seria interessante ter uma pessoa que fosse exemplo disso mesmo.
Tendo em conta o estado do mercado de trabalho em Portugal, eu disse logo que sim, claro!
Durante 2 anos trabalhei a partir de casa a full-time.
O trabalho em si, como já disse 1000 vezes, é desinteressante. Não me preenche em nada, nem tem nada a ver comigo, apesar de o fazer relativamente bem. No entanto, dentro da área dos museus em Portugal é ainda muito difícil encontrar trabalho, e entre estar a fazer um trabalho secante num escritório em Lisboa, e ter de perder tempo em transportes e a receber o salário mínimo, a estar no conforto da minha casa, do mal o menos.
Apesar de estar em casa, tenho horário rígido a cumprir, e não me posso atrasar nem 1 minuto. Entro às 8h e saio às 16h30, com meia hora de almoço.
Trabalhar em casa nestas condições pode ser bastante secante. Não vejo ninguém, só falo com clientes, o contacto que tenho com os colegas é só através do chat interno, não tenho tempo de ir tomar um café, não tenho companhia para almoçar. Mas quando termino o trabalho já estou em casa, não perco tempo em transportes, não gasto dinheiro em comida fora de casa, vou tentando organizar a casa no horário de expediente.
Quando regressei de licença de maternidade, comecei a trabalhar em part-time, 3 dias por semana, coisa que já tinha pedido desde o início, mas que me foram adiando porque a equipa nunca estava completa.
E para uma mãe, é a situação perfeita.
Já aqui o disse que, por muito pouco interessante que seja o meu trabalho, não me vejo a estar indefinidamente sem trabalhar.
Assim, tenho tempo para tudo.
Quando estou no trabalho dedico-me a 100%, porque sei que tenho uma sorte do caraças em poder ter esta oportunidade, e porque estando a trabalhar à distância tenho de mostrar o que valho a dobrar, porque ninguém me vê a trabalhar, logo tenho mesmo de mostrar resultados.
Quando termino, posso dedicar-me àquilo que é mais importante, quer seja um outro projecto profissional (que não me sustenta, mas que me dá prazer), quer seja os filhos, a casa, as compras, os jantares ou as roupas.
O corte no ordenado é largamente compensado com a redução do nível do stress e com o tempo que ganho para a família.
A minha vida seria totalmente caótica se trabalhasse, como o Tê e como a maior parte das mães que conheço, das 9h às 17h30 que nunca são antes das 18h30, mais 1 hora de caminho para lá e para cá.
Entre a realização profissional a recibos verdes, ou a segurança de poder contar com um ordenado ao fim do mês, nesta fase da minha vida a segunda é, sem sombra de dúvida, mais importante.
O triste desta história é que parece que só é possível porque a empresa para quem trabalho não é portuguesa nem está em Portugal. Isto exige esforço por parte dos meus chefes, e também confiança, pois têm de analisar o meu trabalho com base nos resultados - aquilo que realmente interessa - e não na quantidade de horas que eu passo sentada à secretária ou em frente à máquina do café.
Por uma mudança de mentalidades, chefes de Portugal, inspirem-se!



Porque estou em casa de manhã...

...e hoje é dia de casamento real, pus-me a pensar no insólito que deve ser para os pais desta noiva (que pelo que sei são plebeus) verem a filha casar com um príncipe.
Num dia estão a ver o casamento do Carlos e da Diana na televisão (btw a minha primeira memória televisiva), no outro estão sentados ao lado da rainha.

A título de curiosidade: a noiva é, como eu, licenciada em História de Arte. Mais uma a não ter seguido carreira ligada ao curso. Pelos vistos não é só em Portugal...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Esta mulher...

... tem o tom de voz mais irritante e estridente da televisão portuguesa!
Ela não fala, só berra!
Que nervos!
O Goucha deve ser surdo, de certeza...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Ter um filho super independente é...

... ir busca-lo à escola ao fim de 15 dias de férias, e ter medo que ele venha a correr ter comigo de braços abertos.

Medo infundado. Não aconteceu.
Olhou para mim, riu-se e desatou a fugir pelo recreio fora.
Como sempre.
(alívio)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sangue do cordão umbilical

Quando a minha cunhada fez o curso de preparação para o parto ficou a saber que em Portugal existe um banco público de sangue do cordão umbilical.
Da primeira vez não sabíamos da existência, mas aconselhados por médicos conhecidos decidimos não guardar as células estaminais no privado.
Por um lado, porque é bastante caro, por outro porque nada está provado quanto à eficácia das ditas, e ainda porque as hipóteses de poderem ser usadas na mesma pessoa são muito remotas. Uma pessoa guarda as células do seu filho, mas provavelmente não poderia vir a usa-las mesmo que necessite.
Claro que a medicina avança a cada dia que passa, mas neste momento achámos que não valia a pena.
Desta vez resolvemos então doar o sangue do nosso cordão umbilical ao Centro de Histocompatibilidade do Norte.
Creio que funciona da mesma maneira que as empresas privadas: contactamos o centro, preenchemos uns questionários, eles enviam um kit de recolha que levamos para a sala de partos, e depois do parto contactamos a empresa para o vir buscar.
E tudo gratuito, claro.
Segundo o site, a percentagem de utilização de sangue (e das suas células estaminais) ronda os 2 a 3%, ou seja, caso (bate na madeira 3 vezes) venha a ser mesmo necessário temos grandes hipóteses de o nosso sangue ainda lá estar.
De qualquer modo, podemos contar com o sangue de todos os doadores, desde que seja compatível.
E claro, quantos mais doadores, melhor...
Se doamos sangue e medula óssea para um banco público, de modo a poder ajudar quem dele precisar, porque não fazer o mesmo com o sangue do cordão umbilical?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O post da praxe III: a gravidez

Estive para escrever sobre isto durante a gravidez, mas achei melhor não...
Conheço mães que ficam radiantes durante a gravidez, fantásticas, iluminadas. Outras que mais parece que saíram de um filme de terror, que passam mal durante 9 meses e aguardam ansiosamente o fim do tormento.
Entre uma e a outra estou eu.
Pois é, eu sei que até parece mal dizer isto quando nem tenho muitas razões de queixa, mas a gravidez não é o meu estado preferido.
Não me interpretem mal, que eu até gosto de estar grávida.
Gosto muito.
Mas gosto mais de não estar...
Gosto muito de me ver de barriga, acho que até me favorece, adoro sentir o bebé a mexer, adoro dar e receber festinhas na barriga, a expectativa do que aí vem.
A questão é que quando estou grávida não me sinto 100% eu.
Falta-me a energia, estou sempre cansada, sempre com aquela respiração ofegante de grávida que não me deixa fazer as coisas como antes. Detesto perder a mobilidade, detesto ter dores de estômago e digestões difíceis, detesto sentir-me toda a inchar por todos os lados.
Quando engravidei da primeira vez achei mesmo que iria ter imensas saudades da barriga. Passei as últimas semanas na maior nostalgia, a passar a mãe na barriga quase de lágrima no canto do olho com pena de essa fase estar a acabar.
Depois o baby nasceu... e eu nada.
Não tive nem uma saudade da barriga. Nada.
Aliás, olhava para as minhas amigas grávidas na altura e respirava de alívio por já ter passado essa fase.
Desta segunda vez, já sabia à partida que não teria saudades.
E a rapariga não tinha nem 24 horas quando vi as minhas últimas fotos de grávida e já nem me reconheci! Parecia que tinha estado grávida há anos!

É tudo muito giro, estar grávida é mesmo giro, mas, para mim, é 1000 vezes melhor ter o baby cá fora!

terça-feira, 19 de abril de 2011

O post da praxe II: a amamentação

Nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginei, ao escrever este post, que pouco mais de um ano depois estaria de volta às lides da amamentação.
Na altura houve alguém que me disse uma frase de que me tenho lembrado todos os dias:
" it takes two to tango"
Nada mais verdadeiro.
Enquanto mães podemos usar técnicas disto e daquilo, beber chás, usar cremes, colocar o bebé na posição A, B ou C ou o que se queira. Tudo isto resolverá apenas 50% da questão.
O bebé tem um papel essencial, e se os há que aprendem num instante, outros há que nunca chegam a conseguir mamar como deve ser.
Tal como eu previa, a estatística provou estar do meu lado, e depois de uma experiência dolorosa com o 1º filho, tenho agora a experiência de ter um filho que sabe mamar.
Não tem nada a ver.
Eu sou a mesma, com mais experiência, é certo, mas o acto de amamentar é completamente diferente.
A rapariga sabe o que tem de fazer. Não interrompe, não pára a meio para ver o que se passa, não chora, não esperneia, não pega-larga-pega-larga até à exaustão.
Chega à maminha, e (pasme-se!) mama! Isto para mim é uma total novidade!
Assim sim!

Dito isto resta acrescentar que mais uma vez confirmei que esta história da subida de leite está mal resolvida pela Natureza.
E a mim é uma fase que me custa a passar.
Fico com leite para trigémeos, mas só tenho um bebé.
Eu bem que massajo, ponho panos quentes, tiro com a bomba, massajo outra vez, e as amigas parece que ganham vida própria! Enchem, enchem, enchem, que mais um bocado e parece que vão explodir.
Não consigo dormir, não consigo quase pegar no baby ao colo, e vivo atormentada com a hipótese de a coisa bloquear de vez e eu ficar tipo Pamela A. mas cheia de dores.
Eu sei que dura pouco mais de 24 horas, mas ainda assim... acho escusado!
Porque não um aumento gradual da quantidade de leite, de acordo com as necessidades do baby? Não percebo...


segunda-feira, 18 de abril de 2011

O post da praxe I: o parto

Nota: não recomendado a pessoas sensíveis, grávidas de 1ª viagem, homens que não estão interessados neste assunto, adolescentes e crianças em geral. Pode conter pormenores explícitos. Não digam que eu não avisei...

Tudo começou mais concretamente na véspera. Tinha combinado com a minha médica ir ter com ela à MAC para fazer o ctg e ver o andamento da coisa no dia 5 à noite, uma vez que ela estava de banco desde essa manhã até às 9h do dia seguinte.
Tudo ok no ctg, o toque acusou que a qualquer momento a bolsa poderia rebentar (o outro parto começou exactamente com a bolsa a rebentar), e vim para casa com a indicação de ter "cuidado" para que ela aguentasse mais 1 semana até ao banco seguinte da médica, no dia 12. Convém referir que o toque foi do mais suave possível, não houve cá mexidelas para avançar o que quer que seja, aliás, eu não sei até hoje o que é um toque doloroso.
Regressámos a casa, e fomos dormir como normalmente.
Estava combinado que o Tê iria para Lisboa trabalhar de boleia com o pai, às 7h da manhã, e que eu iria levar o baby grande à escola, como sempre desde que estava de férias.
Acho eu que por volta das 5h da manhã já devo ter sentido alguma coisa, pois fui à casa-de-banho com algum incómodo, mas nada de especial.
Por volta das 6h30 comecei com dores. Primeiro uma, depois outra, algum tempo sem sentir nada, para logo depois voltar a sentir.
Resolvi levantar-me e avisar o Tê que era melhor irmos ver de que se tratava, pois não estava em condições de tratar do baby e leva-lo à escola sozinha.
Coincidência ou não, quando chego à sala para avisar o Tê vejo que ele vestiu, completamente por acaso, a mesma camisola que tinha quando o baby grande nasceu.
Já estás! Pensei eu. Vai ser mesmo hoje!.
Ainda tomei um duche e vesti-me, com dores cíclicas mas irregulares, e perfeitamente suportáveis. Fomos depois levar o baby grande a casa dos avós (e não esqueço a cara dele a despedir-se de mim à porta - queria vir ao meu colo e eu fiz-lhe uma brincadeira que costumo fazer para ele se rir, que isto de ser mãe é também ser uma boa actriz, e depois na janela ao colo da avó para nos dizer adeus).
A viagem para Lisboa foi quase à filme. A intensidade das dores ia aumentando, o intervalo entre as dores ia encurtando (sempre agradável). Não chegámos a estar parados no transito, mas lembro-me de pensar que toda aquela gente ia nos seus carros para o trabalho, num dia normal, e eu ia ali em trabalho de parto, a respirar feita louca, mas ainda com tudo sob controle.
Chegámos à MAC pouco antes das 8h, e eu já cheia de dores. A menina da recepção disse que já me chamavam, e eu só lhe respondi "mas olhe que eu já estou cheia de dores", coisa que devo ter dito a partir daqui umas 1000 vezes até ela nascer.
Fui fazer o ctg já quase a rebolar (e a ter de ficar sentadinha amarrada à máquina, claro...), e entretanto chegou a minha médica, que estava a meia hora de acabar o seu turno e ir embora. Disse-me que ainda não estava em trabalho de parto activo, que eram contracções muito irregulares, e que me ia pôr a soro para parar as contracções e ver se ainda aguentava até dia 12. Nisto, foi para uma reunião.
Veio a enfermeira para supostamente me pôr o soro, olha para o ctg e diz que acha uma estupidez pôr o soro, que eu estava cheia de dores (confirma, estava mesmo!) e pergunta se quero que ela me faça um toque só para ver o andamento da coisa.
E aqui começa a confusão...
Eu não queria que ela fizesse toque nenhum, porque se o fizesse iriam rebentar as águas com certeza, e não queria fazer nada sem que a dra soubesse. Ela (que foi entre o querida e o autoritária, mas que no fim tinha razão) a dizer-me (entre uma contracção e a outra, cheira uma flor e sopra uma vela, minha querida) que tem 20 anos de experiência, que a dra vai embora às 9h e que já nem a volto a ver, que eu tenho poder decisão (e eu a dizer que não quero ter poder de decisão nenhum, que só tenho é dores, que não me façam tomar decisões naquele momento! Mandem que eu obedeço, mas não me confundam por favor!). Mandou-me então ir ao wc, vestir a bata, que depois logo faria o que eu quisesse.
Aqueles momentos sozinha na casa-de-banho foram qualquer coisa que jamais irei esquecer. Cheia de dores (mas cheia, cheia, cheia de dores) sem saber para que lado me virar, sem saber se ponho soro ou não, se vai nascer ou não, se existo ou não, como me chamo, quem sou, onde estou...
Visto de fora, penso que deveria ter feito o curso pré-parto outra vez, pois todos os ensinamentos de respiração, relaxamento, posições confortáveis que aprendi há ano e meio, nada me veio à memória, só dois dias depois me lembrei que poderia ter usado isso tudo.
Basicamente deixei que a dor se apoderasse de mim, já só sentia era dor, dor, dor, só me vinha à cabeça que estava cheia de dores e nem sabia bem o que fazer... Entre uma dor e a outra lá consegui tirar uma bota e a outra, uma meia e a outra, as calças, o resto da roupa, e vestir a bela amiga bata. Devo ter feito km em pequenos passos naquela casa-de-banho, parece-me que estive lá uma eternidade, que não foram mais de 15 minutos.
Quando saí já estava mais para lá do que para cá, nem me consigo reconhecer muito bem. Fiquei aparvalhada, pronto, não há outro adjectivo.
Atraquei-me a uma maca, nem sei se trouxe a pasta dos documentos, o saco das roupas, ou se os deixei para trás, e a tal enfermeira veio outra vez ao meu encontro.
Mais uma vez estivemos ali, faz toque não faz toque, posso ligar à dra ou não, nasce não nasce, enfim, uma confusão.
A última coisa que eu queria era ir contra a opinião da minha médica, em quem eu confio a 100%. Tinha o terror de estar a seguir uma enfermeira, e depois as coisas correrem mal.
Às tantas a enfermeira fez uma espécie de proposta com sabor a ultimatum: se quiseres eu faço-te o soro e ficas aqui a rebolar com dores, ou então vens comigo para a sala de parto e eu peço uma epidural! Ora aqui está uma enfermeira cheia de poder de persuasão!
Isto dito assim até parece que eu queria imenso uma epidural, mas a verdade é que eu estava tão numa outra dimensão que só conseguia pensar em dores, dores, dores e nada mais. Consenti a que me fizesse então o toque, com muito jeitinho, para ver como estavam as coisas.
Lá me arrastei pelo meu pé até à sala da triagem, e a resposta dela foi tão simplesmente: estás com 8 para 9 dedos de dilatação! Olha, epidural, esquece! (e eu só pensava nas dores, nem reagi).
Chamaram o Tê, que apareceu a sorrir todo contente e eu nem conseguia falar. Fiz-lhe sinal com os olhos para levar o telemóvel e as coisas. Pediram para assinar uns papéis, eu só dizia "não consigo", para me levantar da maca "não consigo", não conseguia fazer nada. Aparvalhada, já o disse.
Entre uma contracção e a outra (com meros segundos de intervalo) lá fui pelo meu pé para a sala de partos (a última do corredor). Chegando lá foi a confusão que se instalou - suba para a cama "não consigo", deite-se "não consigo", nem falar eu conseguia... Entraram e saíram várias pessoas, eu sem saber se são médicos ou enfermeiros, quem é quem, sem saber se posso fazer força, fiquei deitada, imóvel, a curtir a dor porque nem tinha força para mais nada...
Eis se não quando, qual D. Sebastião envolta em nevoeiro, entra a minha médica, que tinha saído da reunião. Para mim foi como se entrasse um anjo na sala, uma pessoa em quem realmente confio.
Só lhe perguntei se já podia fazer força, ela disse que sim, e eu pensei, claro " não consigo!". Mas com a ajuda do Tê, e dela, claro que consegui.
E fiz força. Muita força. E gritei e apertei o braço do Tê, e fiz mais força, não muitas vezes até que finalmente o Tê me diz já lhe via a cabeça, e eu olhei (estava praticamente sentada) e vi-a claramente a sair de dentro de mim.
Clichés à parte, é sem dúvida a sensação mais incrível do mundo, e única, apesar de não ter sido a primeira vez...
Ela, que chorou mal saiu, veio para o meu colo de imediato, e calou-se, aninhou-se e ali ficou, ainda completamente suja, aconchegada no meu colo.
Foi o supremo alívio e a maior felicidade.
Indescritível.
Algum tempo depois levaram-na com o Tê para a limpar e vestir, e só quando o Tê regressou com ela no colo e aquele papel cor-de-rosa com o nome e o peso na mão é que eu me desfiz a chorar: a nossa filha tinha mesmo nascido...

Tudo isto se passou num total de 3 horas, já que eu comecei com dores em casa às 6h30, e às 9h30 ela estava cá fora.
Não sei como é que as pessoas aguentam partos intermináveis, com dores intermináveis horas a fio (e aqui fica a minha vénia de respeito).
A minha perspectiva de vida mudou ao ter um parto assim.
É uma coisa de que me orgulho por ter conseguido ultrapassar, e faz-me ter um enorme respeito por todas as mulheres que pariram com dor, e em condições muito piores que eu, que estava no hospital, com todos os cuidados médicos que poderia ter.
No próprio dia não me sentia capaz de voltar a passar por isso, mas agora, claro, a intensidade da dor já desvaneceu...
Foi tudo bastante confuso, e aquela situação do nasce-não nasce fez-me sentir claramente num hospital público. O médico diz uma coisa mas a enfermeira diz outra, quando cheguei à sala de partos nem sabia quem era médico ou enfermeira, todas as batas eram diferentes, e do meu conhecimento dos partos no privado, tudo corre de modo mais calmo. isto, claro, é a minha perspectiva, porque tive os dois filhos na MAC, não posso de facto, comparar.
Continuo a confiar a 100% na minha médica, apesar do erro de diagnóstico - eu estava claramente em trabalho de parto, e ela a querer parar o processo nem sei porquê - ou melhor, sei, porque ela gosta mesmo de ser ela a fazer os partos das suas grávidas, e como estava prestes a ir embora e não se sabia quanto tempo ia demorar, cometeu este erro. Não a censuro, pois estava ali a trabalhar há 24 horas, e eu sei que nessa noite houve um boom de partos e que a maternidade estava cheia. No final ela acabou por ficar até bem depois da sua hora da saída só para me acompanhar, e isso para mim foi super importante.
Da outra vez tudo se passou de um modo mais calmo, eu consegui fazer tudo sem ter dores, estas só chegaram já eu estava deitada na sala de partos, e apesar de a epidural ter sido fraquinha, e eu nunca ter deixado de ter dores, consegui controlar as ditas, consegui respirar com calma, fazer força de modo correcto no momento da expulsão. Para isso também contribuiu o facto de ter comigo a minha tia pediatra, que me acalmou e me disse exactamente o que fazer.
Desta vez nem houve tempo para nada, sinto que foi tudo uma confusão, não consegui recuperar o fôlego, mas no fundo acabou por correr tudo bem na mesma, e foi consideravelmente mais rápido. O facto de ter feito a dilatação toda a andar de um lado para o outro, por muito que me tenha custado, foi claramente positivo. Se calhar se não tivesse havido dúvidas em relação ao trabalho de parto tinham-me deitado numa cama de imediato e as coisas tinham demorado muito mais. Nunca vamos saber...
Apesar de tudo, de todas as dores que tive e de tudo o que se passou, fico muito contente por tudo ter decorrido de forma natural, no dia que ela (e meio Portugal) decidiu nascer, sem interferência de nada, no fundo, como a natureza dita que os partos devem ser.
Por outro lado, acho que se uma pessoa tem pouca resistência à dor, ou se tem medo do parto, o melhor mesmo é combinar com o médico e fazer uma indução com toda a tranquilidade, e parir sem chegar a sentir dor.
Porque, de facto, não é pêra doce.
Quanto a mim... claro que o dia do nascimento da minha filha foi perfeito, claro que não mudava nada porque tudo contribuiu para que as coisas corressem bem, claro que tenho o maior orgulho em poder dizer que sei o que é ter um filho sem ajuda de nenhuma epidural, analgésico ou droga de qualquer tipo.
Se me perguntam se quero ter um 3º filho da mesma maneira, a minha resposta tem de ser: tenho muito tempo para pensar no assunto.

domingo, 10 de abril de 2011

Nasceu!

Dia 6, às 9h30 da manhã, nasceu a nossa baby girl, de parto natural e rápido.
Em breve farei o post da praxe, com toda a discrição detalhada de como tudo aconteceu.
Agora é tempo de curtir este momento único e especial de regressar a casa e ter dois filhos bebés.
Mais feliz? Impossível.
:)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Desta gravidez

Porque a memória é traiçoeira, porque desta vez não tive agenda da grávida, porque está quase a acabar, porque sei que um dia vou gostar de ler este post:
  • soubemos que estava grávida no dia 10 de Agosto e fiz o teste porque, tal qual como da outra vez, tinha uma mamografia marcada (que a médica me tinha mandado fazer há décadas) e não quis fazê-la sem ter a certeza de não estar grávida. Como ia fazer a mamografia no hospital onde a mãe do Tê trabalhava, e tinha sido tudo marcado por ela, enviei-lhe uma sms depois de ver o resultado do teste, a avisar que não podia ir porque tinha surgido um imprevisto. Não estava a mentir. Esta gravidez foi mesmo, um imprevisto.
  • demorámos uns dias/semanas a interiorizar a coisa. Não acreditámos logo que íamos ter outro bebé tão cedo, fizemos vários testes depois do primeiro porque não estávamos mesmo a acreditar
  • achei sinceramente que desta vez não ia enjoar, mas não me safei. Começou por ser uma má disposição permanente, não especialmente de manhã. No final de Agosto fomos passar um fim-de-semana de sonho em Monchique, e eu só de me lembrar até me agonia. O hotel era perfeito, com uma piscina perfeita, com um pequeno-almoço perfeito e de chorar por mais, estava óptimo tempo, e a família esteve reunida como há muito não acontecia. Eu só me apetecia dormir, estive mal disposta como tudo, enjoei o cheiro dos quartos, dos produtos de beleza da casa-de-banho, da sala das crianças, de tudo. Só espero voltar lá este ano, para apreciar tudo verdadeiramente.
  • enjoei o cheiro do detergente da roupa, do desodorizante do Tê, do cocó do baby, enjoei o programa do Dr. Oz (nem eu percebo!). Da outra vez não vomitei nunca, mas desta vez sim. Desta vez não enjoei o café, mas deixei de o beber puro, bebo-o só com leite
  • tirei uma semana se férias em Setembro e as memórias que guardo são de um cansaço permanente, de me andar a arrastar por todo o lado, de subir os 3 andares com o baby ao colo, chegar a casa, depositá-lo no parque e deitar-me no sofá, completamente morta de cansaço!
  • ainda no 1º trimestre houve um dia em que me ocorreu que já não me imaginava com apenas 1 filho, ou por outro lado, com a preocupação centrada apenas nele. Nesse dia percebi (ou tive um cheirinho) do que é ter 2 filhos
  • senti o bebé mexer pela 1ª vez às 12 semanas - estava sentada, apoiada nos joelhos e senti como se fosse um peixinho no aquário. Depois disso senti-o várias vezes, coisa que me descansou imenso. O pai sentiu por volta das 20 semanas.
  • no 2º trimestre o cansaço abrandou, e eu preparei-me para as dores nas costas, de que tinha sofrido imenso da outra vez. Preparei as 1000 almofadas para dormir, mas depois apercebi-me de que não precisava.
  • as vezes que fui a eventos sociais sozinha com o baby foram bastante cansativas: ele não parava quieto, sempre a gatinhar por todo o lado, e eu a ter de correr atrás dele e baixar-me 1000 vezes para lhe pegar ao colo
  • devido ao ponto anterior, apreciei profundamente quando o baby começou a andar. Marcou uma nova etapa nesta gravidez
  • ainda assim, tendo em conta as circunstâncias, acho que o nível de cansaço foi equivalente à outra vez, apesar de ter um baby para cuidar
  • sem dúvida, se tiver de optar, optarei SEMPRE por uma gravidez no Inverno
  • tive os mesmos cuidados da outra vez: usei os collants de descanso, apliquei sempre o creme anti-estrias ( a diferença foi que da outra vez comprei vários cremes de várias marcas específicas para o efeito, e desta vez optei pelo simples óleo de amêndoas doces e creme Nívea da lata azul - so far, so good), nos dias de sol usei protector solar 50
  • foi mais difícil resistir aos doces e comidas pesadas, talvez por ser Inverno, mas acho que no geral, tirando uma ou outra excepção, não relaxei totalmente (no que toca a carne mal passada, queijos moles, saladas fora de casa etc.)
  • engordei exactamente o mesmo número de kilos
  • durante uns tempos ela esteve numa posição que me comprimia o estômago, levando-me a vomitar com alguma frequência depois de comer
  • o 2º trimestre foi marcado por uma (ou várias) constipações, e foi muito, muito irritante andar semanas com soro no nariz e lenços de papel, e pingos, e ida às urgências com uma pneumonia
  • não acho que tenha passado muito rápido, se pensar nisso acho já estou grávida há uma eternidade
  • acho que a barriga cresceu muito no início, mas a partir de certa altura ficou do mesmo tamanho que da outra gravidez. Ainda assim, muita gente deve pensar que estou enorme, pois fartei-me de ouvir bocas tipo "tens a certeza que não são dois bebés?" ou o clássico "está quase!" antes mesmo das 30 semanas.
  • outra diferença: da outra vez incharam os pés, desta vez são as mãos. Ando há semanas com as mãos que nem consigo fechar, principalmente à noite
  • semelhança: o comportamento do baby. Parece que estou grávida do mesmo bebé outra vez. Mexe-se mais à noite, em casa, em ambientes que conhece bem. Se estou no café, no supermercado, na rua, fica quieta e calada sem se mexer. As amigas mais pacientes só a conseguiram sentir já ela estava bastante grande, e tal com o da outra vez aconteceu-me estar na presença de outras grávidas com os seus bebés aos saltos na barriga, e toda a família em êxtase a sentir os pontapés (eu inclusivé!), e eu com o meu sorriso amarelo e com a barriga quieta como uma pedra. Da outra vez pensei que ia ter um bebé muito calminho, mas depois percebi que ele era apenas um cusco da pior espécie, super atento a tudo: qualquer diferença de ambiente e ele dava logo por isso. Ainda assim, em algumas situações ela mexe-se um pouco mais - por exemplo, quando conduzo - vamos ver que tal sai.
  • já me tinham avisado da importância de tirar férias no final da gravidez, para preparar tudo com calma, e eu agora assino por baixo. Nesta fase o que importa é mesmo a gravidez, e devemos dedicar-lhe o maior tempo possível, sem perder tempo com clientes, relatórios, chefes e colegas de trabalho. Nunca se sabe se é a última vez...
  • por estar de férias e a curtir o descanso, não estou com pressa que ela nasça, não me sinto tão podre como há umas semanas atrás.
  • apesar de tudo estar a correr lindamente, e de achar muito giro ter dois filhos com pouca diferença, não aconselho duas gravidezes assim de seguida. Esperar mais uns meses seria indiferente para os filhos, e permitem à mãe recuperar melhor.
  • não pretendo engravidar tão cedo, mas para mim é impensável que esta seja a minha última gravidez :)

Constatação

Se eu não trabalhasse, tinha uma vida doméstica tão mais organizada...

(e o contrário também é verdade: se eu trabalhasse fora de casa, 5 dias por semana como quase toda a gente, tinha uma vida doméstica ainda mais caótica, oh se tinha!)

Panela de pressão

Já tínhamos pensado há que tempos se valeria a pena comprar uma, principalmente para fazer a sopa.
Ao saber disto a mãe do Tê disponibilizou-nos uma não usava com muita frequência.
Adoro.
Claro, meus amigos, que não se trata de uma bimbi, mas para quem não tem, é como se fosse.
A parte de cortar os legumes mantém-se na mesma, depois é só fechar a panela, e quando começa a apitar, ir baixar o lume. 10 minutos depois, mais coisa menos coisa, é desligar e deixar o vapor sair.
Fica com uma óptima consistência (depois de passada, bem entendido), é super rápida, não suja o fogão, não entorna por fora, nada.
E como tem um óptimo tamanho, faço sopa para todos para a semana, e ainda congelo umas quantas caixas.
Estou fã.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Outro vício

Para não pensarem "ah e tal e esta grávida é tão bem comportada que só se vicia em iogurte e fruta fresca": amêndoas de chocolate de Páscoa marca Bell's.
Daquelas que são amêndoa no meio e uma camada gorda de chocolate por fora. A amêndoa é estaladiça e o chocolate de fora, de chorar por mais.
Uma maldição!
Comprei a 1ª vez no PD porque eram as mais baratinhas, e como diz que não se deve comer chocolate a amamentar (ou não na quantidade desejada, que essa coisa de comer 1 quadradinho de chocolate, ou 1 amêndoa apenas, a mim não me diz nada!), resolvi aproveitar agora.
Erro. Dos grandes.
Raios!


Quase, quase...

Parece ser a palavra de ordem nestes dias.
Mas sim, está mesmo quase.

E a maior prova disso é que a minha "grávida gémea" desta gravidez (para quem não sabe, a mulher do P., assíduo comentador deste blog desde o início) deu ontem à luz (e esta expressão, tratando-se do dia de ontem em que houve um "apagão" na Luz, poderia ter uma certa piada, mas não tem que a malta é toda sportinguista e está pouco importada com o que se passa com os portistas na Luz, adiante), dizia eu, deu ontem à luz o seu rapazola, lindo de morrer, louro como ninguém, de olho bem aberto e esperto para o mundo!
Foi para mim uma enorme emoção, não só por ser filho, neto e sobrinho de quem é, mas também porque vai ser o baby com menos diferença de idade da minha miúda, e isso torna-o ainda mais especial. Estou morta por ir conhece-lo, e espero ainda o conseguir fazer antes de parir, porque como sabeis... está quase!



domingo, 3 de abril de 2011

Carta à Mary de 2030

A convite de um grupo de amigas (que muito me honrou, devo dizer), no dia 1 de Abril foi dia de escrever uma carta para a Mary de 2030.
Foi complicado.
Como se podia tornar um momento muito, mas muito emocional, resolvi levar a coisa na desportiva, sem delongas, mais para rir daqui a 19 anos do que para chorar.
Porque sim, houve momentos em que me apeteceu chorar.
E por muito descontraída que esteja esta carta, eu tenho a certeza absoluta que a Mary de 2030 vai ter muitas, muitas saudades, da Mary de 2011.
Mas foi um exercício bem giro de fazer.

Nota à parte: escrevi a carta à mão, para poder ver a minha letra daqui a um tempo, e também para que não haja cópias nem registos desta carta até ao momento em que a voltarei a ler. No entanto, com toda a solenidade do momento, não é que a porcaria da caneta acabou a meio de uma frase? Que nervos! Tive de continuar numa cor diferente, porque nesta casa da Mary de 2011 há falta de esferográficas!

Porque é que as pessoas normais esperam mais do que nove meses antes de voltar a engravidar X

Para terem um filho mais velho que saiba atar os atacadores da mãe, quando esta mal se consegue mexer.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Novo vício

Morangos (frescos) com iogurte Delissimo marca PD de manga.

Contradições...

... desta fase da minha vida:
  • períodos de sono incontrolável, seguidos de períodos de insónia que fico sem saber o que fazer
  • sensação de enfartamento seguida de uma fome descontrolada, capaz de comer o mundo
  • momentos de grande energia, seguidas de momentos em que me arrasto por aí