quinta-feira, 25 de março de 2010
O último post sobre amamentação (durante uns tempos)
Acabou há mais ou menos um mês.
Foi uma semana negra, a mais difícil desde que sou mãe, e só agora consegui digerir (mais ou menos) o assunto e falar sobre isso.
A verdade é que a coisa nunca correu bem. Nunca nos ajeitámos bem, e o processo, desde o primeiro dia foi difícil de gerir.
O meu baby, desde que nasceu, não pára quieto. E quer estar sempre em cima do acontecimento. E não pode haver um barulho num raio de 10 metros que ele não queira logo olhar e cuscar o que se passa e ficar a par de tudo. O momento da maminha era uma luta, com ele constantemente a interromper e a olhar para o lado e tudo e tudo.
Nasceu pequeno, perdeu o dobro do peso que era suposto, demorou 2 semanas até pegar como deve ser (duas semanas de choros intensos e horas perdidas até ele resolver pegar), e eu às tantas já só queria era que ele comesse e aumentasse de peso de uma vez, queria lá saber se o fazia bem ou mal. Quando pegava eu tinha de ficar quieta e calada e virada para a frente, quase num não fala e não respira, pois ao menor movimento ou ruído da minha parte ele parava de mamar e recusava-se a continuar. Cheguei a estar com o nariz a pingar e sem me poder mexer só para não o interromper. E muitas vezes ele simplesmente rejeitou a minha maminha, chorava com fome mas sem lhe pegar.
E sempre, ao longo dos 4 meses, com dores em cada início.
Sim, eu sabia muito bem toda a teoria da "boa pega" e das posições correctas, e li tudo e consultei os sites e tudo, estava a par de tudo, mas num bebé que se recusa a continuar quando interrompido, é impossível tentar corrigir seja o que for.
Sangue, suor e lágrimas. Houve de tudo.
Num Domingo à noite, há um mês atrás, bati no fundo.
Olhei para o espelho às 5h da manhã e perguntei-me "amamentar é isto?". Não é com certeza.
Continuar a amamentar seria prolongar uma situação que se tornara insuportável.
Decidi então deixar de dar de mamar. Esquecer o assunto e seguir em frente.
Custou-me horrores, por todos os lados.
A parte física foi realmente um mau bocado. Para acabar de vez com o assunto tomei uns comprimidos que não sei se foi pior a emenda que o soneto. Deixaram-me super mal disposta, enjoada e com uma grande moca na cabeça. Só queria dormir e acordar com o assunto resolvido. E esquecer tudo o que estava a passar, se não quando tivesse o próximo filho saía da maternidade já de biberon em punho.
Emocionalmente estava de rastos. Custou-me imenso, porque sei que em parte a decisão foi minha.
Para piorar as coisas durante essa semana negra quase nem lhe conseguia pegar, não podia tratar dele sozinha nem nada. Péssimo.
Ele, na boa, todo contente com o biberon, nunca pareceu afectado por tudo isto.
E o pior de tudo foi ter de repensar a minha posição de mãe. Durante mais de 4 meses, toda a minha vida de mãe até então, parte de ser mãe tinha passado por dar de mamar. De repente, essa coisa única que só eu podia dar deixa de existir, e todos podem participar. Foi estranho, e senti-me bastante insegura. Depois passou.
Entretanto li que muitas mães sentem o mesmo quando os bebés vão para a escola, exactamente aos 4 meses. Há um questionar do vínculo que nos une, mas depois passa e tudo volta ao normal.
Uma das coisas que também não ajudaram foi ter demasiadas ideias feitas.
Hoje em dia levamos a amamentação tão a peito que quando as coisas não correm como esperado é o fim do mundo.
Se na altura eu ouvisse palavras como "suplemento" ou "biberon", quase que fugia a sete pés! O meu filho nunca! Amamentação em absoluto exclusivo até aos 6 meses e nem queria ouvir falar em mais nada!
Em teoria eu sou aquela que nunca deveria ter problemas neste campo.
Ao contrário de muitas mães da minha geração, eu sempre vivi rodeada de mulheres que amamentaram. Quando a minha irmã nasceu, pouco antes do 25 de Abril, a minha mãe foi a única da maternidade a amamentar. A minha irmã mais velha amamentou os 3 filhos até depois do 1 ano pelo menos. A outra irmã conseguiu a proeza de amamentar a filha prematura, passando por uma subida de leite em casa quando o bebé estava ainda no hospital, na incubadora. Uma das minhas melhores amigas frequentou cursos do SOS Amamentação e amamentou os dois filhos sob o olhar céptico da sua família, contra tudo e todos. A minha tia pediatra foi uma das fundadoras do Espaço Amamentação na MAC. Nos encontros de família há sempre uma ou duas mães a dar de mamar no quarto da avó. São estas as mulheres que me rodeiam, para que se veja que bons exemplos não me faltam.
O meu filho veio para o meu colo quando nasceu, esteve na minha barriga pele com pele durante imenso tempo, e foi posto a mamar durante a primeira meia hora de vida. Nasceu na MAC que na altura estava candidatar-se a ser um hospital "Amigo dos Bebés", pelo que recebi todo o apoio de todas as enfermeiras, que ficavam comigo até ele pegar em todas as mamadas. Só usou chucha ao fim de duas semanas.
Ainda assim, o processo falhou.
E se calhar, se eu não tivesse sido tão cabeça dura talvez hoje ainda estivesse a amamentar. Se eu não tivesse ficado tão chocada quando a pediatra disse para ele começar a comer outras coisas aos 4 meses, se calhar tinha dado de mamar durante mais tempo.
Às vezes somos vítimas das nossas próprias convicções.
E pronto, virada a página posso dizer que tive sorte por ele aceitar bem o biberon, mesmo que fosse eu a dar, adora a papa e a fruta que entretanto já come e finalmente está a ganhar peso a olhos vistos.
No meio do caos nem tudo são coisas más.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Minha querida mana, tenho muita pena mas concordo contigo. às vezes somos tão cabeça dura que só aprendemos às nossas custas, da pior maneira e com o maior sofrimento.
Belo post! Disseste tudo! Estou agora também a ser cabeça dura com o meu Pedro que não engorda de acordo com os parâmetros. Tal como tudo, fujo de "biberão", "leite em pó" e "suplemento"... Acho que a sociedade também exerce muita pressão sobre nós. Ainda oiço a minha família dizer que amamentei pouco tempo o meu Tiago (até aos 12 meses) e que tenho de dar mama mais tempo ao Pedro...
Mary... nem sei o que dizer, mas gostei deste teu post. Devemos estar preparadas para todas as situações... Bjs
(Eu agora precisava de ajuda para tirar a mama ao André por exemplo... e não tenho ajuda e sózinha não estou a conseguir!)
Só para destacar esta frase tão redundante:
"Hoje em dia levamos a amamentação tão a peito"!
Pois como haveria de ser?
:-)
Bjs!
Ahah, o meu primeiro pensamento a comentar este post foi o mesmo do Naish, mas achei descabido para o post. mas deu para rir.
Este blog é um livro da vida! Já vou estar mais atento!
Naish e Noivo, espero que estes posts sirvam para vos ir preparando para o futuro, para lidarem com as vossas mulheres quando elas estiverem nesta situação, que não é mesmo nada fácil. Estas coisas que levamos a peito têm muito que se lhe diga!
É o que dá ter tanta ideia feita! É o mal das civilizações modernas, pensam demasiado, pesquisam demasiado (até em fontes de categoria duvidosa...) e ouvem demasiado a respeito de tudo. Há coisas são pra ser, outras nem por isso, live and let live ! Tudo se cria, essa é que é essa!!
Enviar um comentário