segunda-feira, 30 de março de 2020

O inédito de sábado à tarde

1917 - Cinecartaz


Para que fique registado, sob o tema "coisas que só acontecem na quarentena", esta que vos escreve fez uma coisa que não fazia seguramente há mais de 10 anos:
Sábado à tarde, eram aí umas 17h30, abanquei no sofá e vi um filme.
Inteiro.
Sozinha
(porque o pai cá de casa já o tinha visto, parece que tem uma vida paralela quando todos nos vamos deitar.)

Claramente, tenho de fazer isto mais vezes.

Livro 9/53

As Velas Ardem Até ao Fim - Sándor Márai - Compra Livros ou ebook ...



As velas ardem até ao fim, de Sándor Márai

Chamou-me a atenção a biografia do autor, e também o facto de ter muito poucas críticas no Goodreads.
É uma obra fantástica, que me cativou logo desde o primeiro momento (sendo que o comecei a ler na fila do supermercado - sinais dos tempos).
Está escrito de forma simples e bela, e conta uma história muito simples também.
Há uma casa de família, há o protagonista e o seu melhor amigo que se reencontram ao fim de 41 anos. O autor vai desfiando as diferentes histórias, desde os pais do protagonista, a ama, a sua mulher, a família do melhor amigo também. 
Tem um pormenor que eu adorei que é o facto de ter as datas todas muito bem explicadas - datas de nascimento de cada personagem, datas dos diferentes acontecimentos, conseguimos criar uma linha do tempo muito bem definida, que é coisa que eu bem aprecio.
Só não dei 5 estrelas porque no final o livro perde um pouco o ritmo, e o fim desiludiu-me assim um bocadinho de nada.
Dei 4 estrelas, que são 4,5 e recomendo muito.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A razão do optimismo no post anterior...

Não sei se notaram um tom bastante optimista no post anterior.
Sim senhora, até parecia que eu tinha esta quarentena controlada, tudo sobre rodas, alegria no ar.
Pois... esse optimismo tinha um segredo, que agora posso partilhar.
Todos os dias desde que a quarentena começou que eu fazia uma sagrada caminhada no paredão de Cascais, ali entre as 6h45 e as 7h20 da manhã mais coisa menos coisa. Ia de carro, caminhava sozinha sem mexer em nada e regressava ainda antes da casa acordar. Uma verdadeira terapia.
Nunca disse a ninguém que o fazia, nem partilhei nas redes sociais as fotografias lindas do nascer do sol, por puro egoísmo: para não dar ideias a ninguém!
E desde ontem o inevitável aconteceu, e o paredão ficou interdito.
Lamento muito, no entanto percebo perfeitamente. Não era de todo um paredão às moscas, havia várias pessoas que faziam o mesmo, e se muitas estavam sozinhas ou em casal (deduzo eu que vivam na mesma casa), havia ainda alguns amigos que caminhavam juntos como antigamente - e isso nos dias que correm, senhores, é criminoso...

Resta-me agora obedecer às autoridades e caminhar aqui no bairro.
E já gozo.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Dias de quarentena

Depois de passar os primeiros dois dias (sexta feira 13 e sábado 14) agarrada ao telemóvel a ver a evolução dos acontecimentos, atrás dos miúdos a ver se se vestiam e a tentar que não passassem eles mesmos os dias agarrados aos ecrãs, tive de respirar fundo três vezes e tentar fazer com que a coisa funcione.
2ª feira dia 16 começámos a valer.
Fizemos um plano (realista, adaptável e escrito a lápis de carvão) dos dias e tivemos uma conversa séria sobre como vão ser os próximos dias, semanas, talvez meses até.
Há miúdos a quem não se pode dizer nada, são impressionáveis, pois os meus temos de carregar bem fundo e até dramatizar um bocado, são uns optimistas (e eu agradeço!) e por isso não levam as coisas a sério.
Nos primeiros dias houve notícias vistas por todos, viram imagens de Itália e perceberam sem rodeios o que se está a passar. Agora já interiorizaram e nós só vemos as notícias depois deles se deitarem.
E assim os dias têm passado sem grandes dramas, para eles e para mim.
Estão incluídos nas tarefas cá de casa, e não podem refilar (o castigo é ficarem sem ecrãs): assim lá se organizam e tiram a máquina da loiça, e limpam os wc e as maçanetas da casa toda diariamente. Uma vez por semana fazemos limpeza geral, e vamos alternando as tarefas.
Estudam duas vezes por dia, de manhã e à tarde. Os profs de ambos ou são muito porreiros, ou relaxados, ou info-excluídos, mas eu agradeço. Mandam trabalhos tipo TPC, não pedem que mandemos de volta nem nada. Não houve até agora aulas online, nem reuniões no zoom como tenho ouvido falar - são apenas emails com sugestões e eles vão fazendo autonomamente.
Alguns pais - claro - estão com dificuldades porque estando a trabalhar fica difícil não ter como os entreter, mas penso que esta situação se deve ao facto dos miúdos não estarem a ver os pais como autoridade "escolar". Cá em casa eles também refilam, mas eu apenas lhes mostro o plano que fizemos juntos no primeiro dia, e se for preciso comparo com o horário da escola, em que ficavam tantas mais horas dentro da sala de aula.
Saímos os 4 duas vezes por dia também, vamos a um campo aqui ao pé, ou a uma relva que fica nas traseiras do prédio. Vamos levando diferentes "divertimentos" ora três bolas, ora bicicleta, carrinhos, trotinetas, corda de saltar. Já sabem perfeitamente que não mexem em nada, e até a mais nova já sobe as escadas  sem precisar de dar a mão.
Depois do almoço, durante a sesta da mais nova, é a hora do silêncio. Ninguém fala com ninguém. Cada um estuda para seu lado, e se houver dúvidas fica para depois. Eu aproveito para respirar fundo muitas vezes e arrisco dizer que a eles também lhes sabe bem não terem de se aturar durante um bocado.
Não estando eu a trabalhar, que não estou nem sei quando estarei, a quarentena revela-se mais fácil, e por agora tem sido uma oportunidade de, de facto, estarmos juntos como nunca estamos, e por isso eu não me posso mesmo queixar.
Dito isto, há mil coisas que ficam pendentes, tenho ainda coisas que vieram de casa do meu pai por arrumar, roupa a acumular, porque dedicar-me a eles não deixa de facto tempo para muito mais.
Vejo os milhares de propostas de cenas para fazer que invadem a internet - filmes e séries, livros em PDF, visitas virtuais aos museus, cursos de tudo e mais alguma coisa - e penso, quem é que está a usufruir disto tudo? Estamos todos em casa, mas parece que nunca temos tempo para nada na mesma!

sexta-feira, 20 de março de 2020

Livro 8/53

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No coração desta terra, de J. M. Coetzee

Antes de mais , avisar que foi uma péssima altura para ler este livro.
Acho que é daqueles que depende mesmo da disposição do leitor, não que seja uma leitura difícil, mas fácil também não é.
A história começa de uma determinada maneira, e depois dá a volta e ainda outra volta.
Primeiro achei que eram saltos no tempo, depois achei que era uma mistura entre fantasia e realidade da protagonista. Fiquei sem certezas.
É um livro bem escrito, profundo, poderá ser alegórico também e com múltiplas interpretações, é daqueles que deve ser muito interessante ler num Clube de Leitura - com certeza haverá quem adore e quem odeie.
É também uma escrita dura, crua, e muito sensorial, mas profundamente deprimente.
A protagonista é talvez a protagonista mais deprimida (e por isso deprimente) de toda a história da literatura. Sinceramente, às tantas já não a podia "ouvir"! Tudo nela (segundo a própria) é feio, ressequido, desenxabido e desinteressante. Cansativa (e louca, pronto, fica o spoiler).
Não foi de todo uma boa companhia nestes primeiros dias de quarentena.
(mas eu estou numa fase em que não consigo deixar livros a meio, se lhes pego, pego até ao fim, e se não estou a gostar tento despachar o assunto e acabar de uma vez).

Dei 3 estrelas, e apesar de tudo o que eu disse, recomendo.

Livro 7/53

A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da



A arte subtil de saber dizer que se f*da, de Mark Manson

Ofereci este livro ao pai cá de casa, pois achei que ele estaria a precisar de dominar esta arte. Ele ainda não o leu, entretanto peguei-lhe eu.
Não sendo nada de novo, está bem escrito, e é fácil de ler.
Vou lendo algumas coisas de parentalidade positiva e mindfullness e no fundo é a mesma coisa - a importância de estabelecer prioridades, de valorizar o que é de facto importante, de saber dizer não e ser assertivo quando é preciso, entre outras coisas - mas escrita de forma mais descontraída. À gajo, vá (estava a evitar dizer isto).
A diferença é que os exemplos em vez de serem com situações com as quais eu me identifico - enquanto mulher e mãe - são situações de homem solteiro que passou a vida em relacionamentos pouco sérios e a saltitar entre mulheres sem assumir compromissos.
Portanto, em vez de mindfullness é um bocadinho mindf*da-se.

Dei 3 estrelas e recomendo.

terça-feira, 17 de março de 2020

Dicas para o vosso teletrabalho

Ora então, só uma ou outra coisa de quem, como sabem, passou 6 anos a trabalhar fechada em casa:
  • agora é tudo muito giro, mas se for por muito tempo, deixa de ter piada (desculpem o spoiler)
  • se possível tenham um sítio fixo para o trabalho - idealmente um escritório, se não uma secretária, ou um canto da mesa da sala que seja a zona de trabalho. Não trabalhem no sofá. Zona de trabalho e zona de lazer devem ser diferentes.
  • não sendo preciso fato e gravata, não abandalhem no guarda roupa. Não vale passar o dia de fato de treino. É feio e é deprimente.
  • trabalho é trabalho, casa é casa. Estabeleçam horários específicos para ambos. Não se metam a tirar a máquina da louça a meio do dia, ou a estender a roupa entre dois e-mails - ficam com tudo mal feito, ou feito à metade.
  • boa sorte a não invadir o frigorífico enquanto preparam o próximo projecto. O que vale é que estamos em contenção, por isso à partida não dá para ir comprar porcarias a torto e a direito...
  • é chato, principalmente com crianças a cargo, mas pensem que assim como assim não perdem tempo nos transportes e têm duas coisas que por enquanto não temos cá em casa: um salário ao fim do mês (eu não tenho) e segurança de não andarem a ir para o escritório (como o pai cá de casa que continua a ir...)
Boa sorte a todos!

Sobre o teletrabalho

Sou só eu a achar que a palavra teletrabalho parece vinda dos aos 80?

Trabalhei 6 anos a partir de casa, 6 anos.
Em nenhum momento - nenhum! - me referi a ele como "teletrabalho"!

domingo, 15 de março de 2020

A pandemia e o espelho

Tenho a sensação que esta pandemia de Covid 19 em que nos encontramos, e consequente quarentena (por agora voluntária), nos coloca um espelho à frente da cara (da nossa e do mundo).

Todas as decisões que tomámos até aqui são-nos apresentadas em toda a sua plenitude.
Fechados em casa deparamo-nos, sem subterfúgios, com a pessoa que escolhemos, com os filhos que temos e a educação que lhes demos, com a casa que comprámos, com o divórcio, com o trabalho que nos vai permitir ou não sobreviver nos próximos meses, com a despensa minimalista ou cheia até ao tecto, com o caos ou a ordem do sítio onde vives..
Parece que o universo nos diz: "esta é a tua vida, foi isto que escolheste. Lida com ela!"

Por outro lado, olho para o efeito que este vírus está a ter no mundo, e penso também no peso das nossas escolhas do passado. Quem escolhemos para nos governar, as políticas, as fronteiras abertas ou não, a UE, o que consumimos, como funciona a nossa sociedade.


Vamos ver o que acontece quando abrimos os olhos e nos vemos ao espelho.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Tempos estranhos, estes

Em nenhum momento imaginámos o que nos estava reservado para este ano.
Por aqui todos com saúde no nosso círculo alargado (que saibamos) e já todos isolados, cada um na sua casa.
Cá em casa só o pai ainda tem ordem de soltura, mas espero que seja mesmo por pouco tempo.

Dizem que é nas alturas de crise que os nossos valores vêm ao de cima, ficamos (já estamos) com as emoções à flor da pele e tudo aquilo que somos aparece sem disfarces, à transparência.

A mim parece-me que estamos todos um bocadinho orfãos, sentimos falta de alguém que nos diga o que fazer para ficar tudo bem.
Sinto que estamos todos a embarcar sem saber para onde vamos. Não sabemos mesmo.
Mas para onde formos, vamos juntos.

terça-feira, 10 de março de 2020

2 meses ou 5 anos depois

Cumprimos a promessa feita de depositar as cinzas de ambos no mar, pertinho da bóia de espera (ao largo de Cascais).
Mais um ciclo que se fecha, mais um dia tão difícil como bonito. E que bonito que foi!

51 anos antes, não muito longe dali, estava o namoro deles prestes a começar.
Ficamos agora cá nós como resultado de uma fantástica história de amor.

Até sempre, queridos pais. Obrigada por tudo!

segunda-feira, 9 de março de 2020

E passou mais um 29 de Fevereiro

E de 4 em 4 vamos avançando na vida e no blog.
Há 4 anos escrevi este post, e há 8 escrevi este, e há 12 (credo!) escrevi este.

Da Mary de 2008 na Holanda passamos à Mary de 2012 com dois filhos e a trabalhar a partir de casa, e depois à Mary de 2016 já a trabalhar naquilo que gosta, mas triste por ter perdido a mãe.

A Mary de 2016 tinha razão, a Mary de 2020 não tem (quase) nada do que se queixar.
Em 4 anos consolidei o trabalho, tive muitas experiências boas e adicionei alguns sítios novos aos que já tinha. Tive mais uma filha, mas acabei de perder também o meu pai.

Vamos ver que mudanças esperam a Mary de 2024!
(quase arrisco numa só certeza: este blog continuará a existir!)


Efeitos colaterais da epidemia do momento

Esta que vos escreve está praticamente sem trabalho.
As escolas cancelaram as visitas aos museus e monumentos, os turistas estão a deixar-se ficar nos seus países.
E nós, trabalhadores a recibo verde, vamos ter de ter imaginação para conseguir algum rendimento.

Aguardo ainda com alguma serenidade que a epidemia passe rápido, mas sei que em breve terei de arregaçar as mangas e meter mãos ao trabalho noutra coisa qualquer.

Livro 6/53

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O Ladrão de Arte, de Noah Charney

Trouxe este livro da biblioteca, por impulso, por estar em destaque.
Pouco depois de o ter começado estivemos a desfazer as (muitas) estantes de livros do meu pai, e claro que este andava por lá. Devolvi o da biblioteca e continuei a leitura no exemplar do meu pai (e aqui fica a nota do primeiro livro que li "emprestado" por ele sem saber qual a sua opinião...).
O meu pai sempre achou um disparate irmos à biblioteca requisitar livros quando ele tinha tantos à nossa disposição, e cá está a prova...

Três quadros são roubados em três cidades diferentes.
Temos policial e temos algumas lições de História da Arte, e por isso tinha tudo para correr bem, mas não cumpriu.
Muitas e demasiadas personagens (às tantas já me baralhei com quem é quem), passagens irrelevantes, e um final que se prevê (tirando alguns pormenores, vá) mas que não satisfaz minimamente o leitor.
Salvam-se algumas lições de História da Arte que o especialista na matéria dá aos seus alunos, e nós somos convidados a ouvir.
Dei 3 estrelas e não recomendo, a menos que gostem muito de História da Arte.