Depois de passar os primeiros dois dias (sexta feira 13 e sábado 14) agarrada ao telemóvel a ver a evolução dos acontecimentos, atrás dos miúdos a ver se se vestiam e a tentar que não passassem eles mesmos os dias agarrados aos ecrãs, tive de respirar fundo três vezes e tentar fazer com que a coisa funcione.
2ª feira dia 16 começámos a valer.
Fizemos um plano (realista, adaptável e escrito a lápis de carvão) dos dias e tivemos uma conversa séria sobre como vão ser os próximos dias, semanas, talvez meses até.
Há miúdos a quem não se pode dizer nada, são impressionáveis, pois os meus temos de carregar bem fundo e até dramatizar um bocado, são uns optimistas (e eu agradeço!) e por isso não levam as coisas a sério.
Nos primeiros dias houve notícias vistas por todos, viram imagens de Itália e perceberam sem rodeios o que se está a passar. Agora já interiorizaram e nós só vemos as notícias depois deles se deitarem.
E assim os dias têm passado sem grandes dramas, para eles e para mim.
Estão incluídos nas tarefas cá de casa, e não podem refilar (o castigo é ficarem sem ecrãs): assim lá se organizam e tiram a máquina da loiça, e limpam os wc e as maçanetas da casa toda diariamente. Uma vez por semana fazemos limpeza geral, e vamos alternando as tarefas.
Estudam duas vezes por dia, de manhã e à tarde. Os profs de ambos ou são muito porreiros, ou relaxados, ou info-excluídos, mas eu agradeço. Mandam trabalhos tipo TPC, não pedem que mandemos de volta nem nada. Não houve até agora aulas online, nem reuniões no zoom como tenho ouvido falar - são apenas emails com sugestões e eles vão fazendo autonomamente.
Alguns pais - claro - estão com dificuldades porque estando a trabalhar fica difícil não ter como os entreter, mas penso que esta situação se deve ao facto dos miúdos não estarem a ver os pais como autoridade "escolar". Cá em casa eles também refilam, mas eu apenas lhes mostro o plano que fizemos juntos no primeiro dia, e se for preciso comparo com o horário da escola, em que ficavam tantas mais horas dentro da sala de aula.
Saímos os 4 duas vezes por dia também, vamos a um campo aqui ao pé, ou a uma relva que fica nas traseiras do prédio. Vamos levando diferentes "divertimentos" ora três bolas, ora bicicleta, carrinhos, trotinetas, corda de saltar. Já sabem perfeitamente que não mexem em nada, e até a mais nova já sobe as escadas sem precisar de dar a mão.
Depois do almoço, durante a sesta da mais nova, é a hora do silêncio. Ninguém fala com ninguém. Cada um estuda para seu lado, e se houver dúvidas fica para depois. Eu aproveito para respirar fundo muitas vezes e arrisco dizer que a eles também lhes sabe bem não terem de se aturar durante um bocado.
Não estando eu a trabalhar, que não estou nem sei quando estarei, a quarentena revela-se mais fácil, e por agora tem sido uma oportunidade de, de facto, estarmos juntos como nunca estamos, e por isso eu não me posso mesmo queixar.
Dito isto, há mil coisas que ficam pendentes, tenho ainda coisas que vieram de casa do meu pai por arrumar, roupa a acumular, porque dedicar-me a eles não deixa de facto tempo para muito mais.
Vejo os milhares de propostas de cenas para fazer que invadem a internet - filmes e séries, livros em PDF, visitas virtuais aos museus, cursos de tudo e mais alguma coisa - e penso, quem é que está a usufruir disto tudo? Estamos todos em casa, mas parece que nunca temos tempo para nada na mesma!
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