Foi mesmo.
Provavelmente, o ano que mais me transformou até agora. Olho para as fotos de há 1 ano atrás e quase nem me reconheço.
Fiz coisas que nunca pensei fazer, vi coisas que nunca pensei ver, senti aquilo que nunca quis sentir.
Há 1 ano atrás, mais concretamente no dia 6 de Janeiro, tivemos a confirmação de que o cancro da minha mãe era mais sério do que parecia, e que ela teria de fazer quimioterapia intravenosa (já estava a fazer oralmente).
E a partir de aqui, o nosso mundo mudou.
A estirpe que a atacou é super rara, aparece apenas a uma pequena percentagem de doentes oncológicos, e por isso está menos estudada, e os tratamentos são menos eficazes. E é mau, muito, muito, muito mau mesmo. E não se deixem enganar, o cancro é uma doença do caraças... aliás eu nem sei porque falamos em cancro e não em cancros, porque cada caso é um caso e as especificidades são tantas que basicamente, tudo pode acontecer.
E foi assim que passámos do "vai correr tudo bem, vai correr tudo bem!" para o "isto não está nada a correr bem!" para o "vai correr tudo mal" para o "vai correr como tiver de correr", que é o que sinto agora. Só quero o que seja melhor para ela, só não quero é vê-la sofrer.
E já chorei muito (tanto) a fazer 1001 filmes do que pode acontecer daqui a X tempo, entretanto já me deixei disso e já não faço planos. Passámos o Natal todos juntos, quantas famílias já não podem dizer o mesmo... Cada dia é um dia, e o único dia que interessa é o de hoje. Amanhã já é demasiado longe.
Gostava muito de poder dizer que esta foi a única coisa negativa do ano, e já teria sido mais que suficiente, mas infelizmente não...
No entanto, cada coisa trouxe uma lição, e quando o caso não é de saúde, à partida tudo tem solução, ou pelo menos eu gosto de acreditar que sim.
Este ano, e passando agora para o lado positivo, foi também marcado pela minha mudança profissional. Toda esta transformação interior que fui sentindo fez-me ter cada vez mais a certeza de que estar a fazer uma coisa que não gosto só pelo dinheiro acaba por não compensar. Mais vale viver com menos e mais feliz. E a verdade é que eu passei anos e anos à procura, bati em inúmeras portas e em todas o mesmo discurso de que já não trabalhava na área há demasiado tempo, de que não há dinheiro, que isto e aquilo. De repente, quase a ferros, mas lá consegui entrevista com uma empresa para quem o facto de ter estado 8 anos atrás de uma secretária não tem importância nenhuma, onde me senti muito bem vinda e apoiada por todos. E nem o facto de ter de vestir uma farda me importa minimamente! Uso a farda e a etiqueta com o meu nome com o maior orgulho! A empresa não é perfeita, que não é, mas bolas, abriu-me a porta quando toda a gente me virou as costas, e isso para mim vale ouro. Antes disso fiz voluntariado num museu onde conheci gente muito interessante, e colaborei com uma empresa giríssima, num projecto de investigação que me deu imenso gozo fazer e que foi uma lufada de ar fresco para mim. Depois disso, e porque parece que as boas energias puxam mais boas energias, surgiu a oportunidade de dar uma AEC numa escola aqui perto, num projecto super interessante, com uma equipa fantástica e alunos que me dão cabo do juízo, mas pronto, esse é o seu papel...
Cá em casa mudaram algumas rotinas, as manhãs ficaram mais calmas e os fins de dia mais curtos, mas tudo se leva bem.
O mais velho entrou para a escola pública e adaptou-se bem, a mais nova está muito bem integrada na sua nova sala também.
Fizemos umas férias a 4 deliciosamente simples, que queremos repetir em 2015.
Fomos a Amsterdam os 2 em Fevereiro, e tão cedo não voltamos com certeza, mas aproveitámos ao máximo.
Num plano mais pessoal, este ano marca também o início da minha vida sem açucar. Muita gente não acreditou que eu fosse capaz, e muita gente continua a achar que não é capaz, mas é. Da mesma forma que há fumadores que ao fim de 40 anos conseguem deixar de fumar, também qualquer um consegue deixar de ingerir açucar. E não, não custa muito, pelo menos não durante muito tempo. Mas cautela, que o açúcar mal nos apanha desprevenido ataca de novo...
Fiz ouras alterações na minha alimentação, deixei os processados e os não integrais para as ocasiões especiais, fiz dos frutos secos e das sementes poderosos aliados contra a fome.
Foi também em 2014 que descobri que tenho alergia às gramínias e à relva, e ando medicada para ter uma qualidade de vida como deve ser. Tirem-me o meu anti-alérgico e eu fico fora de mim...
Foi este ano que descobri a corrida, que espero me acompanhe por muitos anos.
Em Maio vivi um dia muito emocional, com lágrimas de alegria e de tristeza ao mesmo tempo, no culminar de uma semana muito complicada, mas um dia de festa e felicidade que me encheu as medidas.
2015 vai-me trazer coisas boas, eu sei que sim, mas também sei que me vai trazer coisas más, o que faz com que não esteja com vontadinha nenhuma de o conhecer.
2014 foi intenso, muito intenso, foi mau, foi péssimo, foi óptimo, foi espetacular, e foi acima de tudo muito surpreendente. Foi um ano que me marcou profundamente.
Vamos ver o que nos traz 2015...
5 comentários:
É aquele abraço! Aquele do caraças.
Muita força, e que 2015 seja melhor...
Mary, um abraço forte, do tamanho do mundo.
Caraças se eu não tinha razão quando há uns (18?!) anos deixei uma certa mensagem de voz, quando em estado de profunda sobriedade.
Oh Naish, até fiquei de lágrimas nos olhos...
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