sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Pedido de desculpas à Mary de 1988

 (apesar de em 1988 ninguém ainda me chamar assim, mas pronto)


Este ano mais uma vez traí a Mary da infância, e talvez um pouco mais este ano, pois foi de livre vontade.

Ao contrário do que prometi a mim mesma ao longo da infância, este ano voltei a comprar livros de exercícios para os miúdos fazerem nas férias.

Sou uma seca, eu sei. E uma traidora, também sei.

Mas há traumas que se vão perpetuar, e este é, claramente, um deles.

Já tinha comprado (e obrigado a fazer) em outros anos, mas sempre aconselhada pelos professores - mas este ano, no meio de toda esta confusão, achei mesmo melhor por os miúdos a fazer qualquer coisa de produtivo nas férias, para não descarrilarem de vez...

O mês de Julho passou sem que lhe tocassem - estiveram em casa dos tios, e depois estiveram cá os primos, e estavam na ressaca da escola (eles e eu).

Agora em Agosto, depois da semana na ilha, impus aqui o ritmo de fazerem três fichas cada um logo de manhã (evitando assim os malfadados ecrans, que pouco a pouco se tornaram um vício tão grande!).

Detestam. Refilam. Fazem todo um drama. Fazem tudo à pressa, e mal, e eu obrigo a voltar a fazer (pelo menos oralmente).

Comprovam a minha teoria de que andam à nora, e de que se esqueceram de tudo o que foi ensinado no 3º período.

Sei bem a tortura que era fazer TPC nas férias, juro que ainda não me esqueci. E também sei que a minha mãe ignorava se eu fazia ou não, e sei que passava o início das aulas sem intervalos a fazer a porcaria das fichas. Mas também sei que os meus verões eram passados a brincar na rua e a ler, e não agarrada a vídeos do youtube a ao fortnite. Quando muito via o Agora Escolha, mas o resto era praia, brincar no jardim, ler, fazer desenhos, escrever histórias imaginárias.

Mais do que aprender ou praticar, é mesmo só para lhes por o pé na terra, e lembrar que 30 ou 40 minutos por dia não são nada, e podem fazer a diferença, nem que seja para treinarem a mão a escrever.

As minhas sinceras desculpas a ti, Mary de 1988, sei que estás profundamente desiludida.

Afinal és uma mãe chata.

1 comentário:

Cartuxa disse...

Welcome to the real world, Mary. Mãe que se preze tem de ser chata. Uma mãe cool gera párias. Just saying.