segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Sobre a morte

 Parece que à medida que vamos crescendo (porque é disso que se trata até ao fim) vamos cada vez mais vendo pessoas da nossa idade a partir.

E na mesma semana em que partiu uma apresentadora de televisão e uma influenciadora digital, partiu também (e pelo mesmo motivo) a mulher de um primo meu.
46 anos, dois filhos muito pequeninos (1 ano acabado de fazer, e 3 anos ainda não feitos), e 7 meses de luta.

Sei que não vale a pena tentar que as coisas façam sentido, porque não fazem.
Pudéssemos ser nós a escolher e as coisas seriam tão diferentes...

Fui de férias no sábado passado, para a ilha-maravilha onde gostamos sempre de regressar, sabendo de antemão que a qualquer momento teria de voltar pois no estado avançado da doença em que se encontrava já não havia mesmo nada a fazer.
Aproveitei cada dia, cada mergulho, cada braçada, cada conquilha e caminhada, bola de berlim e copo de vinho como se fosse o último - sem saber bem se no dia seguinte teria de vir a Lisboa. 
E foram as melhores férias de sempre - talvez por isso mesmo, porque eu estava disposta a vivê-las em plenitude, no seu todo, agradecendo a oportunidade de estar viva e de ter saúde para as desfrutar.

A Sofia partiu na 4ª feira, e o funeral foi na 6ª, pelo acabámos por vir embora só 1 dia antes do previsto.
Sei que ela daria tudo para poder viver, para estar com os "seus bebés" (por quem tanto perguntava quando estava no hospital) e sinto uma verdadeira obrigação de o fazer por ela.
As minhas férias não foram as melhores de sempre por nada que estivesse exterior a mim - foram porque eu me predispus a apreciar cada momento como se fosse o último - e que bom que foi!

Esta é a única forma de honrar a vida da Sofia, e de todos os que partem cedo demais - não dar nada por garantido e tirar o maior partido de tudo o que nos rodeia, sejam umas férias maravilhosas, um calhamaço por ler, tarefas domésticas, uma ida ao mecânico ou aquele excel aborrecido que temos de verificar - o que não daria ela por ter mais um dia que fosse com toda a sua banalidade?

Estar vivo é um enorme privilégio e pura sorte!
Sejamos gratos todos os dias - é o mínimo que podemos fazer para homenagear quem partiu.

2 comentários:

Tella disse...

Que post maravilhoso, Mary.

Cartuxa disse...

É mesmo isso!