Ao fim de 2 dias a tentar marcar encontro com o Tony (liga, combina, ele liga a marcar para mais tarde e depois liga a desmarcar e assim sucessivamente) lá nos encontrámos com ele. Apareceu na sua carrinha, ainda hesitámos em entrar mas basicamente não tínhamos opção, e levou-nos ao Sul de Rotterdam. A ideia inicial seria alugar um quarto. Levou-nos a ver um quarto que tinha livre num apartamento provavelmente habitado por animais selvagens... estava um calor de morrer, havia móveis virados ao contrário, comida e roupa espalhadas pelo chão, e o rapaz que lá vivia tinha desaparecido (sem pagar o que devia ao Tony, obviamente). Temos Tony furioso, e este quarto não era definitivamente para nós.
Fomos ver um apartamento que não estava em muito melhores condições (ao T. ocorreu de verdade que ia haver um sem-abrigo aninhado no sofá quando entrámos). Aquilo que ele nos explicou foi que, mais uma vez o casal que lá vivia não lhe pagava a renda há meses e ele decidiu correr com eles. Basicamente a casa estava como eles a tinham deixado. Com roupa espalhada, uma chávena de café em cima da mesa (a mesma mesa de onde escrevo agora mesmo), e uma infinidade de objectos pessoais. Apesar do estado, a casa em si não estava nada mal. Depois de regatear o preço da renda fomos para casa (ou seja para o Suriname) pensar e tomar uma decisão. A verdade é que não havia muito por onde escolher e a decisão foi fácil de tomar.
No dia seguinte confirmámos ao Tony que ficávamos com a casa.
E as coisas? Que fazer com as coisas? Podem deitar fora tudo o que não quiserem, foi a resposta.
E assim foi. Munidos de luvas, máscaras e toda uma panóplia de produtos de limpeza e desinfecção lá fomos tornar a nossa casa habitável.
Havia uma infinidade de objectos parvos e anormais. Havia cotonetes (limpas, valha-nos isso) espalhadas por toda a casa. Havia uma fruteira cheia de moedas de 1 cêntimo. Havia uma mala com roupa. Havia uma caixa dos Correos espanhóis cheia de cartões magnéticos em branco (altamente suspeito...).
Subimos e descemos a escada íngreme vezes sem conta para deitar fora tudo e mais alguma coisa. Ao fim de 1 dia tínhamos a casa pronta a habitar. Dissemos adeus ao Suriname e mudamo-nos para a nossa 1ª casa.
Uma semana e uns dias depois da chegada tínhamos encontrado casa.
E foi uma casa que nos marcou, e de que maneira.
Há momentos que não vamos esquecer:
- quando o ex-inquilino veio perguntar pelas coisas dele, especialmente pela sua cama
- quando veio um senhor inspector do gás e eu e o G. fomos super simpáticos com ele, demos-lhe água e fomos buscar um banco para ele subir e tudo, para depois percebermos que ele nos ia fechar o gás por engano
- quando apareceu o Nino
- quando vieram inspectores analisar o esquentador e tirar fotografias a tudo e pedir os nossos passaportes num sábado de manhã em que tínhamos a minha irmã, cunhado e sobrinhos de visita (que tiveram de apresentar os bilhetes de avião e tudo)
- quando o T, descobriu uma surpresa na gaveta do forno
- quando tivemos 6 ou 7 amigos a dormir um pouco por toda a parte
- quando a casa ficou à venda
- quando uns meses depois de nos mudarmos fomos mostrar a casa aos meus pais e quando o T. mete a chave na porta de baixo dá de caras com um rotteweiller e só tem tempo mesmo de a voltar a fechar rapidamente
Ficava depois do Maastunnel (um túnel debaixo do rio), e quem o atravessou não o esquece.
Ficava ao pé do supermercado Netto, de um bar que estava sempre às moscas, de uma loja de noivas, de uma loja de electrodomésticos onde comprámos a nossa varinha mágica, de uma sex-shop.
Uma casa com muitas histórias para contar...
3 comentários:
Uma casa cheia de histórias. Lembro-me bem daquelas escadas. E da multidão que conseguiu dormir naquela casa. E das pilhas de sandes que se faziam naquela bancada para levarmos da mochila e comer durante o dia.E a quantidade de sapatos e casacos na entrada. Foi bem divertida essa estadia!
E resististe à tentação de comprar algo na loja de noivas? e na sex shop...? LOL! Uh, Uh...!!! Queremos lá saber da tua varinha mágica!!!
Também gostei da casa... Lembro-me bem do dia da chegada... avião, comboio, metro, eléctrico e ainda outro eléctrico e a sensação era que íamos cada vez descendo mais na cadeia habitacional. Por isso quando chegámos foi como se tivéssemos entrado num oásis português. Os inspectores na manhã seguinte, a inspeccionar a parede do quarto com humidade e o P. lá dentro enfiado na cama, como se nada fosse! E a porta tinha uma maçaneta como as portas de dentro de casa (dava para abrir do lado de fora)! E chegar a casa uma tarde e ver o letreiro "Vende-se"... Magnífico!
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