Em Portugal damos muita importância ao sotaque.
Desde pequenos quando começamos a aprender inglês somos obrigados a tentar pronunciar as palavras de modo correcto, com todos os TH e os R enrolados como deve ser.
Inconscientemente acabamos por achar que uma pessoa fala mal inglês quando não pronuncia bem as palavras, mesmo que a construção das frases seja a correcta. Do mesmo modo, alguém com uma excelente pronuncia é considerado o Ás do idioma.
A minha estadia por estas bandas veio não só dar-me consciência deste facto, mas também me permitiu mudar um pouco a minha maneira de pensar.
Falar com sotaque não tem mal nenhum.
Qualquer um de nós que aprende a falar uma língua estrangeira em adulto vai sempre falar com sotaque. E ainda bem, digo eu.
Num dos meus primeiros dias de trabalho atendi um português que, sabendo estar a ligar para a Holanda, me falou em inglês. Respondo na mesma língua, e ele pergunta "é portuguesa? Vê-se logo, com esse sotaque!" Na altura aquilo foi dito com maldade, e eu fiquei chateada, ora bolas, dizerem que tenho sotaque assim de caras é mau!
Mas não é.
Não há nada mais engraçado do que num grupo de amigos cada um emprestar o seu sotaque ao inglês, cada um a trazer a sua musicalidade.
Dizia uma colega espanhola que sempre que fala se ouvem castanholas por trás, seja em que língua for.
E isto, para mim, é motivo de orgulho.
É-nos sempre estranho ouvir os nossos compatriotas a falar inglês, parece que falam sempre "mal". Quem nunca sentiu uma ponta de vergonha de ouvir os nossos primeiros-ministros a falar inglês que atire a primeira pedra.
Parece que falar as outras línguas à nossa maneira é motivo de vergonha. Vergonha seria não falar por não o estar a fazer bem.
Em Portugal damos imensa importância à pronuncia e se calhar de menos aos tempos verbais, ao vocabulário, à construção das frases.
No entanto verdade seja dita que falamos inglês bastante melhor que em Espanha, França ou Itália, e muito se deve ao facto de ouvirmos música em inglês e não dobrarmos os filmes.
Eu cá por mim, hei-de continuar a fechar as palavras, a acrescentar "ches" em tudo, e a pronunciar o L como só nós (e os catalães) sabemos fazer. E acho mais importante concentrar-me em aprender a falar correctamente do que a falar com a sonoridade igual aos súbditos de Sua Majestade!
No entanto creio que nunca me há-de acontecer como à minha amiga francesa, que uma vez num café pediu:
"One capuccino, please"
...ao que o empregado respondeu de imediato:
"Hey, you're french!".
2 comentários:
Acho engraçado que dê para descobrir a nacionalidade da pessoa quando fala uma língua que não é a sua... mas falar com sotaque é muito foleiro e o exemplo mais flagrante que me lembro é o dos brasileiros a falar inglês... dá vontade de chorar! E não me venham dizer que se ouve o samba como pano de fundo porque eu não percebo é nada!
Revejo-me no que escreveste. Tendo estudado até ao 9º ano em França, o meu Inglês é afrancesado. Falo (mal) inglês como se falasse francês. Quando cá cheguei, apercebi-me que falam bem Inglês. Fiz então um esforço para tentar perder o sotaque mas acho que não consegui.
Quanto ao sotaque francês no meu Português, acho que já o perdi, mas de vez em quando, ainda me perguntam se sou açoriana... Ah pois é!
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