quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Constatação

Este post surgiu de um comentário que ia fazer num blog de que gosto muito, mas sob risco de se tornar o maior comentário de sempre, encaminhei a autora do blog para aqui, e assim partilho com todos.
Não faço ideia se alguma vez cheguei a escrever sobre isto aqui, mas também não vou agora procurar.

Quando estava na Holanda cheguei à conclusão que a ideia que fazemos de nós mesmos, que fomos construindo ao longo da vida, com base na nossa experiencia, na opinião dos outros, e também nas características das pessoas que nos rodeiam; acompanha-nos ao longo da vida, mesmo que deixe de fazer sentido.
Passo a explicar.

Toda a minha vida, nunca me considerei uma pessoa baixa. Digo mais, eu não sou uma pessoa baixa. Nunca fui a mais alta, é certo, mas sempre estive no grupo das pessoas mais altas. E esta é a ideia que tenho de mim.
Um dia, ainda na Holanda, resolvemos começar a medir as pessoas do escritório - que são de muitas nacionalidades diferentes, maioritariamente europeias - porque queríamos tirar a teima de quem é o mais alto (porque havia mais do que uma pessoa a rondar os 2 metros de altura - não estou a exagerar - e daí partimos para medir todos e mais alguns).
Qual não é o meu espanto quando, num grupo de 20 e tal pessoas, eu sou a 3a mais baixa! Abaixo de mim ficaram apenas uma italiana e uma espanhola, que seriam baixas em qualquer parte do mundo, não apenas na Holanda! Foi estranhíssimo. Pessoas que eu considerava da mesma altura que eu (não estou a falar dos de 2 metros, obviamente), quando medidos correctamente ficavam com um risco na parede um ou dois palmos acima do meu!
E foi nesse momento que cheguei à conclusão que, como cresci rodeada de gente da mesma altura ou mais baixa, como na escola, em casa, na rua, na vida, sempre me passaram uma ideia, quando eu me vi envolvida num meio em que, claramente, essa ideia estava errada - sim, naquele contexto, eu era baixa - nem me cheguei a aperceber! Durante meses o papel das mediçoes esteve colado na parede, mas nem isso contribuiu para eu mudar a minha ideia de mim: eu não sou baixa não senhor, voces é que são muito altos!
Do mesmo modo, cá em Portugal e ao longo de toda a minha vida, eu sou sempre considerada a loura e branca. Tirando as minhas irmãs (e sobrinhos) que partilham o mesmo tom de cabelo e pele que eu (mais coisa, menos coisa), em todos os contextos, eu sou sempre a loura. "A Mary? Qual Mary, a loura?", sou sempre alvo de chacota na praia, porque qualquer um em alguns minutos na praia de Carcavelos poe o meu bronze de 15 dias nas Maldivas no chinelo.
Claro que, quando fui para a Holanda - onde aí sim, as pessoas são mesmo brancas e louras - a minha ideia de mim não mudou. No meio de quase albinos, eu continuei a sentir-me a branca e loura do grupo. Até que um dia, ao ouvir uma colega comentar "sim, não sei quem tem o cabelo da cor do teu, assim castanho claro" (castanho claro, eu? mas eu sou louríssima, please!), cheguei à mesma conclusão... anos e anos de brancura não se compadecem com o facto de depender do contexto.

As ideias que trazia de mim, comigo ficou.
Corresponderá à verdade??

E penso em todos os meninos que me acompanharam na escola, que foram rotulados não só de altos ou baixos, mas de mal-criados, mandrioes, patinhos-feios, gordos, caixas-de-óculos, e penso, será que até hoje tem essa ideia de si mesmos?

2 comentários:

Anónimo disse...

Os rótulos são terriveis. Acompanham-nos toda a vida
Quem passou a vida a ouvir dizer que era pouci inteligente, mas muito trabalhadora, em oposição ao irmão precisava de estudar, ainda hoje acredita que isso é verdade! Ainda que tenha entrado na universidade com 17 anos e acabado a licenciatura no mais curto de espaço de tempo possível e o irmão nunca a tenha acabado! Ela é a burra trabalhadora! Ele é o génio da familia!
Acho que tenho de ir ao psicologo!

Naish disse...

A ausência de comentários é sintomática... oh baixinha! :)