segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Da precariedade

Completo hoje o meu 23º dia de trabalho sem folgas.
Não vou sempre para o mesmo sítio, e nestes dias consegui ter uma ou outra tarde livre, mas não tive um dia inteiro sem trabalhar desde que vim de férias.

Mais uma vez digo e repito, isto não é uma queixa porque eu adoro mesmo o que faço (mas não adoro tudo o que faço em todos os sítios!), e porque prefiro mil vezes estar assim do que estar sem trabalhar como estive há dois anos, mas dito isto... custa, e afeta todas as outras áreas da minha vida.

Por vezes acho que estou no limiar da loucura - passo na biblioteca na sexta a deixar os livros, e deixo na caixa de correio porque penso que é segunda feira - quem é que no seu perfeito juízo confunde a segunda com a sexta?
Muitos de nós, afinal. Quem trabalha em turismo, quem trabalha em restauração, quem tem uma empresa própria, os médicos, tudo gente que trabalha mais do que deve, sacrifica noites e fins de semana, e o que mais houver.

Na semana passada tive um dia em que achei que tinha chegado ao meu limite. Estava para lá de exausta, sem energia, a fazer tudo com esforço - achei mesmo que estava perto de ter um esgotamento.
Afinal só me tinha esquecido de tomar o café de manhã - no dia seguinte estava fina, pronta para enfrentar os próximos desafios (ufa!) - mas não deixou de ser um "abridor de olhos" para o que ando a fazer...

Pela primeira vez em muito tempo, fiquei alguns dias sem ler nenhum livro - porque como me atrasei na entrega não pude requisitar logo mais livros (e como achei que era 2ª feira, à 2ª não se requisitam livros), porque não encontrei nada de jeito nas estantes cá de casa (comecei dois e não lhes dei andamento), porque ando tão assoberbada de coisas para ler que achei melhor aproveitar todos os bocadinhos para ler aquilo que me faz falta no trabalho - foi um erro. Ler acaba por ser uma forma de pausa durante o dia, muito mais eficaz do que um scroll pelas redes sociais (que era o que eu fazia porque não me apetecia ler sobre trabalho no comboio, enfim!). 

Hoje é o meu 23º dia, e ainda faltam 5 para poder ter um dia todo de descanso (e vai mesmo ser só um). E eu adoro muito o que faço, mas não a forma como o sistema funciona de modo a que uma atividade que afinal se estende ao longo do ano (sem de facto parar em altura nenhuma da semana ou do mês) seja tida como sazonal, e por isso estamos condenados à precariedade.
Irá isto mudar algum dia?

2 comentários:

Tella disse...

Tempos estranhos estes porque sabemos que a vida não é só trabalho, trabalho, trabalho, mas sem ele, não há uma vida digna ou mínima ou sei lá eu. Anda-se à deriva.

Dito isso, coragem, Mary.

Cartuxa disse...

Coragem, miúda! Procura melhor que essa herança livresca dos pais tem muito por onde se lhe pegue, continua a buscar esses momentos de pausa que bem mereces e pamordeus, nunca falhes um café! Muito orgulho em ti.