sábado, 5 de abril de 2008

Os últimos dias

Os últimos dias foram, de um modo geral e como seria de esperar, de alguma tensão.

Na sexta feira às 15h a casa tinha de estar totalmente vazia, pelo que na 5a antes foram lá os meus colegas depois do trabalho buscar cada um a sua coisa. Foi muito cómico, e quando demos por nós depois de eles saírem estávamos com a casa vazia. Parecia que tinha havido um assalto. Foi óptimo e deu um jeitão.
Dos meus móveis a única coisa que me estava a custar deitar fora era mesmo a minha cómoda, que tanto contribuiu para o meu conforto há um ano atrás. Gostei de saber que ficou bem entregue, e provavelmente irei visitá-la de vez em quando.
Na sexta houve limpeza de manhã e depois vieram as donas da casa buscar a chave e ver se estava tudo bem. Estava.
Pudemos ficar na casa até domingo mas apenas com o essencial (colchão no chão e malas prontas), pelo que foi um bocado estranho estar ali "em casa" mas acampados no quarto, sem sítio para sentar nem nada. Aquela no fundo, já não era a nossa casa.
Estava a custar imenso pensar que íamos ainda passar dois dias ali. Sabíamos que já não tínhamos muito a fazer, e que o que nos esperava era um rol de encontros e despedidas.
Já nos tinha acontecido o mesmo antes de virmos para cá (deve ser uma coisa normal), que é passar os últimos dias a almoçar com um, tomar café com outro, jantar com outro com o intuito de despedir. É horrível. Todos sabemos o que vai acontecer no fim do encontro e todos passamos o tempo a evitar e a tentar ter conversas normais para evitar o assunto. Eu pessoalmente acho que nestes últimos dois anos desenvolvi uma certa resistência às despedidas e acabo sempre por não demonstrar o que sinto para não tornar os momentos ainda mais difíceis. Mas é só fachada, porque é difícil à mesma.
No sábado ainda esteve algum sol, mas no domingo estava o dia mais deprimente que era possível. Todo o dia cinzento e com chuva miudinha. Só apetecia mesmo estar em casa a ver filmes.
O dia acabou com um jantar num restaurante tailandês no Jordaan (antes disso apanhámos uma molha até aos ossos para lá chegar, o que é sempre agradável).
O caminho para casa foi o "bater no fundo". Toda a tensão acumulada nos últimos dias foi saindo em forma de lágrimas enquanto eu pedalava pelas ruas, pontes e canais de Amsterdam. As lágrimas confundiram-se com a chuva.
Chegámos a casa e eu estava muito muito muito triste por a nossa aventura chegar ao fim.

Foram dois anos em que crescemos imenso.
Fomos para lá completamente à maluca e do nada conseguimos vencer. Não tivemos ajuda nenhuma, não tínhamos ninguém a não ser um ao outro, e aos poucos conseguimos sempre fazer o que queríamos.
Não tínhamos a noção de nada quando saímos daqui, mas demos as cabeçadas que foi preciso para pôr os pés no chão e no fim correu tudo bem.
Fizemos bem em ter ido, e eu voltava a fazer tudo de novo.
E conseguimos ser nós a mandar na vida e não a vida a mandar em nós!
Fico mesmo orgulhosa por termos sido "os que vão" e não os que se ficam a lamentar a vida inteira por não terem ido.

Foi muita giro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa de achares que mandaste na vida... não tenho tanta certeza! Quem disse que a vida é o verbo ir? Não poderá ser antes: fica e desenrasca-te? O que importa é saber viver e aprender com tudo o que se passa à nossa volta. Quando andamos com uns projectos para a frente, outros há que ficam para trás... Eu, empurrei um carrinho de mão diferente do teu. Não me arrependi!

Mary disse...

Eu acho que mandar na vida é ter coragem para fazer aquilo que de facto queremos fazer, apesar das consequencias, e apesar de não ser essa a solução mais fácil... pode ser ir para a Holanda, ir viver no Alentejo, ter um filho antes de resolver a vida profissional...