domingo, 3 de fevereiro de 2013

Impossível



Acho que já aqui referi que desde que fui mãe me tornei uma mariquinhas a ver filmes e séries.
Não que alguma vez tenha sido grande adepta de violência, mas se houvesse uma história bem contada, se fizesse sentido, sempre tive estômago para ver seja o que for - sangue, mortes, tiros, cenas de cortar a respiração.
Desde que fui mãe, tudo mudou.
Muito pouco tempo depois do meu filho mais velho nascer, vi um documentário com o Tê sobre o tsunami de 2004.
Foram vários testemunhos de sobreviventes, com histórias horripilantes sobre o tsunami em si e os dias que se seguiram, a procura pelos familiares, a identificação dos corpos, etc.
Houve uma história que nos fez parar de respirar, e marcou-me de tal maneira que me lembro daquele casal muitas vezes, e apesar de nunca mais ter visto o documentário, recordo com exactidão alguns pormenores da história, as palavras proferidas por eles.
Era um casal com uma filha de 5 anos, que resolveram fazer a viagem para mostrar à filha o sítio da lua-de-mel. Estavam no hotel quando veio a onda gigante a mãe estava com a filha, e diz que se agarrou a ela com todas as suas forças para escapar à água, mas que no meio na confusão não se lembra do exacto momento em que a filha de desprendeu dos seus braços (e ela agradece a Deus por isso, por ter apagado esse momento da sua memória).
Eu neste momento já estava banhada em lágrimas, agarrada ao meu bebé pequenino, sem conseguir nem imaginar o que isso deve ser. Lembro-me de olhar para o Tê e dele estar extasiado também...
Seguiram-se alguns pormenores das tentativas de encontrar a filha, e depois a confirmação da sua morte, com o pai a ter de ir reconhecer o corpo - e a mãe diz que bastou olhar para ele quando saiu da morgue para saber que era mesmo verdade.
E lembro-me perfeitamente das palavras dela "e depois... depois começou o resto da nossa vida."
Horrível.
Lembro-me muitas vezes desta família, de como se sobrevive a isto, como é que uma pessoa se levanta de manhã depois de uma coisa destas, do horror que deve ser saber que estavam ali porque quiseram ir de férias (e se tivessem optado por outro sítio? e se tivéssemos ido noutra altura?), da sensação de impotência de saber que não conseguimos proteger os nossos filhos de tudo.

Enfim, a verdade é que é um assunto que me toca de tal maneira, que não me parece nada provável que eu consiga ver o filme O Impossível.
Olho para o cartaz e já me dá um aperto no peito. É estúpido, porque quando uma história é bem contada, eu acho que a devemos ver, não sou nada da opinião que os filmes servem só para distrair e que para tragédias bem basta a vida - nada disso.
Só que não acho que tenha estômago para este filme, para esta história em particular.
A maternidade transformou-me em leoa, mas também em florzinha de estufa.

1 comentário:

Mana disse...

Não tens estômago para este filme, believe me... eu q até não costumo, chorei e de aperto à séria várias vezes ao longo do filme. Mas gostei de ter ido ver!