- a relação com a comida: o comer muito, ser guloso, ser capaz de enfardar uma caixa de ferreros en menos de nada, desembrulhar o rebuçado seguinte com o anterior ainda na boca, acabar de almoçar e ser capaz de começar tudo outra vez; ou comer apenas o que tem na vontade, conseguir parar quando se está cheio ou enjoado, comer doces comedidamente. Conheço pais que optaram por não ter doces em casa para que os filhos não tenham tentação de os comer, e pais que optam por os ter sempre na despensa, para que os doces se tornem algo banal, logo menos apetecível. Em ambos os casos, dependendo da relação dos miúdos com a comida e com os doces em particular, as teorias falharam redondamente.
- a relação com a dormida: há os que adormecem em todo o lado, que pedem para ir para a cama, que num jantar de amigos se aninham num sofá e adormecem, que no restaurante juntam duas cadeiras e adormecem também sem chatear ninguém; ou os que combatem o sono com unhas e dentes, esfregam os olhos para logo voltar a querer ir brincar, acabam a noite invariavelmente numa birra de sono, que só adormecem na sua cama, no seu quarto, com os seus rituais. Também aqui os pais que tem filhos do primeiro tipo são tentados a pensar que a educação tem um papel muito importante. Não é raro ouvir comentários "ah, eu sempre habituei o meu filho a dormir em todo o lado!", o que é muito bonito, mas na minha opinião só funciona com alguns miúdos e ponto final. Há os que conseguem habituar-se, e os que vão dar dores de cabeça aos pais na hora de dormir até à adolescencia.
- a relação com o trabalho/responsabilidade: os que fazem os trabalhos de casa na sexta-feira à tarde; ou os que fazem os trabalhos de casa no domingo à noite/segunda-feira de manhã. Quanto a isto tb pouco ou nada há a fazer. Conheço irmãos educados na mesma casa, com os mesmo pais, na mesma escola, tudo igual, mas completamente diferente na relação com a responsabilidade. E pior: se com o comer e o dormir a coisa pode ir mudando ao longo da vida, porque a pessoa cresce e acaba por ter consciencia das suas limitaçoes e faz um esforço para mudar, esta relação com a responsabilidade é bem mais difícil de mudar! A criança que deixa tudo para a última hora torna-se muitas vezes no adulto que só trabalha sob pressão.
Não quero com isto dizer que estas características não se possam alterar, mas eu acho que são coisas que nascem connosco, e que a educação/hábito consegue apenas mudar até certo ponto.
Acho sempre graça quando ouço pais (muitas vezes de um só filho, porque quando nasce o segundo lá se apercebem que as coisas não são tão lineares) a vangloriar-se de que os filhos dormem sem birras porque nunca os habituaram ao colo, ou que não gostam de doces porque nunca há doces lá em casa, ou que lhes incutiram um sentido de responsabilidade para que a criança trate das suas obrigaçoes antes de ir brincar.
Deve ser bom pensar que se tem todo este poder!
1 comentário:
Gostei muito de te ler e concordo muito com aquilo que dizes! boa reflexão!
bjs
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