Já aqui referi algures que para mim, 2 coisas que a maternidade me trouxe e que me apanharam na curva foram o ter de gerir o medo e a culpa.
Medo de os perder, e culpa por tudo e mais alguma coisa, culpa a espreitar em cada esquina, culpa em cada uma das minhas decisoes.
Ando agora cá em casa numa empreitada de imprimir fotografias e colocar em álbuns - é um objectivo para 2013 - e ontem resolvi pegar nos álbuns que já tinha e dar uma vista de olhos - da primeira gravidez e do primeiro ano do mais velho.
Além da grande diferença de eu estar muito mais gira na primeira gravidez (que foi no verão) do que na segunda (tipo 10 a 0), aquilo que mais me chamou a atenção ao recordar aqueles primeiros meses foi o estado de stress em que eu me encontrava - e se calhar nunca tinha realizado isto até ontem.
Olhando para as imagens nem se nota, mas eu até quase senti a pulsação a aumentar só de folhear o álbum.
Era tudo e mais alguma coisa, umas coisas causadas pelas outras, num emaranhado de ovos e galinhas que ninguém sabe como começou.
Era ele que não comia, que chorava todo o tempo, que não dormia. Era eu que não dormia, senhores, e não é por acaso que a privação do sono é uma tortura. Depois eu na minha cabeça tinha a imagem da mãe-cool (que ainda tento ser, claro), daquelas que não deixa de fazer nada por causa do baby - eu queria fazer a minha vida normal, mas com o baby atrás. Erro.
Depois era o tempo - choveu tanto nesse inverno, houve tantas e tantas tempestades a meio da noite que eu presenciei do princípio ao fim. Não podia sair de casa, não havia cá passeios para ninguém, e eu a atrofiar cada vez mais. Porque não ia a um centro comercial? Por causa da epidemia de gripe A, que condicionou a vida de toda a gente naquele ano, pelo que nem pensar em ir para sítios cheios de gente.
E nas fotos aparecem inúmeros eventos de amigos e família, e por trás dos meus sorrisos está uma mãe à beira de um ataque de nervos. Será que alguém reparou?
Nestes eventos ele estava sempre SEMPRE a chorar, depois calava-se um minuto e as pessoas, claro, queriam pegar ao colo, e ele, claro, voltava a chorar. Depois eram as outras crianças que queriam ver/mexer/pegar no bebé e eu só via micróbios do infantário e ai meu rico filho que vai sair daqui cheio de doenças. Depois era a hora de dar de mamar, e valha-me os deuses que era o verdadeiro filme, nunca comia nada de jeito, e eu ainda mais enervada ficava. Eu queria um bebé que ficasse a dormir nestes eventos, e tinha
exactamente o oposto - não desfrutava eu, não desfrutava ele, era um
stress. Depois, claro, com um baby que chora chovem os bitaites, o faz isto,
faz aquilo, dá-mo cá, toma lá. E era o barulho, as pessoas, as crianças às voltas e ele a chorar, chorar, chorar, e eu já numa espiral próxima de dar o tilt final.
Mas para mim deixar de ir não era opção, ora logo eu, que sempre critiquei os pais que abandonam os amigos quando nasce um bebé.
Parecia que queria evitar o inevitável, queria que o meu bebé não mudasse a minha vida por completo, queria continuar a ser a Mary de sempre, o que é, além de parvo, impossível de concretizar.
Pudesse eu voltar atrás e faria muita coisa diferente.
Sei que muito daquele choro-não-come-não dorme se deveu também ao meu stress, mas na altura sinceramente não me apercebi.
E acho que ainda assim nunca me tinha apercebido disso, até ontem.
Resta saber o que vou sentir daqui a uns anos quando vir as fotografias do álbum deste ano...
6 comentários:
Posto o que aqui postaste, posso afirmar que apesar de estar sempre na mira das tuas críticas...me tenho saído destas crises bem melhor...how cool is that?! I'm cooler than U... desculpa, não é decerto o que querias ouvir/ler mas o meu ego não resistiu... troma...;P
post brutal que me fez ter um flash back...
Cartuxa: digo-te uma coisa que já te disse há um tempo aqui na blogoesfera - dás demasiada importância ao que eu digo! lol
Lá isso aprendi bem cedo, eu cá só oiço críticas de quem tem
a) mais filhos que eu,
b) 2 filhos com menos diferença do que eu
Tudo o resto ignoro. O que fazes tu a ouvir as minhas críticas, logo as minhas, que tinha 18 anos quando tu foste mãe pela primeira vez e estava loooonge de ter alguma autoridade no assunto? E FYI ainda estou, tens o dobro de filhos e levas aí uns 14 anos de avanço. Ignora-me please.
(e olha que eu não digo isto a muita gente!)
:o) lolol!
Muito, muito interessante este post... alguns pontos:
* Talvez por vivermos vidas paralelas neste campo, é natural que esteja mais atento, nos outros, a certos aspectos que noutras condições não estaria. Dito isto, sempre me pareceu, neste período, que evidenciavas um estado de ansiedade crescente, fosse pela ambição da perfeição, inerente à condição de Mãe, fosse pelo facto das crianças nem sempre corresponderem, como gostaríamos, ao que nos parece mais correcto.
* No entanto, parece-me, o ciclo vicioso que descreveste seria sempre uma etapa pela qual terias de passar. Quando as pessoas têm convicções fortes, que é o caso, terá sempre de ser o tempo e a experiência a ditar a sua razão, ou a dá-la ou a obrigar a alterá-la. É verdade que ao olhar para trás podemos sempre dizer que faríamos muitas coisas diferentes, mas é apenas ao passar por elas que o percebemos. Citando o meu prof. de Filosofia do 10º ano, “não quero que peçam desculpa, digam apenas que não voltam a repetir e que da próxima vez será diferente”. Ou seja, podemos sempre ter a tentação do pensamento anacrónico de querer mudar o passado, mas o facto é que, pouco tempo mais tarde, tiveste a oportunidade de colocar a experiência anterior em perspectiva e melhorar tudo aquilo que achaste, e sublinho o “achaste”, que não fizeste tão bem.
* Isto de ser mãe e pai tem muito que se lhe diga… está longe de ser uma ciência exacta e, citando alguém do grupo, “os outros são sempre os melhores pais dos nossos filhos”… ou seja, bitaites vais ouvir sempre (e aqui vai mais um), uns uteis, outros nem por isso, e outros que mais valia não terem dito nada… mas a melhor forma de avaliares o teu “sucesso” enquanto mãe é olhares para o teu filho e persentires o seu grau de felicidade na relação com os outros … honestamente, tenho a certeza que podes estar de consciência perfeitamente tranquila.
* Há dias, num lançamento de um livro, o autor, o Luís Osório, dizia que a grande alteração que os nossos filhos provocam nas nossas vidas é o facto de passarmos a sentir-nos vulneráveis em relação ao que nos rodeia… Até ter filhos, sentimos que nada nos acontece e que “temos mão” em quase tudo o que fazemos… A partir do momento em que somos pais, sentimos que já não dominamos tudo, que certas realidades nos escapam entre os dedos e que as nossas decisões passam a ter interferência na vida e no bem-estar das pessoas mais importantes das nossas vidas… é a natureza humana a funcionar… vulneráveis ficamos, mas o sentimento de culpa não pode ter lugar quando ages tendo o melhor interesse dos teus filhos em mente, e quando a educação e formação dos teus filhos será sempre o principal trabalho e realização pessoal em vida…
* Obviamente, nada do que escrevi pretende corresponder a algum tipo de paternalismo, é apenas a visão de quem está a passar por algo semelhante… é só…
Já completamente fora de horas, deixa-me só confirmar que quem te conhece e te acompanhou nesses momentos se apercebeu sim do que tu passavas (e não penses que foi fácil tb. para nós), mas como diz o/a sábio/a F. do comentário anterior, era um processo pelo qual tu tinhas que passar, é uma daquelas aprendizagens que só se interiorizam passando por elas. Nada do que quem te rodeava fizesse ou dissesse te ia demover das tuas convicções profundas. O teu filho veio, mudou a tua vida e o teu mundo e ensinou-te uma grande lição! Foi ou não foi?... E só ele ta podia ensinar, mais ninguém! E isso é lindo! Posto isto, queria aproveitar para partilhar uma reflexão que me tem acompanhado e que tem a ver com a idade em que temos os nossos primeiros filhos. Eu acho que quando somos mais novas, naturalmente somos mais "cool", porque bastante mais inconscientes do que nos espera e talvez um bocadinho mais flexíveis. Não temos hábitos muito arreigados que não queremos largar. Não temos assim muitos exemplos bons ou maus que queremos seguir ou não seguir. Sobretudo não temos o peso do tempo a esgotar-se. E temos mais paciência! Lidamos melhor com as noites mal dormidas e os confinamentos em casa, porque recuperamos mais facilmente a forma. Apesar disso, eu quando tive o primeiro filho achei que ia conseguir pôr as minhas horas de sono em ordem, cheguei a contabilizá-las para as recuperar nos dias seguintes e deitava-me às nove da noite porque era quando ele fazia o maior intervalo. Às vezes não é só inconsciência, é patetice mesmo. Peço sempre desculpa ao meu filho mais velho pelos erros de principiante que cometi com ele.
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