quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O stress e a imposição de ter muito que fazer

Tenho aproveitado alguns momentos que tenho livres para passar na lavandaria a secar a minha roupa, coisa que veio revolucionar a minha organização cá em casa e que recomendo vivamente, como podem comprovar num post anterior.
De vez em quando acontece encontrar lá gente, e há sempre aquele intuito de "fazer conversa".
Normalmente até são senhoras mais velhas, encantadas com a novidade, e que acabam por meter conversa por causa da minha barriga.
Hoje estava eu à espera da roupa e entra uma mãe, não mais velha que eu, com um bebé pequenino no sling (nem deu para o ver, devia ser mesmo pequenino).
Eu estava sentada a ver o telemóvel e a comer uma maçã, e a mãe entrou com um grande saco e a falar "com o bebé". E enquanto falava com o bebé contava que tinha mais filhos, percebi que são 3 ao todo, ela disse os nomes e tudo, e comentou que ainda tinha mais roupa para lavar em casa. Tudo isto sem se dirigir a mim, sempre a falar com o bebé.
Deixou a sua roupa e saiu, e quando voltou estava eu a dobrar a minha, usando as mesas que lá estão para o efeito. A roupa sai seca e com muito poucos vincos, se for dobrada na hora fica impecável, não precisa de ser passada a ferro.
Hoje eram duas máquinas de roupa deles, pelo que era bastante a roupa para dobrar - apesar de no total levar uns 15 minutos.
E pronto, continuando sempre a falar com o seu bebé, esta mãe parece que sentiu necessidade de se justificar com o muito que tinha para fazer, para não ficar ali a dobrar a sua roupa também. Enquanto a máquina acabava referiu-o várias vezes, e depois enquanto atirava com a sua roupa directamente do secador para o saco repetiu várias vezes, sempre falando com o bebé, que não podiam ficar ali a dobrar, que não tinha vida para aquilo, que tinham imensa coisa que fazer.
Parecia que tinha porque tinha de se justificar perante... uma estranha que não conhece de lado nenhum e que está na lavandaria à mesma hora.
Seria suposto eu sentir-me pressionada por não ter nada para fazer? Justificar-me eu também pelo facto de estar ali a dobrar a minha roupa a meio da manhã?
Fiquei só em silêncio.
Este é apenas um exemplo, pois a sociedade está cheia de mensagens deste tipo. Parece que temos de andar sempre a mil à hora, de ter imensos novos projectos, de ter fazer imensa coisa, e principalmente temos de o dizer a toda a gente. Porquê?
Ora eu, que vivo tão bem com o meu tempo planeado à minha maneira, que aprendi tão bem a dizer não e sim quando me parece demais, e que não estou nem aí para o que pensam ou não do que digo e faço, acho isto tudo muito estranho.
Já nem falo da necessidade de ter muito que fazer, mas o facto de ter de o dizer.


Não tem mal nenhum ter muito para fazer, mas bolas, não tem mal nenhum mesmo não ter nada para fazer também.
Dobrar roupa com vagar, caminhar no paredão, ficar sentada a ver o pôr do sol, ver um programa parvo na tv, ler um livro só porque sim.
Ninguém tem nada com isso, gente.
Cada um sabe de si.

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