domingo, 17 de fevereiro de 2008

A lei do mais forte

Ora aqui está uma diferença cultural que continua a fazer confusão.

O sistema nacional de saúde deste país, que eu (bate na madeira) ainda não tive o prazer de contactar, defende a lei da selva, que é como quem diz da sobrevivência dos mais fortes.
Quem vai ao hospital é melhor que entre pelas portas das urgências à beira da morte, caso contrário arrisca-se a uma experiência no mínimo insólita.
Sangue, fracturas expostas, braços partidos é favor esperar a sua vez na sala de espera - e ninguém reclama. Se não está entre a vida e a morte pode esperar duas ou três horas à vontade. E como eles são calmos e educados aguentam estoicamente a dor sentados no seu canto e caladinhos - porque sabem que só os mais fortes sobrevivem.
Anestesia, analgésicos - para quê? Se partiu é normal que doa, e essas coisas custam dinheiro ao estado.
Olhos vermelhos, dores de cabeça ou de barriga e a resposta é "Vamos ver se a dor se mantém durante 3 semanas. Depois volte cá." Ora em três semanas pode ter a pessoa morrido de ataque cardíaco. Pois, é a lei do mais forte, se era para morrer de qualquer modo então mais vale não gastar recursos.
Grávida? Fazer a vida normal, frequentar o ginásio, andar de bicicleta, saltar à corda se for caso disso, que neste país querem-se embriões fortes e se for para serem fraquinhos é melhor que não vinguem mesmo. Ficar na cama para aguentar uma gravidez até ao fim - no way! Se for possível ter os filhos em casa, melhor, mas se forem ao hospital também não esperem por uma epidural - ah, e duas horas depois de parir toca a ir para casa.
Antes de ir ao médico há que ir ao médico de família, que então decide mandar ao especialista ou não.
Fazer um check up é para eles incompreensível.

Todos os que tomam contacto com o sistema nacional de saúde têm uma história para contar, mas para mim a mais hilariante é a do marido de uma colega (holandês de gema - não vá pensarem que isto só acontece aos estranjas). Estava com dores fortes na barriga, sem apetite entre outros sintomas mais aparatosos há vários dias. Resolve ir ao médico, sob o fantasma de uma ulcera nervosa, ou mesmo algo pior. A médica apalpa-lhe a barriga e diz-lhe que não é nada - "vamos ver como corre nas próximas semanas". Ele perguntou se não seria melhor fazer exames, análises, algo mais exaustivo, ao que ela (que, sublinho, é médica!) responde:
"Não vale a pena, é que sabe, na zona do estômago e dos intestinos há muitos mistérios por resolver..."

Ficamos assim, então.

3 comentários:

Miguel A. disse...

Quer isso dizer que por cá, o sistema de saúde pública é melhor? Mais humana?
tella

Anónimo disse...

TANTO QUANTO SEI, DO QUE ELES GOSTAM ( OS MÉDICOS HOLANDESES) É DE EXPERIMENTAR MEDICAMENTOS EM QUE METADE DOS DOENTES VÃO DESTA MELHOR ( O PÂNCREAS FICA PELA ZONA DOS INTESTINOS, É DA MESMA FAMÍLIA, PORTANTO, IGUALMENTE E PERIGOSAMENTE MISTERIOSO)... MORAL: MAIS VALE ASSIM...SE SE VAI LÁ E NÃO PRESCREVEM NADA FICA-SE LIVRE ( PELO MENOS!) DE MORRER DA CURA! HAJA SAÚDE E DINHEIRO PRA VINHO !( SEMPRE CURA ALGUMAS COISAS...)

Anónimo disse...

esta treta da verificação de palavras serve pra quê afinal? ainda agora me vi obrigado a escrever um palavrão do cara...go! tá mal...