segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Nacionalidade Oculta

De boca fechada ninguém sabe de que país venho.
Quem está fora do país, ou mesmo quem cá vem de visita, consegue num só olhar descobrir portugueses no meio da multidão. Há aquele ar de família que é comum à maioria - baixos, cabelos e olhos castanhos, mulheres de madeixas e homem de bigode- a par de um gosto de vestir inconfundível - sapatos de vela, casacos ensebados, e claro está, pouca produção, pouco acessório, pouca maquilhagem.
Ora, se por um lado consigo eu distinguir um grupo de tugas à légua, já o contrário não acontece. Os cabelos claros e pele branca são o meu disfarce perfeito, e se estiver a ler um livro em inglês então não se fala! Ninguém nunca imagina que aquela bifa da mesa do canto é tuga e está a topar toda a conversa.
Há um prazer escondido em não revelar a minha nacionalidade.
Nunca em dois anos de Holanda eu voluntariamente me apresentei ou identifiquei a alguém que esteja a falar português ao meu lado numa loja ou no supermercado. Ouço e calo-me, e observo de longe.
E, claro, já desenvolvi técnicas infalíveis para não dar cana e não dar a entender que percebo o que se diz. Não me rio das piadas, não reajo aos comentários, não sorrio sequer.
E a verdade é que uma pessoa se desabitua de perceber as conversas que se passam ao nosso lado. Quando estou no comboio ou num café normalmente não pesco nada do que se passa à minha volta, e por isso vou concentrada nos meus pensamentos. Ora quando percebo, é impossível não concentrar toda a atenção nessa conversa, por muito desinteressante que seja.
Uma vez dois mexicanos ao meu lado no comboio falavam sobre sei lá o quê, e eu devo ter feito um olhar de quem percebe ou ri-me de uma piada. Um vira-se para o outro e diz:
"Esa que está a tu lado habla español"
E diz o outro:
"No. No puede"
E diz o primeiro:
"Te lo juro que nos entiende. Mírala, mírala!"
(Eu com um ar inocente olho pela janela a conter o riso)
E diz o segundo:
"Esa chica seguro no habla español, y si te estaba mirando es porque quiere tu telefono!"
Estive prestes a, no último minuto antes de sair do comboio, lhes dizer qualquer coisa para mostrar que de facto percebi tudo o que eles disseram, mas resolvi não dizer nada e não revelar a minha verdadeira nacionalidade. Eles nunca iriam adivinhar.
E enquanto me mantiver de boca calada, posso ser quem eu quiser!

3 comentários:

Anónimo disse...

Sua voyeur!

sofia disse...

Essa chica é esperta

Anónimo disse...

Diria mesmo que é a própria da "xica esperta"...!