quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Desperdícios


Em casa dos meus pais nunca houve desperdícios de comida. Sinais dos tempos, acho que ainda era assim na maioria das casas portuguesas nos anos 70 e 80.

Com os restos da carne faziam-se croquetes, com o resto do peixe, souflé, empadão ou o que quer que fosse para multiplicar uma refeição de 1 para 5, de modo económico. A fruta tocada comia-se na mesma (bastava retirar a parte podre), e raspar o bolor de qualquer coisa do frigorífico era também prática corrente. E como último recurso para os restos de comida que ficavam no prato, bocados de gordura e ossos, havia o cão (sim, nessa altura os cães comiam restos).

Nada se desperdiçava.

Infelizmente com o tempo fui perdendo esses hábitos, e com esta minha mania de deitar fora tudo o que não uso, fui-me tornando uma "assassina de comida". Em vez de guardar o resto de massa que cozi a mais, ou aquele bocado de arroz de frango, acabava por deita-los fora sob pretexto de que acabariam por ir para o lixo mais tarde ou mais cedo, e era preferível mais cedo, assim não se ocupava espaço nem se sujava o tupperware.

Para isto também contribuiu o Te, que não só tem tendencia para cozinhar uma quantidade sempre maior que o necessário, mas também é o primeiro a deitar fora tudo o que fica no tacho porque "ah e tal, não vale a pena". São hábitos que não vem de trás (em casa dos pais dele também se aproveita tudo, e fazem-se pataniscas de dourada e gelatina com fruta madura e tantas outras receitas de restos), mas são sinais dos tempos de uma geração que apesar de tudo vive numa época de facilitismo, do descartável, do usar-e-deitar-fora, geração Chiclet pode-se dizer.

No entanto há alturas na vida em que nos deparamos com alguma coisa que nos faz mudar. Parece que essa coisa vem ao nosso encontro porque estamos preparados e motivados para a receber.

E no outro dia passeando pela net dei de caras com o site Love Food Hate Waste.

Não traz nada de novo. Não traz nada que não se faça em casa dos nossos pais, e em muitas outras casas. Mas pelos vistos traz aquilo que eu precisava de saber naquele momento.

1/3 da comida comprada no Reino Unido é deitada fora.

O que é que isso significa na carteira de cada um? Que efeitos tem isto no nosso planeta? Qual a quantidade de embalagems, de gasolina em transporte, de despojos industriais que são desperdiçados para produzir comida que é depois deitada no lixo?

Assustou-me.

Não passa por comer tudo o que fica no tacho "para não se estragar" - esse sim, o grande clássico das casas dos pais - que não faz bem nenhum a nossa saúde e linha.
Passa por:
a) cozinhar as doses correctas
b) comer o que se tem no frigorífico antes de ir comprar/fazer outra coisa
Eu estou a caminhar nesse sentido.
O sentido é, como em tantas outras coisas, o regressar aos hábitos do passado, que se abandonaram sem razão.

Nada de novo, portanto.
Fica a dica para quem dela quiser fazer uso.

4 comentários:

joaninha disse...

Concordo plenamente. Eu também procuro seguir essa "filosofia".

Anónimo disse...

Custa-me o desperdício, e só deito comida fora quando já não tem mesmo salvação.
Porque não é só a comida que estamos a deitar fora, é o tempo que tivemos a comprar, a cozinhar, o nosso dinheiro e o impacto desnecessário que teve no ambiente (desde a produção, embalagem, transporte…).
E a hipótese “enfardar” até rebentar está também fora de questão, o meu corpo não é uma dispensa, mas uma máquina que só consome o que precisa.

Anónimo disse...

Ah pois é... a geração rasca a começar a ter consciência da sua "rasquice"! Já a chegar aos 30's mas enfim, antes tarde que nunca! Um truque que eu adoptei cá em casa, conselho dado por mãe de 3 (dois dos quais gémeos) super organizada foi o de fazer uma ementa semanal. No fim de semana planeamos o que vamos comer durante a semana e compramos de acordo com isso. Poupa-se e planeia-se de antemão o que fazer com os restos. De resto, também sou amiga de congelar aquilo que sei que não vou comer já e cujo prazo vai passar entretanto, mesmo as coisas mais improváveis, tipo bolos, massa de tarte ou fermento de padeiro. Sem queixas.

sofia disse...

Pois, a oprah também fez um programa sobre isso, se na Inglaterra é assim , imagina nos EUA os reis do exagero. Impressionante.
Cá por casa, somos mesmo poupadinhos, não se faz comid enquanto houver restos.