domingo, 5 de abril de 2020

Dias de quarentena

Nunca pensei, nunca mesmo, que viéssemos a passar por isto em 2020.
Muito frequentemente, muito mesmo, durante as minhas visitas refiro epidemias anteriores - a de cólera que matou o D.Pedro V e alguns dos seus irmãos no séc. XIX, a de "gripe espanhola" que matou o Amadeo em 1918 - mas sinceramente nunca imaginei que fossemos passar por isto.

Fez ontem 3 meses que o meu pai partiu, e garanto-vos que parece que foi há 3 anos.
Penso naqueles dias no hospital em que ali estivemos junto dele até ao último suspiro, penso nos dias que se seguiram, nos velórios, missas e funeral, e nos abraços que recebemos - centenas, milhares! - que nos encheram a alma.
Que arrepio pensar nos que morrem agora, no quanto o mundo mudou - todos mudámos - desde então.

Já lá vão mais de 20 dias de confinamento, e aos poucos vamos percebendo que afinal, como em tudo, aguentamos mais do que imaginamos. Aguentamos tudo, deixem que vos diga, e isso é também deveras assustador.

Já lá vão mais de 20 dias, mas digamos que o tempo até passou bastante rápido. Muitos planos e coisas que tenho para fazer ainda permanecem iguais - o quarto das miúdas por destralhar, principalmente.
Considero-me uma pessoa bastante caótica, e descontraída, mas depois vejo que não. Sou obstinada com os horários, faz-me confusão que os miúdos saiam da rotina, e estou passada com esta história da mudança de horário porque ando a acordar mais tarde e isso - mesmo tendo  zero compromissos - faz-me espécie.
Faço a minha caminhada matinal, faço ginástica na minha app (que uso há meses), visto-me normalmente (e não de fato de treino!), só não uso maquilhagem (mas ainda assim nos primeiros dias ainda usei!). Obrigo os miúdos a vestir, pentear e tudo e tudo nem que seja para depois se sentarem no sofá, detesto vê-los de pijama depois do pequeno-almoço.
Estou farta de cozinhar, principalmente de fazer sopa, mas não consigo abdicar de a fazer. Sopa, salada, fruta, tudo dentro da normalidade
Acho que os anos a trabalhar em casa me deram as ferramentas para saber sobreviver a isto de forma relativamente tranquila, mas isso implica ser rigorosa nas regras - e sou um bocado obcecada com isso, confesso.

No meu dia a dia normal passo muitas horas sozinha.
Acontece muitas vezes ir trabalhar e não me cruzar com colegas (por diferenças de horários) e normalmente almoço sozinha, muitas vezes até em casa (mas sozinha). E sim, sinto falta desse silêncio, de estar sozinha sem dar atenção a ninguém.
Do lado oposto sinto, sentimos todos, falta dos primos, tios e avós, que fazem parte do nosso dia a dia, tanto à semana como ao fim de semana, além dos amigos, claro. Os miúdos estão com umas saudades enormes de estar com outros miúdos além deles próprios - mas eu até acho que lhes faz bem serem obrigados a entenderem-se.

Penso muito no que vai acontecer depois de tudo acabar.
Tudo isto vai revolucionar a nossa maneira de viver, e infelizmente nem tudo é cor de rosa nos tempos que se aproximam.
Eu estou sem trabalho até sei lá quando, uma quantidade de empresas não vão sobreviver, vamos todos penar durante uns anos por causa disto - e logo agora que começávamos timidamente a sair dos efeitos da crise de 2008.
Até lá, cada um faz a sua parte e fica em casa o melhor que pode.
Já não falta tudo!

1 comentário:

Cartuxa disse...

Siga a Marinha! Mesmo confinados, mais onda menos tsunami, havemos de superar isto. Saudades, muitas❤️