terça-feira, 20 de novembro de 2007

20/11/1996

Chegámos a casa bastante tarde. Já todos estavam a dormir. Passámos à porta do quarto dela, e ela acordou. Fizemos festinhas na sua barriga redonda como o mundo.
Eu fui-me deitar, e claro, apaguei.
Passado poucos minutos, uns passos a correr pelo corredor.
Chegou a hora. É agora.
Todos em stress. Todos...menos ela! Ligou ao pai, pediu-lhe que viesse devagar, tomou banho, arranjou-se com toda a calma como se soubesse que tinha muito tempo pela frente. A F. histérica, metia-lhe coisas para dentro do saco - o saco da maternidade, arranjado com toda a paciência, e pronto há várias semanas.
Lembro-me de se vir despedir de mim ao quarto, de me dizer "o D. está a chegar!".
Eu respondi-lhe... "leva o passe!" (toda a gente sabe que o passe é um documento essencial quando se vai para a maternidade ter um filho).
Sei que foi com os quase-avós para o Hospital de Santa Maria. Sei que quando chegaram à porta eram mais ou menos 6h da manhã. Sei que quando acabaram de estacionar começou uma música do Pedro Abrunhosa (tudo o que eu te dou, tu me dás a mim...) e ela pediu para ficarem até ao fim da música. E ali ficaram os três dentro do carro até a música acabar. Só depois entraram.
Eu entretanto dormia. Quando acordei não tinha a certeza se era verdade ou se tinha sido um sonho.
Nessa noite havia um evento muito importante, e eram necessárias lâmpadas. Fui com a F. comprar as ditas a um centro comercial. Quando demos por nós estávamos as duas dentro do Peugeout branco cheio de lâmpadas no banco de trás, com as lágrimas a correr pela cara abaixo... a situação era no mínimo insólita: a nossa mana prestes a ser mãe e nós a comprar dezenas de lâmpadas.
Fui ter ao hospital por volta das 15h. Ainda nada. E a tarde foi passada naquela sala de espera, com o pai a poder entrar e sair com notícias (dedos de dilatação, epidurais que não pegaram, tempos de contracções). Para nós foram largas horas de espera. Para ela foram provavelmente as horas mais longas da vida.
Eram já 3h da manhã quando finalmente ele nasceu.
A tia pediatra veio mostra-lo à família no vão das escadas, embrulhado em lençóis do hospital. Tão perfeitinho, e tão igual à mãe! Uma boca a chorar igual à da mãe!
Para nós foi uma sensação indescritível. Uma alegria imensa e maior que tudo!
No final o médico que a acompanhou virou-se para mim e disse:
"Você é que é a irmã? Então, quando for a sua vez, porte-se como ela!"

Ele só faz anos amanhã.
Hoje é o dia da sua mãe.

4 comentários:

Anónimo disse...

Só me fazes chorar..Parabéns!

Anónimo disse...

Muito comovente o post. Muitos parabéns à Z., ao D. e para ti pelo primeiro de muitos e lindos sobrinhos (só eu é que ainda não tenho nem unzinho :P)... Também me lembro que nesse dia estava em casa da Joe de microfone em punho a "brincar" às cantorias quando o telefone tocou e interrompeu a nossa gravação... Belos tempos!

Anónimo disse...

tão bonito! tb eu chorei e revivi o meu parto...ando tão lamechas!!

Anónimo disse...

Eu ainda hoje não consigo descrever o que se passou nesse dia. Sei que a Z. já me pediu e quando penso em começar, não sei o que dizer. Sei que foi tal e qual o que tu viveste, com a diferença que o tal evento importantíssimo estava a ser preparado por mim desde há meses e eu queria muito que a Z. lá estivesse. Sei que entrei e disse para a barriga redonda que estava a mexer: "quietinho, que a mão tem que ir a um sítio muito importante daqui a 2 dias e só depois podes nascer". E cinco minutos depois oiço-a a correr pelo corredor fora a dizer que as águas tinham rebentado. O que é que isto nos diz sobre a personalidade deste puto? Nem mais. Tudo à sua maneira, nada à maneira dos outros, desde que era um bebé rechonchudo e loiro, o maior e mais bonito que eu já tinha conhecido. Ainda hoje é assim. Ainda bem. Ele sabe que eu sou a mais desnaturada das madrinhas, ele é também o mais desnaturado dos meus afilhados e por isso fomos feitos um para o outro. Adoro-te M.!