Já fiz posts sobre este tema meninos/meninas várias vezes aqui no blog, sobre os presentes de anos que recebem e sobre a divisão que havia antes nos hipermercados, que era coisa que me deixava nervosa.
Não acho que rapazes e raparigas sejam iguais, e não acho que tenham de ser.
No entanto, temos mesmo de rever a mensagem que passamos às nossas
filhas (e filhos), porque ser feminista neste momento é mesmo (e
continua a ser) uma necessidade.
E não acho que os livros de capa azul sejam de rapaz e os de capa rosa choque sejam só para raparigas, mas a verdade é que quando queremos que eles comecem a ler, tentamos ir ao encontro daquilo que possam gostar, e parece-me normal escolher um livro em que o narrador é rapaz para os rapazes, e em que a narradora é rapariga para as raparigas.
Já aqui escrevi que os meus mais velhos andam todos entusiasmados com a leitura.
A do meio (que tem 7 quase 8) iniciou-se com o livro "Diário da Ema" (que, para quem não sabe, é o seu nome). Leu o primeiro volume há uns tempos, com muitas paragens pelo meio, claro, mas foi o seu primeiro livro "a sério". Entretanto em Janeiro nos anos da mais nova, oferecemos-lhe o segundo volume (sim, cá em casa quem faz anos oferece um pequeno presente aos irmãos).
E resolvi fazer o mesmo que faço com os vídeos de youtube que eles gostam de ver - resolvi folhear e ler um bocado para ver do que se trata.
E, meus amigos, não gostei.
O livro é todo sobre uma suposta festa de ballet que vai haver, e a Ema passa as páginas todas do livro a queixar-se de diversas coisas: que não gosta do tema que a prof escolheu, que queria um vestido esvoaçante, divaga sobre quem será a bailarina principal, e destila ódio sobre a sua rival de estimação. Acaba por (spoiler alert) se chatear com a melhor amiga porque esta desiste do ballet e vai para a ginástica rítmica. Claro que o livro acaba com tudo bem, a rapariga arrepende-se das coisas más que pensa e faz, deve ficar amiga da rival e aceita a melhor amiga como ela é, mas caramba, tantas coisas que podiam estar naquelas páginas e só está o pior: a mesquinhez, a inveja, as queixinhas, a rivalidade que não é saudável.
Fui à biblioteca e trouxe-lhe O Diário de uma Totó, e é mais do mesmo, sendo que a totó nem sequer tem amigas (e o livro não era claramente para a idade dela, a personagem anda no 6º ano). Dramas do telemóvel que não é o último modelo, dramas das meninas populares do liceu, dramas de festas para as quais ninguém a convida.
Também espreitei o Diário de um Banana, que o mais velho devora em poucas horas, e o que leio não tem nada a ver. O Banana é um banana, sim, tem um rival no liceu, sim, mas os livros passam à volta de situações cómicas e insólitas que lhe acontecem, as birras irritantes do irmão mais novo, um ataque de gaivotas quando vão de viagem, peripécias a montar a árvore de Natal. Principalmente não se nota o tom de queixinhas do narrador, aquele tom de diário privado de miúda parva a achar o mundo um lugar injusto e a dizer mal dos outros, que foi o que encontrei nos livros "de meninas" que li.
Aos rapazes damos coisas fixes e divertidas para ler, porque havemos de dar livros sobre coisas mesquinhas às raparigas?
A minha do meio é bastante dada a dramas, mas nem ela achou muita piada.
Esquecemos os livros de capa cor-de-rosa, pelo menos durante um tempo.
1 comentário:
Gostei muito deste post!
(um aparte: o H. jé se iniciou na leitura da coleção da Cherub de Robert Muchamore? Um miúdo que é espião durante a segunda guerra mundial e é bem escrito, ainda por cima. Miudos e miudas devoram a coleção toda (e são livros de 300 e muitas páginas.) Experimenta com o o teu mais velho.
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