quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Quando a lei supera o bom senso

Sou completamente a favor da nova lei de dar prioridade obrigatória às pessoas que dela necessitem. Num mundo perfeito isso não seria necessário, o bom senso se encarregaria de tratar do assunto. Tirando um ou outro episódio, em 3 gravidezes não me posso queixar de falta de prioridade, mas já vivi num país de primeiríssimo mundo onde as grávidas se ofendem se lhes for cedido o lugar - gravidez na Holanda não é doença, e por isso até se cai no exagero ao contrário.
Desde há poucos dias que se aplica a nova lei, onde pessoas que não respeitam as prioridades podem ser multadas. Pois que em menos de 1 semana já vivi situações verdadeiramente insólitas. Estou a ver quanto tempo demora até as grávidas estarem a ser insultadas na rua, tamanho exagero que vai haver.
Situação 1 foi no supermercado. Tinha uma senhora bem velhota, mais de 80 anos de certeza à minha frente na fila, com um saco de pão e pouco mais. Foi atendida e pagou. Aproximei-me eu da caixa e o rapaz ia tendo um ataque, desfez-se em desculpas, que não tinha reparado, ai que a senhora está grávida e eu não a deixei passar à frente! Ao que lhe respondi que a senhora à minha frente também é prioritária, e que nesse caso prevalece a ordem de chegada. O rapaz quase que se pôs de joelhos a pedir desculpa, um exagero pegado, que não queria mesmo ter de pagar multa.
Hoje foi na Segurança Social. Mal entro sinto logo os olhares de lado, mas com esses posso eu bem. Deram-me uma senha prioritária, mas eu (claro) tive de ir ao wc. Quando saio já tinham chamado a minha senha, e a seguinte também - um casal com um bebé minúsculo no carrinho. Aqui podiamos entrar no esquema de "porque trazem eles o bebé para a SS?", porque se estão ali os dois provavelmente podia ter ficado um em casa com o bebé e não o expor a isso, mas pronto, acreditemos que estão os dois porque precisam mesmo de estar os dois. A senhora disse que tinha de atender a senha deles primeiro, eu disse que por mim tudo bem (até porque eu tinha mesmo acabado de chegar) mas o casal insistiu que não, que a grávida tem prioridade, e estivemos ali num impasse "são os senhores primeiro" "não, não, a senhora é que está primeiro" durante um bocado, num exagero um bocado ridículo mais uma vez...
Prefiro isto a ser ignorada na fila prioritária como acontecia antes - mas aí eu apenas perguntava delicadamente se me davam a prioridade e passava à frente como tinha direito.
Todo este alarmismo e medo da multa mal olham para uma barriga de grávida ainda vai ter consequências desagradáveis, estou mesmo a ver...

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