quarta-feira, 11 de junho de 2008

Crise

Há quem tenha a opinião de que isto do futebol é como o "pão e circo", que os portugueses até se vão esquecer da crise durante o Euro e que está tudo preocupado é com a condição física do Cristiano Ronaldo e não com o preço dos alimentos ou combustíveis.

Eu acho, sinceramente, que ainda bem.
Ainda bem que há o futebol ou o que quer que seja para animar o país, já que a crise estará à nossa espera quando o Euro acabar no fim do mês. Ainda bem que pelo menos durante um tempo deixamos de nos queixar para viver as emoções e agitar bandeiras e cachecóis na janelas do carro.
Foi assim na Expo 98 e no Euro 2004, momentos raros na nossa história recente em que andamos com a moral em alta, com energia positiva, com um sorriso na cara. Pagámos caro a Expo 98? Pagámos sim senhor. Pagámos caro o Euro 2004, com os seus 10 estádios, alguns deles sem utilidade nenhuma? Pagámos sim senhor. Mas todos recordamos com saudade esses momentos vividos, e só por isso já vale a pena. São memórias que nos saem do pêlo e da carteira, mas que não esquecemos.

A questão é que neste momento parece que nem o futebol nos faz esquecer a crise.
As bombas de gasolina estão cheias, com filas de km, ou estão já sem combustível. As prateleiras do supermercado vazias. Os santos populares avizinham-se sem sardinhas.
Assim não há bandeiras na janela nem Cristianos Ronaldos que nos valha!

Ou há uma grande prestação da nossa selecção, daquelas cheias de golos marcados e penaltys defendidos ou temo que seja desta que não haja circo para nos fazer esquecer a falta de pão.

4 comentários:

Raquel disse...

É que não podia discordar mais deste post.
Gosto muito de ver os jogos da selecção, mas perco o meu patriotismo quando vejo a histeria colectiva com uns jogadores de futebol.
Os portugueses mobilizam-se para o que não interessa. Agora o caso da greve dos camionistas deixa-me orgulhosa. Se fosse preciso ia a pé para o trabalho, e não deixava de estar do lado de quem precisa de melhores condições de vida, e faz por isso.
E quanto ao desperdício que foi construir novos estádios no Euro 2004, foi outra perfeita estupidez, hoje boa parte estão ao abandono, quando o mais lógico seria reciclar os existentes ou fazer uma parceria com a Espanha. Tal como acontece com este Euro, entre a Suiça e a Áustria.
Não aprendemos com os erros da nossa história… desperdiçamos dinheiro em coisas que não interessa, e ainda aplaudimos! E depois não percebemos porque é que Portugal não evolui, e não percebemos/ ou não queremos ver porque é que outros países que entram depois para a União Europeia, crescem e desenvolvem mais depressa que nós.
Por mais “alegrias” que a Selecção dê, não valem a pena os sacrifícios.

Anónimo disse...

Humm, este blog começa a ficar muito interessante!

Concordo em parte com as duas, mas acho que o problema não tem solução, e tem a ver com a nossa cultura e maneira de ser...

Mais do que a Expo 98, lembro-me bem do Euro 2004 e daquela euforia ao longo de 2 ou 3 semanas, do bem estar colectivo, das milhares de pessoas na rua em festas.

Pode pensar-se que se o dinheiro dos estádios fosse investido nas nossas melhores indústrias e serviços seríamos hoje um país melhor. Provavelmente.

MAs também não me parece que os Suecos e noruegueses sejam pessoas felizes por aí além! Sem dúvida, o bem estar é bom, mas não deixa ninguém eufórico!

E depois, quem nos rouba o queixume, rouba-nos quase tudo!

Afinal, não é mais fácil ser feliz à conta do que os outros (Decos e Ronaldos) fazem por nós?! :-)

E convenhamos, mobilizar-nos por uma selecção não dá trabalho nenhum. IR ao continente ou ao chinês comprar uns cachecóis e camisolas maradas, beber umas minis e conviver com os amigos é difícil?!

Quanto ao bloqueio, orgulho é coisa que não consigo sentir. Acho vergonhoso o que fizeram, o país não pode sofrer pelos problemas de uma classe.

Perde(ra)m dinheiro? Aumentem o preço dos seus serviços, que o consumidor final (eu!) paga. Como acredito no mercado livre, que remédio!

Não deixa de ser engraçado que numa semana é só sms e e-mails a pedir para não pormos gasolina, boicotem este e aquele, vamos a pé e ganhamos a luta! Ao mínimo sinal de falta da dita, vai tudo a correr feito parvo, filas e filas nas bombas, como se 50% daquela gente não tivesse outra alternativa. E pensar nos parvos que andaram a manhã inteira a saltar de bomba em bomba a gastar o que tinham na reserva!

Anónimo disse...

Tou com todos, concordo com uma coisita ou outra de cada um dos três, não tenho tempo agora pra explicar quais, mas só digo uma coisa... cuidado com o que Socratis & cia.fazem enquanto andamos distraídos com o Euro... É a melhor altura pra sermos apanhados pelas costas...

Mary disse...

Em relação à histeria pelos jogadores de futebol, a solução é, lá está, desligar a televisão - é que me está mesmo a passar ao lado, já que como bem sabeis, apesar de cá em casa só dar a TVI com chuva, à hora a que se liga a televisão para ver o que está a dar está sempre a dar a novela da menina dos totós e não esses programas sobre a vida dos jogadores. Se eu acho uma estupidez? Acho. Fazerem programas desde as 7 da manhã a perguntar a opinião de todo e qualquer tuga na Suíça, fazerem directos desde a porta da casa da mãe do Cristiano Ronaldo na Madeira, ou passarem largos minutos com o avião ou o autocarro da selecção a passar é de facto estupidificante. Mas nós, neste caso, temos a solução. É só desligar.
Quanto à greve, a coisa complica-se. Concordo com os motivos que a levaram a acontecer, não concordo que no final do dia somos sempre nós a pagar as favas destas e doutras greves. Mas se assim não fosse também não tinham impacto, é um facto.
Agora, ontem tínhamos as bombas secas e os supermercados vazios, parecia tempo de guerra, mas ainda assim houve alegria no ar.
Acho piada é à malta que foi festejar de carro gastando a pouca gasolina que há. Os verdadeiros optimistas.