segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A M. faz 6 meses


À M. estão de certeza reservados grandes feitos, grandes experiências, uma grande vida. Tenho mesmo a certeza disso. Ainda ninguém sabe bem porquê mas o mundo precisa dela, mais do que da maioria de nós. E por isso ela tinha de nascer.

A gravidez foi desejada durante bastante tempo.
Depois, no princípio muito a medo, lá soubemos que vinha aí mais um baby na família.

A irmã da M. nasceu um mês antes do previsto, há 5 anos (quase 6!) atrás. Todos nós pensámos que a M., claro (e que ignorantes, nós...) também se adiantaria 1 mês. Tudo nos conformes, previsto com alguma (pouca) incerteza para o fim de semana do 25 de Abril.

Na semana entre 19 e 23 de Março, ainda a 1 mês da nossa previsão insisti com a mãe da M. para tentar saber datas com mais exactidão... é no dia 25, ou afinal será a 27? Eu na minha condição de tia teria de estar presente em todo o acontecimento e não poderia arriscar tirar férias para depois ela não nascer/já ter nascido. Já para não falar de ter de reservar voo com a devida antecedência...(que egoísta, eu)

Acho que não dá para descrever o que senti quando no sábado de manhã, dia 24 de Março, me ligou a minha mãe a dizer que ela tinha nascido.
Mas nasceu como, quando, porquê? Não era suposto... ela tinha pelo menos ainda 4 semanas de gestação no mínimo!
A seguir veio um sentimento (que soube mais tarde pela Z. que é normal - ela também vive longe e sente a mesma coisa) de que "aconteceu alguma coisa e ninguém me quer dizer". Horrível. Toda a gente a jurar que dentro do possível estava tudo bem e eu sem conseguir acreditar...

Chorei até quase não poder mais.
(e no entretanto pus-me a fazer o urso-feito-à-pressa)

No dia seguinte meti-me no avião e fui directa do aeroporto ao hospital.
Tudo estranho.
Ao fim de algumas insistências lá me deixaram entrar na sala de cuidados intermédios para a ver durante 2 segundos.
É aquela ali (qual?) - aquela 2ª incubadora a contar da direita, ali no meio com uma manta branca por cima. Lá dentro o bebé mais pequeno que eu já tinha visto, cheia de fios e luzes e ecrãs com batimentos cardíacos e toda uma parafernália de equipamento que não se sabe para que serve.
OK.
Já a viste agora tens de ir embora.
Vi?

Só no dia seguinte a consegui de facto ver. Depois de uma grande manobra de persuasão lá consegui passar 1 minuto sozinha a olhar para ela.
Mínima e tão grande ao mesmo tempo. Dentro da sua caixinha transparente, a bocejar.
Chorei outra vez.

É incrível a nossa capacidade de relativizar as situações.
Muitas das preocupações que se têm com bebés que nascem "normalmente" parecem profundamente fúteis quando se depara com situações como esta.
Ali tomámos todos contacto com uma realidade diferente, que não aparece nos anúncios das papas e das fraldas.
A realidade dos pais que vão para casa sem os bebés. Dos pais que vivem longe e têm de ficar na pensão ao lado do hospital semanas a fio. A realidade das mães que não podem pegar ao colo nos seus filhos.
As coisas mais simples ganham de facto outra dimensão.
Toda a nossa vida ali em suspenso em menos de 2kg de gente.

Cada pequeno passo é uma vitória. E a M. ultrapassou etapa após etapa a uma velocidade estonteante. Aprendizagens que se fazem em semanas ela fez em dias, e praticamente 1 semana depois de nascer pode finalmente ir para casa (ainda a tempo de passar 1 dia comigo).
Nesse dia pude finalmente vê-la livre de fios e máquinas, pegar-lhe ao colo, cheira-la, ouvi-la, torna-la um bocadinho mais minha.

E ela ali no berço emanava uma energia tão positiva, uma calma e uma tranquilidade que deixava transparecer que tudo ia correr bem.

Tudo ia acabar bem.

Nesse dia tive a certeza de que esta miúda estão reservadas coisas extraordinárias.

Tenho a certeza absoluta.

4 comentários:

Anónimo disse...

Tem uma certa graça teres escolhido uma fotografia dos pés...

Anónimo disse...

Já tão pequenina a superar tão grandes obstáculos. A vida sólhe pode reservar muitas vitórias!
Muito tocante este post.

Anónimo disse...

É engraçado como todas nós sentimos uma enorme energia positiva daquele ser tão pequenino e aparentemente tão indefeso...!Ela é uma verdadeira lutadora. "Si preparem" pais... e talvez avós tambem e familia toda!
Ontem pegou num martelo de brincar e o Tito disse "olha, ela tem um martelo" e.. pimba! apanhou logo uma martelada na cabeça!!Nem precisou que lhe dissessem para que servia...

mãe orgulhosa disse...

Olha o que eu me ri (e chorei) com este post e o comentário da mãe!!!! E que fofa que ela era com esta energia toda, nem estou nada mais velha por causa dela nem nada!