São o meu trauma de infância.
No primeiro dia de aulas da 1a classe a professora deu-nos o primeiro TPC - um palhacinho para pintar e depois recortar para enfeitar a sala de aula. Eram quase horas de ir para a cama quando me lembrei que tinha o palhaço para pintar.
Estava traçado o meu perfil em relação aos TPC, estudos e afins.
Durante toda a minha vida escolar, licenciatura, mestrado, até no curso de holandês, os TPC foram sempre feitos à última da hora.
Não se pode fugir ao que se é.
Essa professora da 1a classe, de quem nem me lembro do nome, faltou durante grande parte do ano lectivo, e também não devia ser assim lá grande coisa, pelo que chegámos à 2a classe bastante atrasados.
A professora da 2a classe - Helena - nova na escola e ultra profissional, teve de nos dar a 1a e 2a classes num só ano, e estivemos a andar a toque de caixa até à 4a classe.
E o que se faz quando se tem muita matéria e pouco tempo? Carrega-se nos TPC!
Não vos ocorre as carradas de TPC que levávamos para casa. Ele eram cópias e mais cópias, fichas de leitura, contas e mais contas e listas infindáveis de numeração romana. Aos fins de semana então era a loucura, e eu lá estava ao domingo à noite a completa-los a toda a pressão com um nó na barriga.
Lembro-me de uma vez, nas férias de Carnaval que eram uns míseros 3 dias que deveriam ser para brincar, ela nos fazer o enorme favor (e cheios de sorte) de nos passar TPC só como se fosse para um fim-de-semana! Ui, e a festa que foi...
O maior trauma de todos eram os trabalhos de férias.
Pois que nas férias grandes tínhamos de levar um livro de fichas e trazer feito no primeiro dia de aulas. Acham que ela depois os devolvia corrigidos? Claro que não, mas ainda assim tínhamos de o entregar completo.
Pois que esta que vos escreve, como é fácil de adivinhar, estava-se pouco marimbando para as fichas até chegar Setembro. Ora santa paciência para estar sentada a fazer fichas com tantas coisas mais interessantes para fazer - praia, brincar, ver o Agora Escolha...
E claro, com a aproximação do início das aulas lá estava a pequena Mary amarrada à secretária a fazer as fichas todas à pressão.
Quem não levava o livro completo tinha de ficar a fazê-lo durante os intervalos da manhã e da tarde. A mulher não brincava em serviço! E pronto, lá ficava eu e mais um grupinho a fazer fichas nos intervalos, porque santa paciência, nunca levei o livro todo feito até ao fim.
E parece que a estou a ouvir "se fizessem uma ficha por dia acabavam o livro a meio das férias!" - please, será possível termos conceitos tão diferentes do que são férias?? Que seca ter fazer fichas, uma por dia, durante metade das férias!
Desde então jurei a mim mesma que filhos meus nunca serão obrigados a fazer TPC nas férias.
Eu levava o livro por fazer, mas a minha mãe arranjava maneiras giras de me por a "estudar" nas férias sem eu me aperceber - a ler histórias, a brincar às professoras, a fazer a tabuada na areia molhada ao fim do dia - tudo muito mais edificante que estar sentada a fazer fichas e mais fichas.
Isto tudo porque agora tenho filhos, e com sinceridade não sei muito bem como vou lidar com os TPC.
Não quero que eles percebam esta minha aversão, mas ontem recebi 2 sms a partilhar o primeiro TPC de dois sobrinhos e a minha primeira reacção foi: Oh coitadinhos! Aposto que eles estavam todos orgulhosos com os TPC mas eu fiquei profunda e verdadeiramente CHEIA de pena deles...
E agora, terei eu paciência para andar atrás dos meus filhos "quem não faz TPC não pode brincar!"??
(não me parece...)
Resta acrescentar que o Te era igual ou pior que eu.
Ou calha deles serem uns grandes cromos ou as professoras bem podem começar a pensar nos castigos...
6 comentários:
Esse teu perfil, que também está na minha natureza mas que eu combato com todas as forças diariamente porque odeio não cumprir... pode bem ser um caso de «trabalho melhor sob pressão»! Porque é verdade que tudo me sai melhor quando a deadline se aproxima! Digamos que é um estimulante intelectual,. se tenho tempo vagueio muito...
Me too! E quantos TPC's foram copiados no intervalo antes da aula para não ser castigado. Acho que até na Faculdade isso aconteceu!!
E tb não sei como vou lidar com os meus filhos, mas acho que vão ter de os fazer... às vezes penso como os meus pais foram liberais de mais nesse campo, mas não tinham razão? acho que sim...
Enquanto aluna e professora, sempre fui muito cumpridora. Aquela mania de cumprir prazos e de despachar o que tenho para fazer o quanto antes.
Como gestora de uma turma, sempre abominei os trabalhos de casa e sempre negociei com os meus alunos do Ensino Básico que não levariam TPC's, na condição de se trabalhar muito bem em sala de aula.
Quando passei a prof. do Ensino Superior (há alguns anos), levei esta crença comigo de evitar ao máximo trabalho fora da aula. Por isso, nas minhas planificações (muito antes de Bolonha), incluo sempre aulas destinadas a acompanhá-los na realização dos trabalhos que lhes peço, sejam téoricos, sejam práticos, sejam teórico-práticos. Assim, evito aquela coisa de só um fazer e dar uma nota a 4 estudantes ou de tê-los a lerem textos que não percebem patavina e sem ninguém ali ao lado no imediato para os ajudar a esclarecer problemas de compreensão...
Devíamos estar mais lúcidos do que compete à Escola e aos Pais / Comunidade...
Tenho pena que nos estejamos a esquecer do conceito "criança", "brincar" e de todas as competências sociais em prol de um suposto conhecimento científico....
tive mm sorte!
Na verdade, depende muito da disciplina... Eu acho que a prof. de História dos meus filhos, que só tem 1h30m de aula por semana pode/deve mandar trabalhos ou eles não se lembrariam de nada na semana seguinte... O mesmo se passa com a de Inglês, que manda ouvir uns textos em casa pois em sala de aula não dá... Acho que não lhes faz mal se for assim uma ou outra coisa de vez em quando, se for demais é prejudicial... E olha, Mary, tu não acabavas mesmo os cadernos de fichas, apesar de tudo driblavas bem a prof. frenética! E ainda bem!Tenho aqui um do 3º ano com muita ficha por fazer, até já as fotocopiei para uma das minhas alunas porque os textos nessa altura eram feitos para serem lidos por crianças inteligentes, os dos manuais atuais são para débeis mentais... A miúda adorou, by the way...
o comentário "tive mm sorte" foi meu mas através do miguel, pois esqueci-me de sair da conta dele...:)
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