Como sabem, a vontade de ir não era muita.
Muitas pessoas me disseram "Que parva, eu também queria ir!", mas esquecem-se que para mim ir a Amsterdam não é ir ali a Paris nem Londres, não é uma viagem de férias, não vou conhecer uma cidade nova nem descobrir nada. Para mim voltar lá era, no fundo, um regressar "à terra", aquela que se abandonou em busca de novos desafios, ou seja é quase como aquela sensação do regresso à casa dos pais ou à escola primária.
Quando o avião aterrou chovia desalmadamente. Chuva e vento - a combinação perfeita. Que deprimente, pensei, que faço eu aqui, que ainda ontem fui embora?!
Meti-me no comboio e depois no tram para ir o De Pijp.
Tinha parado de chover. Quando dei por mim estava dentro do tram com um sorriso nos lábios sem notar.
Estava em casa...
Adoro aquela cidade. É minha. Conheço-lhe os cantos e recantos, os cheiros e os sons. Decidi sair uma paragem antes para poder passar na Museumplein, um dos meus locais preferidos, e confirmei que ali estou em casa.
Na 2ª deu-se o verdadeiro encontro com o passado.
Começou com a ida para a estação na minha bicicleta (que saudades que eu tinha! Só me apercebi quando a vi, preta e linda com os mesmos cadeados!).
Seguiu-se o encontro com o escritório...Quando me vim embora sabia que tão cedo não iria voltar, mas que um dia concerteza voltaria a Amsterdam. Ora, a Hoofddorp pensei eu que nunca mais voltava.
Para quem não conhece, Hoofddorp é uma cidade minúscula com um pólo empresarial junto à estação, onde se encontram os escritórios onde trabalhei quase dois anos. Ali não se passa nada, não há um café, um restaurante, um sítio para comer qualquer coisa, nada! Não havia nenhuma razão aparente para um dia lá voltar.
De repente, depois de uma despedida para sempre, dou por mim a fazer o trajecto que conheço como a palma da mão desde a corrida para não apanhar chuva ao cuidado para não pisar os caracóis.
Estava bastante ansiosa, devo dizer. E foi muito estranho entrar no escritório e dizer a frase que repeti dias e dias a fio: "Hi guys!", como se nada se tivesse passado.
Claro que foi bom reencontrar as pessoas. Muito bom mesmo. Mas nesse dia não pude deixar de me sentir frustrada por estar ali outra vez. Há 3 meses toda eu era sonhos e certezas, e queria ir embora e fazer aquilo que gosto, e depois acabo por dar por mim lá, e acreditem, apesar das diferenças, parecia que nunca dali tinha saído. Nas conversas ao telefone as palavras saíam sem dar por ela, e nos programas cheguei a trabalhar por instinto, parecia que as minhas mãos trabalhavam sozinhas sem eu ter de pensar em que teclas tocar para aceder a este ou aquele atalho.
Foi muito estranho... a máquina do café, as chaves de acesso às portas, o som dos passos na alcatifa, a sala do almoço, as gargalhadas, a chuva lá fora na paisagem... tudo estranhamente familiar. Muito familiar.
Fartei-me de refilar com a chuva, senti-me claramente a dar um passo atrás, mas valeu muito a pena ter ido.
Ao fim de 3 dias já me tinha conformado com o meu regresso ao passado e já me sentia mesmo mesmo em casa. Sei que de certa forma aquele também é o meu lugar, e senti que o meu espaço ainda se encontra vazio lá.
Não foi Amsterdam a abandonar-me, fui eu que a abandonei, que vim embora, que a quis ver pelas costas.
Fico contente por ter de lá voltar mais vezes - de certa forma reconciliei-me com Amsterdam.
Com a minha Amsterdam.
1 comentário:
Tal como tinha previsto, passado uns dias já estavas a curtir em Amesterdão. Que sorte!
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